Os números assustaram e ligaram o alerta. Nas últimas duas semanas, a Confederação Brasileira de Vôlei viu crescer a quantidade de infectados pelo coronavírus em meio à Superliga. Principalmente entre as mulheres. Na disputa feminina, a contagem chegou a 32 casos, com dez jogos adiados, enquanto os homens somam apenas oito: quatro de Blumenau e outros quatro de Uberlândia, divulgados nesta terça-feira. Com o protocolo de prevenção posto à prova, a organização analisa o cenário e busca alternativas para diminuir o impacto da pandemia e proteger a integridade física dos atletas.
Surto de Covid-19 entre atletas adia jogos da Superliga Feminina
Antes de a bola subir para o início da temporada, a CBV definiu um protocolo de prevenção para ser adotado durante as competições. Testes a cada 15 dias, quarentena de dez dias para quem estiver infectado, jogos adiados em caso de um alto número de jogadores contaminados, entre outros. A lista de medidas foi organizada em conjunto com clubes e especialistas. O protocolo, porém, não garantiu a imunidade dos envolvidos nas partidas.
Na avaliação da CBV, a alta de casos reflete o momento da sociedade brasileira como um todo. Após um longo período de queda, os números voltaram a aumentar no país nas últimas semanas, muito por conta do relaxamento de medidas impostas pelas autoridades. É difícil explicar, porém, por que há uma quantidade maior de casos na Superliga Feminina.
Protocolos de segurança da Superliga |
Testes a cada 15 dias; |
Partida adiada em caso de quatro jogadores ou dois levantadores infectados; |
Times não trocam de lado entre os sets; |
Uso de máscara obrigatório, com exceção dos atletas em quadra e dos técnicos. |
Materiais de higienização disponíveis em todo o ginásio; |
Quarentena de dez dias em caso de infeção. |
– Essa é uma condição que a sociedade brasileira está enfrentando como um todo. Não é uma peculiaridade do voleibol ou do voleibol feminino. Nós não temos como identificar as razões pelas quais o feminino tem um pouco mais de casos que o masculino. É muito difícil afirmar onde pode ter havido a falha, porque a contaminação pode acontecer de diversas maneiras e nós estamos trabalhando com os clubes para fazer com que o campeonato tenha continuidade – afirmou Renato D’Ávila, superintendente da CBV.
Infectologista e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo dá voz às afirmações de D’Ávila. Ainda que poucos atletas tenham adotado a máscara durante os jogos, o médico afirma que o maior risco está fora das quadras. Chebabo acredita que o contágio é mais possível de acontecer em outros momentos da preparação para as partidas, como nas viagens e nas concentrações dos times.
– O problema do vôlei – na realidade, de todos os outros esportes – é que ele (contágio) não acontece apenas durante o jogo, acontece em todas as outras atividades que são realizadas, durante o treinamento, em viagens, isso faz com que as pessoas tenham uma convivência muito grande durante a semana, não apenas durante o jogo. Às vezes relaxam um pouco porque estão todos no mesmo time, no mesmo ambiente. A tendência é que as pessoas acabem relaxando e que aconteça de outras formas, que não na partida. Mal ou bem, as pessoas estão tomando as precauções, no vôlei tem algum distanciamento, obviamente se as pessoas não estiverem se abraçando, se cumprimentando a cada ponto. Você consegue manter um certo distanciamento – afirma.
Casos em série
O primeiro grande infectado na Superliga Feminina foi o Sesc-Flamengo. O time precisou adiar três de seus primeiros jogos na competição após ter sete atletas infectadas por coronavírus. Amanda, capitã da equipe, foi uma delas. A ponteira disse ter tido dificuldades no retorno às atividades após o período de quarentena. Uma das mais experientes do elenco carioca, ela diz que o grupo se preocupa com o aumento da taxa de contágio.
– É um ano anormal, estamos vivendo situações muito difíceis. Ninguém nunca viveu isso no nosso tempo, no nosso esporte também. É uma novidade muito intensa, porque você tem de lidar com cuidados, são muitos. Tem de ser intenso, o vírus está aí, em vários ambientes. A gente sabe que o número de casos vem aumentando, de maneira geral, no Brasil inteiro. A gente sabe que tem de ter esse cuidado. Principalmente no esporte. Como lidamos com saúde, a gente precisa estar com nosso organismo bem e íntegro para conseguirmos fazer nossas atividades.
Amanda comemora ponto do Sesc-Flamengo na estreia da Superliga, antes de infecção — Foto: Divulgação
O clube mais afetado foi o Sesi-Bauru. Entre jogadoras e membros da comissão técnica, foram 14 infectados. Em contato com o ge, a diretoria da equipe preferiu se manifestar apenas através de uma nota oficial (confira no fim da matéria). Outro time com um número relevante de casos, o Osasco acredita que sairá mais forte após a recuperação. Invicto na Superliga, o Osasco jogaria contra o Praia Clube na última sexta-feira pela ponta da tabela. Os resultados positivos dos exames de Roberta, Bia, Karine e Kika, porém, fizeram o jogo ser adiado.
Elenco do Sesi-Bauru foi o mais afetado pelo aumento de número de casos de coronavírus — Foto: Divulgação/Sesi-Bauru
– Nesse momento, a importância da partida fica em segundo plano. Nós estamos lidando com vidas. É nessas horas que a gente sai um pouco da competição, de ganhar e perder, e começa a perceber que tem muita coisa além disso. Quando passar, e vai passar, porque eu sou otimista, a equipe vai ter uma recordação boa porque a gente esteve um do lado do outro, e isso em um momento de dificuldade é muito importante – disse o técnico, Luizomar de Moura.
Alguns clubes tiveram casos antes da estreia na Superliga, como o Praia Clube, que viu Fernanda Garay, uma de suas principais jogadoras, testar positivo. No masculino, o Taubaté perdeu Bruninho ainda na reta final do Campeonato Paulista, enquanto o Itapetininga teve um surto com oito jogadores infectados, ficando fora da disputa do Super Vôlei e com jogos adiados nas primeiras rodadas da Superliga.
Minas, de Thaisa e Danielle Cuttino, ainda não registrou casos de coronavírus — Foto: Orlando Bento/ Minas Tênis Clube
Em outra ponta, porém, há quem tenha passado intacto até aqui. Com times nos dois naipes da Superliga, o Minas tem conseguido evitar o contágio de seus grupos.
– A gente pode ter tido sorte. Mas a gente pode ter mais camadas de proteção nessa bolha. As atletas treinam dentro do clube e o clube tem protocolos muito rígidos de biossegurança. O frequentador do clube tem que entrar com máscara, é medida a temperatura. Uma coisa que a gente faz também é a pesquisa ativa de prováveis entradas. Então, qualquer atleta que apresentar sintoma ou coisa sugestiva, é encaminhado logo ao departamento médico – afirmou Mauro Becker Martins Vieira, diretor médico do Minas.
Calendário apertado
Em meio ao aumento de casos, há quem defenda a paralisação da Superliga. A CBV acredita, porém, que ainda não é o momento para cogitar um movimento brusco. Apesar do calendário apertado, Renato D’Ávila afirma que a entidade e os clubes já tinham separado datas para possíveis adiamentos e, por ora, há espaço para manobras.
– Nós temos falado sobre isso. Os clubes têm se reunido entre eles pra falar sobre isso. Por enquanto, tem sido possível encaixar os jogos adiados. E nós esperamos que isso continue sendo possível até que diminua o caso de infectados para que isso não abale todo o planejamento, tanto dos times quanto da nossa competição.
Renato D’avila, superintendente da CBV, no lançamento da Superliga Feminina de Vôlei 2020/2021 — Foto: Reprodução
O infectologista Alberto Chebabo afirma que o surto de casos era algo possível de prever. Segundo ele, a não ser que houvesse uma bolha como no caso da NBA, com um investimento inviável no cenário econômico atual, todos os envolvidos entraram na competição expostos aos riscos de contágio.
– A questão de continuar ou não o campeonato é uma questão delicada. Na maior parte das vezes, os protocolos são feitos para que o campeonato aconteça com a segurança possível de ser realizada. Ele não é um protocolo feito para que outras pessoas não transmitam Covid, mas que você consiga ter um mínimo de proteção para que você consiga ter jogo. Essa é uma questão que tem de ser discutida, obviamente. E todos vão estar sob risco, a partir do momento que se propõe a ter um jogo. Mas é uma questão que tem de ser discutida entre todos os participantes. Se todos concordam em assumir esse risco, o campeonato vai existir sabendo que tem o risco de se contaminar. O que não quer dizer que as pessoas não se contaminem sem ser no jogo. Mas ali, naquela atividade, como em qualquer outra atividade, elas estão expostas – afirmou.
Confira a nota do Sesi-Bauru:
“A respeito do aumento dos casos de coronavírus na Superliga Banco do Brasil 2020-2021, o SESI Vôlei Bauru e o SESI-SP expressam o seguinte:
A diretoria do SESI Vôlei Bauru e o SESI-SP enfatizam que, desde o início da pré-temporada da equipe, cumprem rigorosamente todos os protocolos sanitários estabelecidos pelas autoridades governamentais e entidades esportivas responsáveis pela organização das competições.
Entre outras medidas sanitárias protocolares adotadas, o SESI Vôlei Bauru e o SESI-SP efetuam, a cada 15 dias em todas as atletas e integrantes da comissão técnica, testes rápidos de antígeno, sorológicos e RT-PCR para detectar o contágio pelo coronavírus, além da aferição de temperatura corporal antes de todos os treinamentos, que contam também com tapetes sanitizantes, uso de máscaras pelos membros da comissão técnica e disponibilização de álcool gel para higienização.
A diretoria do SESI Vôlei Bauru e o SESI-SP entendem ser prioritário e mais importante, neste momento, prezar e cuidar da saúde e da integridade física de suas atletas e integrantes da comissão técnica contaminados pela Covid-19. Todos estão sendo monitorados pela equipe médica, permanecem em isolamento preventivo e recebem todo o suporte necessário da equipe e do SESI-SP a fim de que se recuperem plenamente e o mais breve possível”. (Globo Esporte)