Conhecido por sua língua afiada e defesa da saúde pública de qualidade, o diretor de Comunicação do Sindicato dos Médicos do Estado de Mato Grosso (Sindimed-MT), médico e jornalista Adeildo Martins Lucena Filho, cobra concurso público para o novo Hospital e Pronto Socorro Municipal e elogia a decisão de estadualizar o Hospital Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá..

Lucena Filho defende a atualização do Plano de Cargos e Carreiras a Prefeitura de Cuiabá, para a classe médica. “O médico, quando se aposenta, não receberá mais benefícios. Depois de 35 anos de trabalho, receberá em torno de 40% do que ele ganha, hoje. Portanto, existe uma proposta da própria gestão e estamos tentando retomar esse debate”, pontuou ele, numa cobrança ao prefeito Emanuel Pinheiro (MDB).

O diretor do Sindimed avaliou como positiva a decisão do governador Mauro Mendes (DEM) de assumir a gestão da Santa Casa de Cuiabá, que até 2018 era administrada por instituição filantrópica.

“Acho que a ideia de assumir a Santa Casa e transformá-la numa unidade hospitalar gerida pelo Estado foi muito boa. Cuiabá, até então, não tinha um hospital gerido pelo Estado. Mas este governo ainda teve pouco tempo para promover mudanças estruturantes na gestão”, sintetizou Adeildo Lucena.

Afinal, o médico quando se aposenta não receberá  benefícios. Depois de 35 anos de trabalho, receberá em torno de 40% do que ele ganha hoje

Cuiabano News –  Como o senhor avalia a gestão da saúde em Cuiabá?

Adeildo Martins Lucena – O prefeito Emanuel Pinheiro tinha intenção de acertar na saúde, quando escolheu para comandar a pasta a servidora Ellizeth Araújo. Mas, infelizmente, outros interesses sobrepujaram a boa vontade. Depois disso, uma série de problemas aconteceu, inclusive envolvendo a Justiça. Portanto, avalio a gestão como muito ruim.

 

Cuiabano News – O médico servidor de Cuiabá vem lutando há algum tempo por ajustes em seu PCCV. A categoria conseguiu avançar nesta pauta?

Adeildo Martins Lucena – É necessário que se tire os penduricalhos, como o Prêmio Saúde, e incorporar isso ao salário. Afinal, o médico quando se aposenta não receberá mais esses benefícios. Depois de 35 anos de trabalho, receberá em torno de 40% do que ele ganha hoje. Portanto, existe uma proposta da própria gestão. Estamos tentando retomar esse assunto, mas parece que não há qualquer intenção por parte da Prefeitura.

 

Cuiabano News – Como analisam o escândalo na saúde ocorrido na atual gestão?

Adeildo Martins Lucena – Infelizmente a troca da Elizeth pelo Huark Douglas Correa não parece ter sido uma boa opção. Não estamos julgando as pessoas. Mas é evidente que iremos acompanhar o desenrolar dos acontecimentos, que estão sendo apurados pelo Ministério Público do Estado. E pior é que existem outras empresas como as envolvidas no suposto esquema de desvio de recursos da saúde que ainda continuam por aí, atuando em contratos públicos. É um absurdo uma empresa dessas ganhar R$ 1.700,00 para um plantão de 12h e pagar R$ 900,00 ao médico.

Constituição Federal diz que é preciso realizar concurso público. E isso inclui a gestão do Hospital Municipal de Cuiabá.

 

Cuiabano News – Consideram o modelo de gestão do novo Pronto-Socorro bom? Apoiam a ideia da Empresa Cuiabana de Saúde Pública?

Adeildo Martins Lucena – Nós respeitamos a Constituição Federal. É preciso realizar concurso público. E, por isso, não concordamos com o modelo de contratação e gestão do Hospital Municipal de Cuiabá. Não conseguimos entender como a Prefeitura não consegue cumprir com seu papel. O prefeito precisa assumir seu papel. Terceirizar a responsabilidade dá margem para equívocos do passado, como aconteceu com as Organizações Sociais. É claro que a medida atende alguns interesses privados. Esse problema vai eclodir mais cedo ou mais tarde. E quem paga o pato, claro, é sempre a população que necessita do atendimento público.

 

Cuiabano News – Como avaliam a inauguração do HMC? Qual o impacto na saúde de Cuiabá e região?

Adeildo Martins Lucena – Não sei como a Prefeitura manterá o HMC e o antigo Hospital e Pronto-Socorro Municipal de Cuiabá funcionando ao mesmo tempo. Se nem o atual eles dão conta de tocar direito. Faltam insumos, medicamentos e equipamentos. Faltam médicos nas Unidades de Terapia Intensiva. Tem médico que não tira férias há três anos, pois não consegue se ausentar por falta de substituto. Construir prédio não é difícil. Difícil é manter. Claro que torcemos para que dê certo. Mas a realidade já demonstra que não deverá ser diferente.

 

Cuiabano News – E a gestão dos hospitais universitários por meio da Ebserh é boa?

Adeildo Martins Lucena – Esse é um problema bastante extenso. Conseguimos recentemente com que os médicos dos hospitais universitários recebam insalubridade. Isso se estende a outras categorias também. Vejo que a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares é mais uma forma de driblar a legislação trabalhista, assim como a Empresa Cuiabana de Saúde Pública.

Ideia de assumir a Santa Casa de Cuiabá e transformá-la numa unidade hospitalar gerida pelo Estado foi muito boa

Cuiabano News – A gestão da saúde do Estado, vai bem? Se não, o que é preciso para melhorar?

Adeildo Martins Lucena – Acho que a ideia de assumir a Santa Casa e transformá-la numa unidade hospitalar gerida pelo Estado foi muito boa. Cuiabá, até então, não tinha um hospital gerido pelo Estado. Mas este governo ainda teve pouco tempo para promover mudanças estruturantes na gestão. Há 18 anos o Estado não realiza concurso público para contratação de médicos. Falta diálogo da gestão atual com a categoria. Esperamos mais proximidade.

 

Cuiabano News – E a RGA de Cuiabá, começou a ser paga?

Adeildo Martins Lucena – Na época do então prefeito de Cuiabá, Chico Galindo, fizemos um acordo bom. Mas, em vez de conquistarmos um aumento real nos nossos salários, decidiram criar a Reposição Geral Anual. E isso não vem sendo cumprido. Por isso, tivemos que entrar na Justiça para poder receber. E ganhamos. A gestão atual vem pagando os reajustes atuais. E o que ficou pra trás, embutiu no reajuste que foi concedido a todos os servidores.

 

Cuiabano News – E como andam as negociações com a Prefeitura de Várzea Grande? RGA, piso e concurso público.

Adeildo Martins Lucena – Chamaram os concursados, o que é positivo. A Prefeitura também concedeu reajuste. Conseguimos alguns avanços para a categoria. Ainda enfrentamos dificuldades no diálogo. Mas a saúde pública de Várzea Grande, de modo geral, também vai mal, assim como em Cuiabá e no Estado.

 

Cuiabano News – O que o senhor acha do revalida?

Adeildo Martins Lucena – Não tem como não fazer o revalida. O médico que estuda no exterior e pretende atuar no Brasil, precisa fazer uma prova de habilitação. Eu ainda penso que seria interessante um exame como dos advogados, para os médicos brasileiros, a fim de elevar a qualidade dos profissionais. Para se ter uma ideia, em Pedro Juan Cabaleiro, na fronteira do Brasil com o Paraguai, existem 17 faculdades de medicina. De R$ 300,00 a R$ 2.000,00. Tem para todos os bolsos. Tem colegas que não sabem nem escrever direito. Portanto, precisamos avaliar a qualidade da formação profissional e o mercantilismo que isso se tornou. Imagina se a proposta de que as faculdades privadas façam a prova de revalidação? Isso nos preocupa!

(*Luiz Hugo Fernandes)