LUIZ HENRIQUE LIMA

“Há um tempo em que o silêncio é traição.” Escolhi essa frase de Martin Luther King como epígrafe de um dos meus livros, primorosamente editado pela Entrelinhas, de Cuiabá, conduzida pela querida Maria Teresa, lutadora pela cultura mato-grossense.“Há um tempo em que o silêncio é traição.” Escolhi essa frase de Martin Luther King como epígrafe de um dos meus livros, primorosamente editado pela Entrelinhas, de Cuiabá, conduzida pela querida Maria Teresa, lutadora pela cultura mato-grossense.

Luther King se referia ao debate sobre a guerra do Vietnã, que começava a dividir a juventude dos Estados Unidos em meados dos anos 60. Muitos lhe aconselhavam – e outros tantos lhe ameaçavam – a não se pronunciar contra a escalada bélica na Indochina, que terminou vitimando centenas de milhares de humanos e culminou na derrota militar e política da superpotência. Diziam-lhe que, como líder religioso, não deveria se imiscuir naquela questão, devendo priorizar exclusivamente os temas de direitos civis para os negros e marginalizados.

Luther King estava certo. Naquelas circunstâncias, o silêncio era traição, omissão, covardia e cumplicidade.

Em outras circunstâncias, ao contrário, o silêncio pode ser compaixão e caridade.

Em certos momentos, manter-se silente é inteligente e é prudente. Em ocasião diversa, pode denotar ignorância ou estupidez, ambição e/ou oportunismo.

O silêncio pode absolver ou pode condenar. Pode demonstrar desprezo ou admiração. Pode ser concordância ou negativa.

Os silêncios são eloquentes. É preciso saber ouvi-los e tentar compreendê-los.

Quem, numa reunião de diretoria, silencia diante de uma injustiça ou de uma proposta indecorosa? Quem, num encontro social, silencia diante de uma “brincadeira” racista, misógina, homofóbica? Quem, numa reunião ministerial, silencia ante a preparação de um golpe de estado?

Recentemente, assisti ao filme Conspiração que trata dos bastidores da infame Conferência de Wannsee em 1942, na qual dirigentes nazistas decidiram promover o extermínio deliberado de todos os judeus residentes nos territórios que ocupavam. Nas muitas horas de discussão, houve alguns que permaneceram em desconfortável silêncio. Por cumplicidade, comodismo, carreirismo ou por medo, não se atreveram a discordar de um dos maiores crimes contra a humanidade que ali estava sendo gestado.

E quantos hoje também silenciam diante de flagrantes violações de direitos humanos perpetradas por governos das mais diversas colorações ideológicas? E que dizer daqueles que silenciam diante do desmonte da legislação ambiental exatamente quando o planeta mais demonstra que foi ultrapassada a capacidade de suporte de ecossistemas tão frágeis quanto estratégicos?

O silêncio é de ouro, reza o dito popular, porém o ouro não compra uma vaga no céu, como sublinhou outro Martinho Lutero, no caso, o líder da reforma, que denunciou a venda das indulgências e se insurgiu contra dogmas e vícios que contaminaram a mensagem do Cristo.

Falar ou calar. Ação ou omissão. Toda opção tem custos e consequências. A pessoa de bem decide com base em princípios e o maior deles é não fazer aos outros o que não queremos que façam a nós.

(*) LUIZ HENRIQUE DE LIMA é conselheiro de administração certificado e professor.

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