A falta de umidade no solo em Mato Grosso, diante das chuvas irregulares, continua preocupando. Além do atraso na semeadura, algumas propriedades sinalizam a necessidade de replantar áreas. Fato este que, que somado ao aumento do custo, levanta outra preocupação da porteira: a disponibilidade de sementes para esta nova semeadura. Cenário que também deixa apreensivo o setor das revendas que estão com estoques de sementes baixos para atender a demanda.

A preocupação quanto a disponibilidade de sementes é o tema do episódio 110 do Patrulheiro Agro.

Agricultor em Nova Mutum, Cristiano Costa Beber comenta ter iniciado o plantio da soja 2023/24 animado. Contudo, precisou parar os trabalhos na lavoura em decorrência a falta de chuva. São cerca de 17 dias com as máquinas esperando.

“Tem planta com um palmo de altura que se vai mais uma semana [sem chuva] vai começar a morrer. Plantas que estavam bem fortes e nutridas não estão aguentando. Está secando. Já deu bastante escaldadura. Isso preocupa lá na frente quando carregar essa planta que vai produzir. Vamos ver como vai estar o caule, se vai resistir, se vai suportar a carga de soja”.

Na propriedade, segundo Cristiano Costa Beber, estão programados para essa safra 3,8 mil hectares de soja. Até agora, ele conseguiu cultivar três mil hectares e já conta com 30% da produção comercializada.

“Tem 200 hectares que vai dar replantio. Praticamente está perdido. Estamos esperando a chuva para poder voltar a replantar. Um custo alto esse ano. Ficou caro para plantar e os preços não estão ajudando muito, e agora ainda mais com replantio. Você tem que ir no mercado e se sujeitar a pegar o material que tem ainda. Preocupa quanto vai ser esse replantio e se daqui a pouco não vai faltar sementes”.

Falta de sementes de soja preocupa revendas
De acordo com o tesoureiro do Conselho Estadual das Associações das Revendas de Produtos Agropecuários de Mato Grosso (Cearpa), Marcelo Henrique da Cunha, nos últimos 15 dias a procura por sementes aumentou para fazer o replantio.

“Os estoques hoje das revendas são muito pequenos, chegando ao nível zero pegando a proporcionalidade de Mato Grosso. Existe sim um estoque, digamos de passagem, de 20% dentro das mãos das sementeiras, no qual eles estão entre precoce, média e tardia. Porém, o que tem na sementeira não são aqueles materiais propriamente dito que o produtor queira usar”.

Além da falta de materiais, o tesoureiro do Cearpa destaca que ainda tem outros impactos em meio a tudo isso: a logística, qualidade das sementes e o custo.

“Até você fazer uma carga, retirar na sementeira, é no mínimo cinco dias a uma semana. Sem falar que um custo hoje para qualquer replantio é no mínimo dez sacas por hectare”.

Atraso na entrega de insumos para tratos culturais
O risco de faltar sementes para um possível replantio de soja em Mato Grosso não é a única preocupação das revendas. O atraso na entrega dos insumos para os tratos culturais também deixa o setor em estado de alerta.

Gerente comercial da Soyagro, Rafael Felipetto Sáfadi, conta que a situação é “inédita”.

“Nós já tivemos problemas em outras safras com logística, mas como esse ano é indescritível falar. O descaso realmente da logística e a preocupação que nós estamos nesse gap do faturamento até a entrega. Até a safra passada era em torno de oito a 12 dias quando vinha de São Paulo ou mais longe, agora é para 30, 40, 45 dias de entrega”.

Rafael Felipetto Sáfadi pontua ainda que se há disponibilidade no estoque “nós efetuamos a venda, caso contrário não fazemos essa venda. A gente busca da melhor forma possível estar reposicionando os nossos produtos, fracionando a entrega, evitando qualquer tipo de problema para que os nossos produtores sempre tenham o produto na hora em que ele precisar e no momento ideal para a aplicação”.

Segundo o tesoureiro do Cearpa, quando se fala em agronegócio o volume de produto é muito grande. O que acaba por congestionar na hora da logística.

“Tem que antecipar, tem que fazer compra cedo. Embora o nosso mercado esteja muito volátil, hora está caro, hora está mais baixo, a gente não está conseguindo ter uma régua para acertar esses valores. Mas, de tudo, o produtor conseguir se antecipar, ele vai sair um pouco na frente em todas as negociações, para não chegar lá na frente e ter esses imprevistos, porque a agricultura não espera. O tempo não espera. Tem que ser na hora”, diz Marcelo Henrique Cunha.

(CANAL RURAL)