VANESSA MORAES
Você deve conhecer alguém, um amigo ou parente adulto, que teve diagnóstico de “labirintite” ou enxaqueca, no entanto, poucos conhecem crianças com este tipo de diagnóstico. A prevalência de tontura é subestimada, assim, realmente poucas são as crianças com queixas e /ou suspeita de tontura ou vertigem, acarretando em um número escasso de diagnósticos nesta população.
Muitos fatores podem causar tontura nos pequenos e o diagnóstico precoce pode evitar complicações
Apesar de ser a segunda causa que mais leva os adultos a buscar atendimento médico, as tonturas ou vertigens também podem atingir as crianças. Por não ser um sintoma muito comum nos pequenos, pode ser motivo de ansiedade e preocupação para os pais ou responsáveis. O diagnóstico correto pode ajudar a tratar o problema.
De acordo com um estudo realizado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) a frequência dos episódios de tontura em uma criança chega em 15% quando estão em idade escolar. No entanto, essa incidência pode ser maior visto que as crianças podem ter dificuldades em reconhecer os sintomas de tontura, descrevendo esses episódios como sendo uma dor de cabeça ou dor de barriga.
Por isso, é importante que pais e educadores estejam atentos aos sinais como: mal-estar acompanhado ou não de vômito, principalmente em veículos, quedas frequentes inexplicáveis, dificuldades de aprendizagem na escola, medo exagerado de escuro ou altura e dores de cabeça frequentes. Em geral, as crianças passam a ter problemas de socialização, evitam determinadas brincadeiras e podem até ter problemas para se concentrar em um programa de televisão. Em alguns casos, podem ocorrer dificuldades em perceber o tamanho e peso de objetos e da estrutura corporal, das dimensões de objetos, da distância e da posição espacial, fazendo com que a criança derrube as coisas ou bata em pessoas e móveis, por exemplo.
Dependendo do que causa o problema, a partir de meses de vida a criança já pode sentir tontura. Adolescentes também podem ser acometidos do problema. Em ambos os casos, a tontura pode aparecer independente de problemas na audição. Até pessoas que ouvem normalmente podem desenvolver tontura.
A tontura na infância pode ser causada por inúmeros fatores, sendo comuns: inflamações de ouvido (catarro atrás do tímpano), má-alimentação, exposição prolongada a telas, traumas e até enxaqueca. Existem outros motivos que podem desencadear o quadro, como a enxaqueca vestibular, insuficiência unilateral vestibular devido à labirintite e vertigem de posicionamento. Não é incomum que crianças que sofram de tontura e também desenvolvam zumbido.
Uma dieta rica em açúcar, por exemplo, pode causar tontura. Da mesma forma que longos períodos em frente às telas e até mesmo bater a cabeça durante uma brincadeira ou queda. Todos esses fatores podem causar tonturas. Até mesmo problemas comuns como rinites, gripes e resfriados entram na lista. Por isso é importante atentar-se aos sintomas e realizar o diagnóstico correto, descartando todas as causas possíveis. A partir dos 5 anos, a criança já consegue identificar os sintomas e referir-se a eles como tontura.
Quanto mais cedo identificado o problema e sua causa, menores os prejuízos para a criança, já que os episódios frequentes de tontura podem afetar aspectos como o desenvolvimento motor, comportamento psicológico, rendimento escolar, e desenvolvimento da fala e escrita.
O diagnóstico envolve um conjunto de exames como análises clínicas e avaliações auditivas. É importante consultar um médico otorrinolaringologista e procurar um fonoaudiólogo para realizar exames como audiometria e exame otoneurológico, que vão ajudar a investigar a saúde auditiva e as possíveis causas do problema. São exames simples que vão definir a melhor conduta para tratar a tontura.
A tontura tem tratamento e resultados importantes com impacto positivo na qualidade de vida do paciente. A tontura pode ter diferentes causas e o diagnóstico vai direcionar a melhor conduta, podendo ser necessário medicamentos, mudança na dieta ou reabilitação vestibular, entre outras possibilidades de tratamento.
A reabilitação vestibular é um tratamento realizado pelo fonoaudiólogo e, quando bem indicado, costuma ser eficiente. A terapia utiliza atividades cerebrais e mecanismos de neuroplasticidade que proporcionam a capacidade de melhorar o equilíbrio e diminuir as tonturas. Trata-se de um tratamento complementar, não invasivo, baseado em manobras e exercícios físicos repetitivos de olhos, cabeça e corpo, estáticos e dinâmicos.
Ao menor sinal de que há algo errado com a criança, procure ajuda especializada. A identificação precoce do problema e a indicação correta do tratamento pode ajudar muito nos aspectos físico e emocional, comportamental e até cognitivo das crianças contribuindo no desenvolvimento de longo prazo.
Vanessa Moraes é fonoaudióloga e audiologista.
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