O ex-zagueiro Neto, um dos sobreviventes da tragédia aérea com a delegação da Chapecoense em 2016, voltou a criticar a postura das seguradoras da aeronave que caiu na Colômbia. Atualmente na função de superintendente de futebol da Chape, ele também é uma das pessoas mais atuantes na luta das famílias por indenizações.
Em entrevista ao jornal argentino Olé, Neto afirmou que as empresas tentam usá-los como produtos. Além disso, cobrou um posicionamento maior do governo brasileiro. Atualmente, uma CPI no Senado busca reparações financeiras para as famílias. Um processo também corre na justiça federal.
– Eu sou um sobrevivente e, como ex-jogador, porque não podia jogar, recebi um seguro que era 20% do que era devido a mim. Mas todas as famílias careciam de compensação. Por exemplo, em relação à Bolívia e Colômbia, esses países precisam se envolver. Também no Brasil, porque 90% dos passageiros eram brasileiros. Se um avião argentino cair em outro país, como a Bolívia, o governo argentino deve tomar uma posição. Agora, os senadores descobriram algumas coisas, em relação ao seguro, e acontece que não há nada e ninguém para nos ajudar – disse.
– Pelo seguro, apenas uma tentativa de ajudar. Eles nos ofereceram um fundo humanitário de US$ 225 mil, mas quem aceita deve assinar um compromisso de não processar a empresa. As pessoas precisam saber que coisas injustas acontecem conosco. E muitas pessoas no mundo não sabem disso, não pagam as famílias das vítimas. Há pessoas que não têm filhos ou pais e precisam trabalhar para comer, para pagar pelas escolas dos filhos. E o seguro falhou com eles. O senso humano do seguro é mínimo. Eles nos usam como seus produtos e nós não somos.
Neto também usou o exemplo do voo realizado pela LaMia com a seleção argentina de futebol alguns meses antes do acidente com a delegação da Chapecoense, que iria disputar a final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional-COL.
– Existe resistência da seguradora no pagamento. Os advogados dizem que deveriam ter pago. Dentro da tragédia, houve muitos erros. Não apenas erros no seguro, que não deveriam ter sido aplicados em uma aeronave viajando para a Colômbia. Não tenho como entender que ela voa com jogadores se não puder viajar para a Colômbia. Por que antes a seleção da Argentina usou a aeronave se não possuía seguro? – questionou.
Um relatório apontou que a causa da queda da aeronave foi falta de combustível. O ex-zagueiro, no entanto, vê responsabilidade dos países que permitiram a realização do voo.
-Tudo foi feito de errado. Eles descobriram que a companhia aérea não tinha pagamento do seguro e a política estava em declínio. Como passo isso? Se eles sabiam, como saiu sem seguro e sem gasolina? Por que a Bolívia permitiu que ela decolasse? Por que a Colômbia me autorizou a entrar no país se eu não tinha seguro? Houve muitos erros, além do erro do piloto ao sair sem gasolina suficiente. Eles estavam errados com os contratos de seguro, as autoridades da Bolívia e da Colômbia estavam erradas e de várias maneiras. Com esses erros, tudo o que aconteceu aconteceu.
Acidente com avião da Chapecoense completará quatro anos em novembro — Foto: ADRIANO VIZONE/FOLHAPRESS
Entenda o caso
O seguro da aeronave era de US$ 25 milhões (cerca de R$ 104 milhões), na época do acidente, mas os advogados das famílias contestam. Eles dizem que, até 2015, a apólice era de US$ 300 milhões (R$ 1,24 bilhão) e, a partir de 2016, mesmo com o risco ampliado por passar a transportar atletas de clubes de futebol, a apólice caiu de valor.
Os advogados das famílias dizem que a Aon é responsável pela avaliação de risco de seguros e que tinha conhecimento que a aeronave sobrevoaria áreas de risco, como a Colômbia. Para não fazer o pagamento da indenização, a empresa de seguro alega que a apólice não estava paga, porém, segundo os advogados das famílias, não houve uma comunicação sobre o não pagamento da apólice às autoridades locais, o que impediria o voo.
Embora se recusem a pagar o seguro, duas empresas – Tokio Marine Kiln, seguradora nascida no Japão, e a boliviana Bisa – fazem parte de um fundo humanitário que ofereceu um repasse de dinheiro às famílias das vítimas. Elas ofereceram cerca de R$ 935 mil para cada uma. Em troca, os beneficiários teriam de desistir das ações na Justiça. Ao todo, 23 famílias toparam o acordo. E 48, não.
As pessoas que organizam o protesto em Londres calculam que o valor devido pela Aon, Tokio Marine Kiln e Bisa varia entre US$ 4 milhões e US$ 5 milhões (de R$ 16 milhões a R$ 20,8 milhões) para cada família. (Globo Esporte)