Um segurança que atuava como atraía pessoas com passagens criminais para ser mortas por um grupo de extermínio composto por policiais militares alvos da Operação Simulacrum, deflagrada na semana passada pela Polícia Civil de Mato Grosso e Ministério Público Estadual (MPE), disse à Justiça que recebeu diferentes tipos de vantagens em troca, como passagens para o Rio de Janeiro e uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH) para a mulher dele. Ele delatou o esquema.
Ele contou que tinha a função de passar informações de locais fáceis e lucrativos para a prática de assaltos, porém, os indivíduos cooptados eram interceptados e mortos por policiais.
Os PMs alegavam que tinham recebido informações anônimas sobre os supostos assaltos e, com isso, planejaram a abordagem e entraram em “confronto” com os criminosos, agindo em legítima defesa.
Um dos membros do grupo, que foi preso na Bahia, era cunhado dele e pertencia a uma facção criminosa, segundo ele disse em depoimento ao Ministério Público Estadual (MPE). Trata-se de Wesley de Matos Moreira, que também era responsável por selecionar as vítimas. O g1 tenta localizar a defesa dele.
“As vítimas cooptadas eram suspeitos de praticar furtos em supermercados do Bairro Jardim Vitória, região onde a segurança privada estava a cargo do pai de Wesley”, diz o documento.
O segurança, que se tornou informante e ajudou nas investigações, disse que ele e Wesley tinham prestado serviços de segurança privada nesses supermercados.
Já Wesley teria ganhado um carro, um Fox, de cor prata, como forma de gratificação por ter cooptado as vítimas.
Em um dos crimes, o segurança informou que estava de “batedor” em um Gol, de cor preta, e combinou com outros comparsas de se encontrarem no Bairro Jardim Vitória, que fica na saída de Cuiabá, sentido Chapada dos Guimarães.
Para atrair as vítimas, ele falou que tinha uma chácara ‘mamão com açúcar’ para eles roubarem e que no local havia dinheiro, ouro e armas, “coisas que a gurizada gosta”. Eles saíram em comboio, sentido à região do Rodoanel, em Cuiabá, em viaturas descaracterizadas.
O segurança, que se tornou testemunhas, disse que a todo momento estava em ligação, no viva voz, com os policiais. Em determinado momento, ele diz que acelerou o carro, passando pelas viaturas, e seguiu. “Apenas no dia seguinte ficou sabendo que os três envolvidos tinham sido ‘trincados’, ou seja, mortos”.
De acordo com as informações fornecidas por ele ao MPE, “os policiais forjavam tais ocorrências policiais para obter elogios em suas fichas funcionais, conseguindo, assim, promoção na instituição. Ademais, essas ocorrências valorizavam os batalhões, bem como ganhavam notoriedade na mídia.”.
‘Operação Simulacrum’ prendeu 63 pessoas — Foto: TV Centro América
Operação Simulacrum
Ao todo, 63 policiais foram presos na Operação Simulacrum, deflagrada na quinta-feira (31) e soltos dois dias depois. Os supostos confrontos entre a PM e criminosos ocorreram durante três anos.
Segundo o MPE e a Polícia Judiciária Civil, foram cometidos 24 assassinatos com características evidentes de execução, além de outras quatro tentativas de homicídio.
Na decisão que mandou prender os policiais, consta trecho do depoimento da testemunha que diz que as vítimas eram pessoas com diversas passagens ou sem passagem pela polícia e que eram atraídas para emboscada.
Defesa
Em nota, a Polícia Militar de Mato Grsoso informou que não concorda com eventuais desvios de conduta dos policiais alvos da operação, mas alega que eles “possuem boa reputação institucional e relevantes serviços prestados à sociedade mato-grossense”.
A Associação dos Sargentos, Subtenentes e Oficiais Administrativo e Especialista da Polícia Militar e Bombeiros Militar Ativos e Inativos (Assoade), que defende os policiais, afirmou que ainda não teve acesso aos autos. Destacou que os militares estavam em serviço e considera que as prisões foram prematuras.