Quando vivia na região onde nasceu há quase 50 anos, perto da Baía de Chacororé, o pescador pantaneiro Sebastião Roque de Souza não imaginava que a vida o levaria para longe do que era o seu lar entre as intempéries das cheias e secas do Pantanal. Hoje, ele e a esposa moram na comunidade Barranco Alto, no município de Santo Antônio de Leverger, e se revezam para cuidar dos pais de Sebastião, dona Maria Nunes e seu Claro de Souza, ambos tiveram acidentes vasculares cerebrais (AVC) e convivem com as dificuldades de locomoção. A família foi uma das atendidas pelo projeto Ribeirinho Cidadão, do Poder Judiciário em parceria com a Defensoria Pública.
Na manhã de terça-feira (26), após procurarem orientação da equipe que estava atendendo no local, a família foi visitada pelo juiz-coordenador da Justiça Comunitária, José Antônio Bezerra, e pelo promotor Henrique Schneider, que se depararam com uma situação desoladora.
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Acontece que o casal de idosos além dos cuidados que seriam comuns pela idade avançada depende do filho para sua subsistência. O pai vive acamado e precisa usar fraldas geriátricas, além de acompanhamento médico constante. Apesar de ter outros nove irmãos, apenas Sebastião se desdobra para manter o sustento da família e dos pais. Tudo isso somente com a pesca que pode fazer nos poucos metros de margem do Rio Cuiabá à frente de sua casa, pois não pode se ausentar ou ir para outro ponto do rio, uma a vez os pais demandam cuidados de hora em hora.
Há alguns anos dona Maria sofreu um AVC que a deixou com parte do corpo paralisado. Ela, então, passou a depender do filho e do marido para atividades simples como se alimentar. Pouco tempo depois o marido foi vítima da mesma doença e que o paralisou parcialmente.
Muito dedicado aos cuidados dos pais, o filho não mediu esforços e conseguiu com que ambos fizessem fisioterapia na rede de saúde municipal, apesar da distância que precisava percorrer semanalmente. Porém, o pai sofreu um novo AVC quando já se recuperava e conseguia fazer as refeições sozinho. Dessa vez o dano cerebral foi considerado irreversível e ele passou a ficar acamado.
“Assim que tomamos conhecimento da situação dessa família nos mobilizamos para entender e atender esse caso que é um de tantos que somente com a ida até as comunidades é que podemos ajudar. Por essas pessoas que nos dedicamos nesses 15 anos de Ribeirinho Cidadão”, contou o juiz-coordenador, que é um dos idealizadores do projeto.
De acordo com o promotor, além das medidas urgentes para dirimir as dificuldades da família como atendimento médico, que foi feito no ato com a equipe do projeto, e as fraldas geriátricas, ele avalia a adoção de outras medidas para que os idosos recebam atendimento continuado.
Sebastião também passa por desafios com a sua saúde e deve passar por uma cirurgia para corrigir a cavidade ocular por conta de um acidente que tirou sua visão do olho esquerdo. Ele conta que muitas vezes deixa a si mesmo de lado para cuidar dos pais.
“Não tenho como sair daqui, só se precisar muito e tiver alguém para cuidar deles. Hoje fomos todos bem cuidados aqui nessa visita. Receitaram os remédios, tiraram as dúvidas e tenho esperança que as coisas vão melhorar”, contou.
A família precisou sair da região onde morava, no pantanal de Barão de Melgaço, quando se viu cercada por propriedades rurais que inviabilizavam a atividade das comunidades tradicionais da região, pois as áreas de uso comum para o plantio já não eram mais disponíveis com o cercamento das terras. Após seus vizinhos terem migrado para outras regiões, foi em Barranco Alto que a família de Sebastião encontrou local para continuar vivendo com sua cultura e seu modo de vida.
Programação: No dia 27, a comitiva se desloca para a comunidade de Sangradouro, com atendimento das 10h às 12h e das 13h às 16h30.
Além do Poder Judiciário do Estado de Mato Grosso e da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso, participam do Ribeirinho Cidadão, a Secretária de Estado de Trabalho e Assistência Social, a Secretária de Estado de Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Casa Civil, Proteção e Defesa Civil – Mato Grosso, Secretaria de Estado de Segurança Pública, POLITEC – Perícia Oficial e Identificação Técnica, Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, Regimento de Policiamento Montado da Polícia Militar, Grupo Especial da Fronteira – GEFRON – PMMT, Batalhão de Operações Policiais Especiais – BOPE, Batalhão da Polícia Militar de Proteção Ambiental – PMMT, Corpo Musica da Polícia Militar do Estado de Mato Grosso, Centro Integrado de Operações Aéreas – CIOPAER, Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Mato Grosso, Receita Federal, Juizado Volante Ambiental – JUVAM, Ministério Público do Estado de Mato Grosso Tribunal Regional do Trabalho – 23ª Região, Assembleia Legislativa do Estado de Mato Grosso, SESC Pantanal, Energisa, Cartório do 2º Ofício de Santo Antônio de Leverger, Cartório de Registro das Pessoas Naturais e Tabelionato de Notas de Barão do Melgaço, Consórcio Regional de Saúde – Saúde Sul Mato Grosso, Marinha do Brasil e NUPEMEC – Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos.
Esta matéria possui recursos de texto alternativo para promover a inclusão das pessoas com deficiência visual. ParaTodosVerem – Descrição: Imagem 1: Foto retangular colorida da área da casa, ao fundo há árvores. O juiz-coordenador da Justiça Comunitária, José Antônio Bezerra, e o promotor Henrique Schneider chegam a cassa da família do pescador. Eles são recebidos pela idosa que está sentada em uma cadeira de fio e o filho, em pé conversa com a equipe do Ribeirinho Cidadão.
Imagem 2: Foto retangular colorida do quarto do idoso. A Equipe do projeto faz atendimento ao senhor acamado.
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