A Seleção fecha a data Fifa de outubro com saldo positivo em termos de resultado e, em certa medida, também de desempenho. Além de obter duas vitórias que lhe aproximam da classificação para a Copa do Mundo de 2026 e aliviam a pressão sobre Dorival Júnior, o Brasil apresentou melhora na qualidade de seu jogo, embora ainda haja questões a resolver e um longo caminho a percorrer até atingir o nível esperado pela crítica e a torcida. A análise é de Bruno Cassucci. Confira:

Se nos 2 a 1 sobre o Chile houve pouco a comemorar, além da resiliência e força mental da equipe para buscar uma virada fora de casa, a goleada por 4 a 0 sobre o Peru, no Mané Garrincha, trouxe mais boas notícias.

A começar por alguns destaques individuais:

  • Embora reserva nas duas partidas, Luiz Henrique aproveitou muitíssimo bem o tempo que teve e brilhou com mais um gol, uma assistência e boas jogadas;
  • Igor Jesus não marcou dessa vez, mas cumpriu papel tático importante e se consolidou como candidato à camisa 9;
  • Raphinha assumiu protagonismo e mostrou que pode repetir na Seleção o posicionamento mais centralizado no qual vem brilhando pelo Barcelona;
  • Abner pareceu não sentir o peso do início na Seleção, foi seguro na defesa e ainda mostrou ser alternativa ofensiva numa posição em que o Brasil sofre para encontrar seu titular;
  • Titular pela primeira vez neste ciclo de Copa, Gerson fez talvez sua melhor atuação com a amarelinha e entrou de vez na briga por vaga no time.

O placar final contra o Peru é mais condizente com o que se viu no segundo do que no primeiro tempo. Contra um adversário disposto a praticamente apenas se defender, postado num 5-4-1, o Brasil voltou a enfrentar dificuldades para se aproximar do gol adversário.

Havia circulação de bola, mas não numa velocidade suficiente para quebrar a retranca adversária.

Dorival apostou em um lateral de características mais ofensivas pelo lado direito, com a entrada de Vanderson no lugar de Danilo, mas a alteração surtiu pouco efeito, uma vez que o jovem repetia quase o mesmo posicionamento do veterano. Ele ficava próximo dos zagueiros para iniciar as jogadas e fazia poucas ultrapassagens para dar opção de passe ou abrir caminho à Savinho.

Esta é uma das questões que Dorival terá que resolver daqui a algumas semanas, quando a Seleção voltará a se reunir para os últimos jogos de 2024, em novembro, contra Venezuela e Uruguai. De nada adianta ter um lateral com características mais ofensivas e limitá-lo a funções defensivas. Se a comissão técnica busca maior proteção por aquele lado, então Danilo ainda desponta como a melhor opção.

Mesmo assim, o Brasil conseguia criar pela direita, fruto do estilo agressivo de Savinho, que tentava acelerar o jogo sempre que tinha a posse – mesmo que isso lhe custasse algumas perdas de bola ou rendesse tomadas de decisões erradas.

Já pelo outro lado, Abner é quem alargava o campo, posicionado perto da linha, enquanto Rodrygo caía mais por dentro para se associar a Igor Jesus e Raphinha.

A partida começou a mudar de figura a partir do gol de pênalti aos 37. Menos ansioso para marcar e diante de um adversário obrigado a se expor mais, o Brasil passou a encontrar espaços que até então era escassos.

A maior prova disso é que o segundo pênalti surge de um contra-ataque, algo inimaginável até então.

O Brasil cresceu de produção na etapa final, ainda mais depois das entradas de Luiz Henrique e Andreas Pereira, que renovaram o fôlego e agregaram qualidade no setor ofensivo.

Porém, é de se imaginar que até o fim das Eliminatórias a Seleção se depare mais vezes com o cenário do primeiro tempo: adversários retrancados e aquele jogo de paciência no qual é preciso mover a bola e os jogadores com velocidade até abrir brechas nas defesas rivais.

Nestas condições o Brasil ainda mostra dificuldades. Foi assim, inclusive, diante dos dois piores colocados nas Eliminatórias nesta data Fifa.

Uma outra questão a resolver, esta bem mais agradável a Dorival, é como encaixar o setor ofensivo quando os principais jogadores estiverem à disposição. Quando voltar, Neymar deve seguir como um armador, não mais um ponta esquerda. Neste cenário, quem sai para a entrada dele? Rodrygo, artilheiro e um dos principais jogadores neste ciclo de Copa, será barrado para que Vini Júnior seja titular?

O meio de campo funcionou melhor com uma formação mais “leve” e menos marcadora, mas será possível jogar assim diante de adversários mais fortes?

Dorival ainda tem muitos desafios pela frente, mas os bons resultados nesta data Fifa de outubro trazem maior tranquilidade para o técnico buscar soluções. (GE/Bruno Cassucci)