Em entrevista coletiva após a vitória da seleção brasileira por 1 a 0 sobre o Peru, na semifinal da Copa América, o técnico Tite destacou as adversidades enfrentadas pela equipe e exaltou o bom desempenho no primeiro tempo da partida. Tite apontou o desgaste físico da Seleção, que jogou com um atleta a menos em todo o segundo tempo contra o Chile, na última sexta-feira, e teve pouco tempo de recuperação antes de encarar o Peru.
– É uma equipe que, em menos de 72 horas, jogou 45 minutos com um jogador a menos, com desgaste físico e mental muito forte. A retomada de um padrão normal é muito difícil. Os trabalhos que executamos para o jogo também foram muito cuidadosos, e eu estou falando em aspectos físicos, também no aspecto alimentar, na fisioterapia. Toda o staff de trabalho deu a melhor condição possível de recuperação, mas ela não foi (ideal), porque jogamos com um a menos. Traduzindo em números, a equipe jogou um jogo de futebol e mais 30% de um jogo no último jogo. Ela teve 72 horas para se recuperar, e não há tempo hábil. Por que estou falando isso? Porque fez um grande primeiro tempo, poderia ter traduzido em gols, não fez, e com o passar do tempo a capacidade de enfrentamento, mobilidade se perdeu aos poucos – disse o treinador, que ainda completou:
– Ficam meus parabéns ao Paquetá, mas também a toda a equipe, que fez um grande trabalho para que nós tivéssemos o desempenho que teve. O Brasil mereceu. Poderia ter feito um placar melhor, poderia ter traduzido em gols no primeiro tempo, mas não fez.
O adversário do Brasil na final da Copa América, sábado, no Maracanã sai do duelo entre Colômbia e Argentina, que acontece nesta terça-feira, às 22h.
Questionado sobre o fato de o Brasil oscilar dentro das partidas, Tite ponderou:
– Um jogo tem duas equipes, com qualidade técnica dos dois lados, com possibilidade de substituições, porque as circunstâncias do jogo acontecerem, porque se joga em um campo nervoso. Vê no gol que o Paquetá fez o que a bola fez. Parecia um eletrocardiograma desde a condução. É por uma série de aspectos, e porque o futebol é um esporte coletivo em que você não é dominador por 90 minutos. Quando você não domina e não faz, você precisa ser consistente. Quando chega ao ponto de equilíbrio, você está mais perto de vencer. Agora não concordo com ele que a gente faz um (tempo) ruim e outro bom. Não vejo dessa forma.
Tite está invicto em jogos oficiais contra adversários sul-americanos. As únicas três derrotas, para Argentina (duas vezes) e Peru, foram em amistoso.
O treinador chegou a 60 jogos pela Seleção, com 45 vitórias, 11 derrotas e quatro derrotas, aproveitamento de 81,1%.
Veja outros trechos da entrevista coletiva de Tite:
Preferência de adversário na final
– Eu respeito muito o trabalho dos técnicos, das equipes e das seleções. A única coisa que eu disse na palestra é que a gente enfrentaria o Peru de novo. Falei com o Gareca: “De novo?” Não queria toda hora. Ele também disse. Eu coloquei na palestra que a gente não quer ganhar de ninguém, a gente quer fazer nosso trabalho e ser merecedor da nossa conquista, de chegar a uma final. O jogo foi ficando nervoso na medida em que o tempo passava e não fazia o segundo gol. No final, o desempenho traduziu que você merecia vencer? Você ficou feliz com isso? Sim! Poderia ter sido melhor? Sim! Faltou efetividade no primeiro tempo? Sim! Mas se sentir que conseguiu resultado e que foi um melhor trabalho executado em relação ao rival, é o que fortalece uma equipe. Não tenho preferência.
(Cléber Xavier, auxiliar técnico) – Quando a gente fala sobre o trabalho, o foco está na gente. Hoje vamos comemorar a classificação para a final, começar a recuperação dos atletas, começar a assistir mais Argentina e Colômbia para buscar estratégias. Temos três treinos. Vamos recuperar amanhã, temos quarta, quinta e sexta para trabalhar para a final. Assim que sempre trabalhamos. Jogo a jogo, conhecendo o adversário, independentemente de qual seja.
Queda de rendimento após o intervalo
– O jogo é feito de etapas. Você não passa 90 minutos sendo dominador, tendo domínio e controle, que são situações diferentes. Domínio você fica com a bola e cria oportunidades; controle é você não dar ao adversário oportunidades. Feito essa relação, você não fica os 90 minutos. Na maior parte do jogo, você busca isso. Quando você faz substituições em que você tem o cuidado físico… ele mudou, fez um 5-4-1 no primeiro tempo, depois fez um 4-4-2 no segundo tempo. Então também trouxe situações e apostou talvez em uma situação e desgaste nosso. O jogo estava vivo enquanto não fizéssemos o segundo gol. Essa foi a proposta nossa. Vai buscar o segundo gol, para não ficar um jogo perigoso e nervoso. Não só física, mas mental também. Há um desgaste mental muito grande. O (técnico do Uruguai, Óscar) Tabárez coloca de uma maneira muito inteligente, professoral. Ele disse que nesses jogos a gente faz uma maratona mental, e eu acho que ele conseguiu traduzir bastante o que são as pressões e os trabalhos dos jogadores e das comissões técnicas.
Ederson titular
– Temos três grandes e extraordinários goleiros. Ninguém é melhor do que ninguém. Talvez o momento possa ser determinante para a escolha, aí tem o Taffarel e o Marquinhos (auxiliar do preparador de goleiros), que são importantes nesse preparo. Estamos tranquilos em relação a isso.
(Cléber Xavier, auxiliar técnico) – Não tem mais o que dizer. Temos três grandes goleiros, sendo que dois estão em um dos melhores campeonato do mundo, que é a Premier League, ganhando prêmio de melhor goleiro do mundo no ano passado, melhor goleiro da Premier League. O Weverton fazendo um grande trabalho, indo bem na Libertadores e no Brasileiro. Os três trabalhando em altíssimo nível. A escolha para o jogo foi do Ederson, mas vamos agora descansar, analisar e trabalhar para o jogo da final.
Estratégia
– Linha de cinco não quer dizer que são cinco zagueiros. São três agueiros e dois alas. O Trauco tem essa capacidade de execução. Quando a gente planeja, a gente faz plano A e plano B, que são ajustes dentro do jogo e projeções do próprio jogo, dentro do que o adversário possa fazer. Sem modificar a nossa forma de atuar, mas fazendo ajustes dentro das características do adversário, inclusive tática.
(Cléber Xavier, auxiliar técnico) – Nós preparamos o time para uma saída deles com três, com o Tápia afundando. Mas eles vieram com três zagueiros. A gente conseguiu fazer a pressão alta, pressionar por dentro, tirar o jogo de dentro deles, que é forte. Por isso conseguiu posse, conseguiu jogar e criar chances. O Peru teve duas derrotas na Copa América, as duas para nós.
Importância pessoal do possível bicampeonato
– Não sei. Só que eu tenho uma noção exata de que é um trabalho de equipe, não é individualizado. Gosto de ter meu trabalho reconhecido, sim, mas quando ele é individualmente reconhecido, eu sei que é bala Juquinha. É adoçar a boca. Se não tiver um grande trabalho realizado pelo conjunto todo, e eu estou falando olhando para o Juninho e citando todo o staff. Estou falando do departamento médico, de recuperação dos atletas. E se não tiver comprometimento dos atletas, não tem técnico que ganhe título nenhum, que ganhe notoriedade nenhuma.
Neymar
(Cléber Xavier, auxiliar técnico) – O Neymar a gente tem comentado ultimamente que ele tem desenvolvido esse jogo no PSG, mais por dentro, que a gente chama de arco e flecha. Cria e também finaliza. É um dos principais artilheiros da história do Brasil. E a gente conseguiu achar um lugar para que ele produza, que os jogadores do lado dele produzam. Hoje ele tinha o Richarlison mais adiantado, o Paquetá ao lado dele. Subiu a qualidade do jogo dele, principalmente no primeiro tempo, onde conseguimos os espaços. A função que ele tem feito é muito interessante. A gente traz um pouco do clube para nossa realidade e estamos continuidade ao que ele está fazendo. (Globo Esporte)