Com objetivo de enfrentar a realidade hiperendêmica de hanseníase em que Mato Grosso se encontra, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT) capacitou, entre agosto e dezembro de 2019, 480 profissionais da saúde de 36 municípios mato-grossenses. Em 2018, Mato Grosso registrou 4,7 mil casos da doença.
A proposta da capacitação, que terá continuidade em 2020 e alcançará as 16 regiões de saúde do Estado, é qualificar os profissionais para o diagnóstico precoce e enfrentamento da doença, além de combater o preconceito e a falta de informação em torno da enfermidade, conforme prevê o Plano Estadual Estratégico de Enfrentamento da Hanseníase.
Defensor do Plano, o secretário estadual de Saúde, Gilberto Figueiredo, acredita que Mato Grosso faz um grande esforço junto à atenção primária para alcance das metas deliberadas no documento. “Os objetivos vão ser atingidos por meio de um trabalho conjunto e efetivo de qualificação das equipes de saúde que atuam na ponta, no enfrentamento à doença”, avalia.
Para a coordenadora de Atenção às Doenças Crônicas, Ana Carolina Landgraf, a mensagem que fica após cada curso é o cuidado com as pessoas acometidas pela hanseníase e seus familiares que, segundo ela, necessitam de uma abordagem para além de protocolos e diretrizes ministeriais.
“Precisamos atuar com foco no cuidado das pessoas, saber compreender os seus modos de viver, as suas condições de vida, os aspectos sociais e culturais que permeiam este processo e que dificultam o acesso ao diagnóstico precoce da hanseníase e o tratamento concluído com êxito. Somente assim conseguiremos desmistificar preconceitos, mitos e tabus que ainda estão fortemente associados à doença e que dificultam o tratamento”, pontua Ana Carolina.
As capacitações
Foram realizadas, a partir do segundo semestre deste ano, quatro capacitações em parceria com o Instituto Alliance Against Leprosy, o Instituto Lauro de Souza Lima, a Escola de Saúde Pública do Estado e as Secretarias Municipais de Saúde. Os municípios que sediaram os cursos foram Juína, Peixoto de Azevedo, Tangará da Serra e Rondonópolis.
Participaram do curso médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêutico-bioquímicos, odontólogos, técnicos da atenção primária, representantes dos ambulatórios de atenção especializada em hanseníase, de unidades prisionais, entre outros profissionais de saúde.
Durante o curso, os profissionais tiveram aulas práticas e teóricas de epidemiologia, diagnóstico e assistência. As aulas práticas ocorreram em unidades de saúde e viabilizaram o exame físico de 249 pessoas acometidas pela hanseníase ou com diagnóstico não conclusivo.
De acordo com autora do projeto das capacitações e técnica do Programa Estadual de Hanseníase, Rejane Finotti, as capacitações surgiram para atender a demanda dos municípios, já que grande parte deles alegavam dificuldades no diagnóstico e manejo clínico da hanseníase pela atenção primária.
“Existia uma grande dificuldade da Escola de Saúde Pública em executar o pagamento de horas aulas para o professor do curso e, neste aspecto, houve a busca das parcerias. Foi então que, a partir daí, a Coordenadoria de Vigilância Epidemiológica juntamente com a Coordenadoria de Atenção às Doenças Crônicas da SES fizeram o encaminhamento do projeto de capacitação à Escola, que assumiu a certificação e [o diálogo com] os parceiros para o pagamento das horas aulas”, explica Rejane.
Os parceiros
A Alliance Against Leprosy – em português “Instituto Aliança Contra a Hanseníase” – é uma associação civil sem fins lucrativos, com atuação em pesquisa, educação e filantropia na área de hanseníase, com sede Curitiba (PR). Já o Instituto Lauro de Souza Lima presta um serviço de referência em dermatologia geral para a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo; a Organização Mundial da Saúde (OMS) também o considera uma referência no tratamento da doença, sobretudo na América Latina e em países de língua portuguesa.
O professor que ministra o curso, Jaison Barreto, é cedido pelo Instituto Lauro de Souza Lima, instituição em que trabalha. A SES-MT custeia as despesas com passagem e estadia do palestrante e também dos demais profissionais da Secretaria envolvidos na capacitação. Já o Instituto Aliança Contra a Hanseníase custeia o pagamento das horas aulas do professor, enquanto a Escola de Saúde Pública é a responsável pela certificação do curso. Os municípios mato-grossenses custeiam as despesas dos seus profissionais participantes.
Sobre a hanseníase
A hanseníase é uma doença crônica infecciosa causada pela bactéria mycobacterium leprae, que se multiplica lentamente e pode levar de cinco a dez anos para emitir os primeiros sinais e sintomas. A doença afeta principalmente os nervos periféricos e está associada às lesões na pele, como manchas esbranquiçadas ou avermelhadas, ressecamento e perda de sensibilidade.