As boas notícias são que a liberação de verbas vai permitir às famílias de baixa renda consumir no fim do ano, além de ajudar a quitar parte das dívidas de muita gente, e assim reduzir a inadimplência nacional. Em novembro, ela caiu 0,27% na comparação com o mesmo período de 2018, de acordo com dados da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil). É a primeira vez em mais de dois anos que o indicador apresenta um recuo.
A mesma pesquisa mostra que R$ 998 fazem, sim, diferença na vida dos inadimplentes. Em cada dez consumidores que terminaram o mês de novembro com o CPF sujo, quatro (37%) devem até R$ 500. A maioria (53%) tem pendências que não passam de R$ 1.000.
Desconfiados
“Essa liberação de verbas agora vai beneficiar uma faixa de renda baixa, que tem se mostrado mais pessimista com a economia”, diz a coordenadora da FGV-IBRE, Viviane Seda Bittencourt. A explicação para a desconfiança de quem tem menos dinheiro é fácil de entender: é a classe que mais sofre com a limitação orçamentária e o desemprego.
“Essas pessoas vão pagar suas dívidas e podem também se animar a consumir”, acrescenta Viviane.
Para ela, esse valor a mais na economia nacional, no entanto, apesar de impulsionar o consumo em dezembro, terá impacto pequeno em curto prazo. “O que pode ocorrer é elevar a confiança de boa parte da população para o início do ano que vem, e isso é positivo para toda a economia.”
Segundo levantamento da FGV, feito em agosto, 71,9% dos trabalhadores que ganham até R$ 2.100 por mês (80% dos brasileiros) pretendiam pagar os carnês atrasados com o dinheiro liberado do FGTS.
Para o financista Fabrizio Gueratto, do Canal 1Bilhão Educação Financeira, se a pessoa não estiver com atrasos, vale a pena se questionar se vale mesmo a pena sacar o fundo de garantia. “O FGTS hoje é um dos melhores investimentos de renda fixa do país, rendendo mais de 6% ao ano, líquido.”
Falsa sensação de riqueza
O risco é o de não priorizar a conta certa e sair gastando no período de maior apelo consumista do ano. Segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas), 70% das compras nesses estabelecimentos acontecem nas últimas duas semanas de dezembro, com Natal e Réveillon puxando o mês em que os comerciantes mais faturam.
A previsão da Confederação Nacional do Comércio (CNC) é que as famílias deixem nos super e hipermercados cerca de R$ 500, em média. Destes, R$ 270 se destinam a alimentos e bebidas, para presentes ou principalmente para a ceia natalina.
“Em dezembro, aumenta a falsa sensação de riqueza. As pessoas recebem o décimo-terceiro, outras conseguem um dinheirinho em um emprego temporário e agora ainda surge a antecipação do FGTS”, diz a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.
Ela diz que é inevitável a empolgação para o consumo no mês de dezembro com esse saldo que foge do padrão do restante do ano. “O ideial é que o consumidor faça todas as contas, do quanto ele vai precisar para pagar prestações e dívidas, para só depois disso decidir comprar”, sugere.
Marcela recorda que após o consumismo desenfreado de dezembro vem o início do ano e suas contas fixas: matrícula escolar, uniformes e materiais para os filhos e impostos como IPTU, da casa, e IPVA, dos veículos.
O economista da Apas, Thiago Berka, projeta que a antecipação de todos os recursos do FGTS deve aumentar entre 0,5% e 0,6% o faturamento dos supermercadistas em 2019. “Percentualmente, pode parecer pouco, mas representa alguns milhões de reais em vendas”, diz. “E a liberação desses R$ 498 a mais, neste momento do ano, é sem dúvida, algo a comemorar.”