Há por aí uma grande profusão de cursos de oratória. Alguns de reconhecidos profissionais que cobram bem caro; outros de notórios picaretas que não passam de caça-níqueis. Há cursos de oratória para políticos, empresários, pastores, vendedores, professores, entre outros. Tais cursos prometem fazer o aluno se expressar melhor em público, cativar audiências, persuadir plateias, conquistar clientes e alcançar sucesso.

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Há até micro-especializações, como treinamentos para falar perante júris ou para jornalistas, em mensagens para redes sociais ou em provas orais de concursos públicos.

Todos só querem saber de falar melhor, com voz empostada e tom afinado. Falar mais tempo e mais alto. De preferência, falar sozinho ou, pelo menos, falar por último.

O que me surpreende é que quase não se ofereçam cursos de escutatória. Aliás, essa palavra, que significa a arte de ouvir, sequer existia, até que foi inventada por Rubem Alves, numa de suas belíssimas crônicas.

Sim, porque saber ouvir é tão importante – ou às vezes mais – quanto saber falar.

No entanto, quase todos só se interessam por falar e muito poucos por ouvir.

Quem não sabe ouvir não tem condições de liderar.

Líderes sábios ouvem seus conselheiros antes de decidir. Líderes populares autênticos procuram ouvir o povo a que desejam servir. Líderes efetivos ouvem diversas alternativas na busca da melhor opção. Líderes espirituais ouvem a voz da consciência.

 

Líderes medíocres não gostam de ouvir aqueles que são mais qualificados. Líderes vaidosos não aceitam ouvir críticas. Líderes autoritários não admitem ouvir opiniões divergentes. Líderes autossuficientes somente conseguem ouvir a própria voz. Líderes desequilibrados são incapazes de ouvir a voz da razão.

Além dos líderes, as instituições, especialmente as públicas, também deveriam aprender a ouvir. Ouvir seus clientes, seus colaboradores e principalmente a sociedade, pois é no interesse público que reside a razão de sua própria existência. Assim como as pessoas, convencer uma instituição pública a aprender a ouvir é difícil, mas não impossível.

Quem aprende a ouvir depois aprende muito mais, simplesmente ouvindo.

Quem aprende a ouvir aprende a saber o que ouvir, a quem ouvir, quando ouvir e como ouvir. Quem aprende a ouvir aprende a distinguir o fato da fofoca, a informação do preconceito, o argumento da falácia e a precisão do exagero.

Quem aprende a ouvir ouve até o que não é dito, mas precisa ser compreendido. Quem aprende a ouvir se acostuma a falar menos, mas o que fala costuma ser mais útil.

O exercício de ouvir desenvolve inúmeros aspectos da inteligência humana e amplifica a empatia com o próximo e a possibilidade de resolução de conflitos.

Se todos aprendessem a ouvir, viveríamos numa sociedade menos ruidosa e redundante e, certamente, mais venturosa e pacífica.

*LUIZ HENRIQUE LIMA  é Conselheiro Substituto e vice-presidente interino do Tribunal de Contas de Mato Grosso (TCE-MT)

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