Paleontólogos do Museu de Manitoba e do Museu Real de Ontário (ROM), no Canadá, descobriram resquícios de um notável predador que viveu há 506 milhões de anos nos Xistos de Burgess, um importante sítio fossilífero.

Mosura fentoni, como foi nomeado, tinha o tamanho de um dedo indicador humano, três olhos, garras espinhosas e articuladas, uma boca circular com dentes e um corpo com membranas natatórias nas laterais.

A partir do estudo de suas características, os pesquisadores concluíram que o animal fazia parte do grupo extinto dos radiodontes. Diferentemente dos demais membros dessa família, M. fentoni apresentava uma característica única: uma região corporal semelhante a um abdômen, composta por 16 segmentos na extremidade posterior.

Embora os motivos por trás dessa adaptação sejam incertos, os investigadores apontam que ela pode estar relacionada à preferência de um habitat particular ou às características comportamentais do animal. Um artigo publicado na revista Royal Society Open Science nesta quarta-feira (14) detalha a espécie por meio da avaliação de seus fósseis.

Árvore evolutiva

Com suas amplas nadadeiras próximas à região central e abdômen estreito, Mosura fentoni foi apelidado de “mariposa-do-mar” por coletores de campo, devido à sua vaga semelhança com uma mariposa. Isso, inclusive, inspirou a criação de seu nome científico, que faz referência a Mothra, um monstro gigante parecido com uma mariposa que lutou contra o Godzilla em vários filmes.

Muitos radiodontes usavam seus apêndices pareados na cabeça para capturar presas — Foto: Danielle Dufault
Muitos radiodontes usavam seus apêndices pareados na cabeça para capturar presas — Foto: Danielle Dufault

Remotamente relacionado às mariposas reais, M. fentoni pertence a um ramo muito mais profundo na árvore evolutiva. “Os radiodontes foram o primeiro grupo de artrópodes a se ramificar na árvore evolutiva, fornecendo informações importantes sobre as características ancestrais de todo o grupo”, explica Jean-Bernard Caron, coautor do estudo, em comunicado.

Para a equipe, a nova espécie enfatiza que os primeiros artrópodes já eram surpreendentemente diversos. Eles se adaptavam de forma comparável aos seus parentes mais modernos, como aranhas, caranguejos e centopeias.

Um olhar para o interior de Mosura fentoni

Vários fósseis de M. fentoni mostram detalhes da sua anatomia interna, com destaque a elementos dos seus sistemas nervoso, circulatório e digestivo. “Pouquíssimos sítios fósseis no mundo oferecem esse nível de conhecimento. Podemos ver vestígios representando feixes de nervos nos olhos que teriam participado do processamento de imagens, assim como em artrópodes vivos. Os detalhes são impressionantes”, observa Caron.

Em vez de ter artérias e veias como os seres humanos, a antiga espécie apresentava um sistema circulatório “aberto”, com seu coração bombeando sangue para grandes cavidades internas do corpo. Essas lacunas foram preservadas como manchas reflexivas que preenchem o corpo e se estendem até as abas natatórias nos fósseis.

A extraordinária preservação do Mosura fentoni significa que seu intestino, sistema circulatório, olhos e sistema nervoso podem ser vistos como manchas reflexivas no fóssil — Foto: Jean-Bernard Caron
A extraordinária preservação do Mosura fentoni significa que seu intestino, sistema circulatório, olhos e sistema nervoso podem ser vistos como manchas reflexivas no fóssil — Foto: Jean-Bernard Caron

“As lacunas bem preservadas do sistema circulatório em M. fentoni nos ajudam a interpretar características semelhantes, porém menos claras, que já vimos em outros fósseis”, acrescenta Joe Moysiuk, primeiro autor do artigo. “A preservação dessas estruturas é generalizada, confirmando a origem antiga desse tipo de sistema circulatório”.

Embora mais pesquisas sejam necessárias, os investigadores reiteram que estudar a convergência entre artrópodes antigos e atuais fornecerá percepções mais profundas sobre como esses grupos sobreviveram ao tempo. Além disso, os achados podem esclarecer aspectos sobre o próprio processo mais amplo da evolução.

(Por Arthur Almeida)