Mais um episódio lamentável aconteceu em uma partida de futebol, envolvendo torcedores e a Polícia Militar. No último sábado, enquanto Campinense e Bahia duelavam dentro de campo, pela segunda rodada da Copa do Nordeste, na parte superior da arquibancada geral do Amigão, um torcedor acabou sendo atingido no olho esquerdo por um tiro de bala de borracha, desferido por um policial que estava do lado de fora do estádio. O torcedor sofreu uma lesão no olho e passará por uma nova avaliação nesta segunda-feira, para saber se terá a visão comprometida. Já a PM afirmou que os fatos serão apurados.
Dentro do Estádio Amigão, tudo parecia acontecer dentro da normalidade. No campo de jogo, Campinense e Bahia empatavam em 0 a 0, até que uma movimentação pôde ser observada no lado da arquibancada geral.
Segundo a Polícia Militar, tudo começou quando membros de uma torcida organizada do Treze, com aproximadamente 80 pessoas, entraram em confronto com membros de uma torcida organizada do Campinense, que não entraram no estádio para acompanhar o jogo. Vale lembrar que, historicamente, há torcidas organizadas do Treze que são aliadas de torcidas organizadas do Bahia.
Quem estava assistindo ao jogo na arquibancada geral teve que se proteger por várias vezes de bombas que eram jogadas do lado de fora para dentro do estádio, por torcedores do Treze, ainda segundo informações da PM. A polícia interveio no confronto. O coronel do Corpo de Bombeiros, Carlos Jean, informou que em certo momento pedras e objetos foram arremessados contra os policiais, de dentro para fora do estádio. E, segundo ele, foi nesse momento que, para conter a ação, os PMs, que estavam fora do Amigão, passaram a atirar com balas de borracha em direção a um grupo de torcedores que estava dentro do estádio, na parte mais alta da arquibancada, olhando a confusão que acontecia lá embaixo.
Um dos vários torcedores que se debruçaram no parapeito da parte superior da arquibancada, para ver o tumulto que se desenrolava do lado de fora, era Wendel Guerra. Torcedor do Campinense, ele estava no Amigão acompanhado do seu pai e outros familiares, assistindo ao jogo. Wendel gravou um vídeo (assista abaixo), que publicou em suas redes sociais, para dar a sua versão sobre o ocorrido. Ele confirmou que se apoiou no parapeito da arquibancada para ver o que estava acontecendo fora do estádio, quando um dos policiais mirou a arma para ele e atirou. Wendel ainda disse que, vendo um vídeo que circula nas redes sociais mostrando a ação da polícia (veja acima), ele reconhece o momento em que sofreu o disparo.
— Eu estava na parte de dentro (do estádio), assistindo ao jogo com meu pai, meu primo e meu tio, quando começou uma confusão do lado de fora. Aí eu subi na arquibancada para ver o que estava acontecendo lá embaixo. Quando eu coloquei a cabeça junto dos demais torcedores que estavam lá, o policial mirou no meu rosto, sem me dar chance nenhuma de defesa. Simplesmente apontou a arma para mim e atirou — explicou Wendel.
Wendel explicou como tudo aconteceu, na tarde em que sofreu um tiro de bala de borracha, no Estádio Amigão
Wendel foi atingido no olho esquerdo. Enquanto a torcida na arquibancada pedia por atendimento médico, dentro de campo, o árbitro parou a partida até que a ambulância se dirigisse para próximo da geral, e se iniciassem os primeiros socorros. Wendel saiu na ambulância e foi encaminhado ao Hospital de Trauma de Campina Grande.
Segundo a equipe médica que atendeu o torcedor ferido, na primeira avaliação não foi possível saber se ele terá problemas futuros com sua visão, pois, devido ao inchaço no local, a avaliação não foi completa, e o diagnóstico ainda não foi fechado. Na tarde desta segunda-feira, Wendel passará por novos exames, para saber a situação do momento.
Wendel (à direita) tirou uma foto com seus familiares, momentos antes de sofrer um tiro de bala de borracha no olho esquerdo — Foto: Acervo pessoal / Wendel Guerra
No domingo, após receber alta médica, Wendel se dirigiu à Central de Polícia e registrou um Boletim de Ocorrência. Em nota, o comandante do 10º Batalhão da Polícia Militar, o coronel Francimar Vieira, informou que os fatos serão apurados. (GE)