Foi cancelada a reunião prevista para esta quinta-feira, na sede da CBF, entre os 40 clubes das Séries A e B. O encontro deveria servir para os clubes discutirem a criação de uma liga para substituir a própria CBF e organizar o Campeonato Brasileiro.
O motivo do cancelamento foi a divergência de ideias entre dois grupos de clubes – e o agendamento de outra reunião por parte do bloco que não aceita os termos assinados em São Paulo na semana passada. De um lado, estão os nove que assinaram a criação da Libra (Liga do Futebol Brasileiro), um embrião do que pode vir a ser a liga. São seis da Série A (Bragantino, Corinthians, Flamengo, Palmeiras, Santos e São Paulo) e mais três da Série B (Cruzeiro, Ponte Preta e Vasco).
Do outro lado estão 23 clubes: 11 da Série A (América-MG, Atlético-GO, Avaí, Ceará, Coritiba, Athletico-PR, Cuiabá, Fluminense, Fortaleza, Juventude e Goiás) e mais 12 da B (Chapecoense, Brusque, CSA, CRB, Náutico, Criciúma, Londrina, Operário, Sampaio Corrêa, Sport, Tombense e Vila Nova).
Os dois lados tentam atrair os oito clubes que formalmente ainda não se uniram a nenhum dos grupos: Atlético-MG, Botafogo, Internacional, Bahia, Grêmio, Guarani, Ituano e Novorizontino.
Na próxima segunda-feira, o grupo dos 23 vai fazer uma reunião presencial no Rio de Janeiro, com o objetivo de elaborar uma contraproposta para a divisão de receitas proposta inicialmente pelos clubes que formaram a Libra. A ideia é chegar a termos de consenso para, a partir deste encontro, também formular um documento por escrito a ser discutido com os clubes que assinaram a Libra.
Em linhas gerais, o grupo discorda do modelo 40-30-30 sugerido (40% das receitas divididas igualmente entre todos, 30% por desempenho esportivo e 30% de acordo com exposição). Eles preferem que a divisão seja estabelecida em 50-25-25.
Um dos itens importantes do debate é a diferença entre o que ganha o primeiro da fila e o último, nos itens variáveis. O grupo dos que não assinaram a Libra quer um limite de 3,5 vezes.
Outro ponto de divergência entre os grupos é o total de receitas a ser destinado para os clubes da Série B. O grupo dos 23 prefere que essa fatia corresponda a 20% do total; a proposta inicial da Libra era de 15%. Também está em discussão em ambos os blocos o valor a ser recebido por clubes rebaixados da Série A para a B do Brasileiro, e pelos que subirem da C para a B.
Também em relação aos rebaixados, está previsto no plano da Libra a criação de um fundo de reserva que absorveria até 3% da receita total. Ele serviria como “paraquedas” para os clubes que caírem para a Série B, o que acarreta uma perda considerável de receita, e também para cobrir eventuais diferenças por conta do modelo de rateio a ser escolhido.
Por exemplo, com um limite de quatro vezes entre o que ganha o primeiro e o último, se o primeiro ganhar 100, e o segundo ganhar 20, o fundo entrará com mais cinco para que o segundo a margem seja respeitada.
Do outro lado, executivos envolvidos com a Libra vão se encontrar nesta sexta-feira, em São Paulo, mas para uma reunião descrita como “mais técnica do que política” para aperfeiçoar o modelo de divisão de dinheiro e oferecer uma alternativa mais atrativa para os clubes que ainda não aderiram.
A ideia inicial é chegar a uma divisão em 45-25-30, que seria um meio-termo entre o que os dois grupos originalmente propuseram, e com um detalhamento maior dos itens que formam cada um dos dois últimos pilares.
Porém, como há uma reunião do outro grupo marcada para segunda-feira, o bloco dos que assinaram a Libra pretende aguardar o resultado para entender com maior precisão as demandas. Há também uma expectativa de que o grupo dos que não aderiram apresente projeções mais detalhadas para que a discussão seja aprofundada. E a escolha dos indecisos deverá ter um peso grande no poder de barganha de ambos os lados. (GE)