O que parecia ser história de ficção é, na verdade, uma das descobertas mais fascinantes já ocorridas nas águas do Mar Negro. Recentemente, arqueólogos encontraram uma estrutura de pedra subaquática, que se acredita ter feito parte de uma cidade perdida: a antiga colônia grega Quersoneso, localizada na região sudoeste da atual Crimeia.
ecentes, lideradas por Vladimir Glazunov, da Universidade de Mineração de São Petersburgo, identificaram uma muralha de pedra alongada, parcialmente exposta em terra, com medições aproximadas de 23 metros de comprimento por 10 metros de largura. Segundo os pesquisadores, esses restos podem ter feito parte do sistema defensivo da cidade. Outra hipótese é que se tratava de uma estrutura hidráulica relacionada à gestão da linha costeira.
Também foram encontrados numerosos objetos que datam do período medieval, como fragmentos de cerâmica, um pedaço de decoração arquitetônica em mármore e um recipiente de pedra calcária para beber. Devido ao seu excelente estado de preservação arqueológica, a cidade passou a ser conhecida como “Pompeia ucraniana” e, em razão da sua importância mítica, como “Troia russa”.
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Local de exílio
O nome “Quersoneso”, em grego, significa “península”, o que descreve o local onde foi implantada a colônia. Sua localização a fez ser tanto um posto de observação estratégico sobre as rotas comerciais do Mar Negro quanto um local de exílio para personalidades importantes da história, como o Papa Clemente I, o Papa Martinho I e o imperador deposto Justiniano II.
Fundada há aproximadamente 2,5 mil anos por colonos de Heracleia Pôntica, a cidade entrou em declínio após um saque executado pelos mongóis, em 1299. Mas, os registros históricos bizantinos mencionam a cidade, ainda que pela última vez, em 1396, o que leva os pesquisadores a crer que Quersoneso foi, de fato, abandonada pouco tempo depois.
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A cidade foi um território ocupado por diferentes povos, entre eles: gregos, romanos, hunos e bizantinos. Isto levou os edifícios e demais construções a terem influências arquitetônicas diversas, com destaque para extensas muralhas herdadas dos bizantinos.
A maior parte do seu território é ocupada por vários quilômetros quadrados de antigas terras de cultivo, chamadas “choras”. De acordo com os arqueólogos, essas terras – hoje estéreis – contêm restos de prensas de uvas e construções que serviam como torres de defesa. Além disso, elas abrigavam vinhedos cuja produção era exportada pela cidade.
Nasce (e morre) um sítio arqueológico
O sítio arqueológico apresenta diversos edifícios públicos e bairros residenciais, bem como monumentos cristãos primitivos, além de vestígios de assentamentos da Idade da Pedra e da Idade do Bronze. Construções bem preservadas de plantio de vinhedos, fortificações romanas e sistemas de abastecimento de água também foram encontrados.
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Os túmulos investigados não revelam indícios de práticas mortuárias diferentes das gregas. As sepulturas são individuais e marcadas por pedras, as decorações limitam-se a faixas e armas, não incluindo estátuas funerárias.
Para além das estruturas encontradas no sítio, o local se encontra ameaçado. Isto se deve pelo alargamento urbano na região, com maior número de habitantes, residencias e comércios. Quanto às questões ambientais, os especialistas alertam para os riscos que a erosão costeira poderá trazer para os projetos futuros de escavação em Quersoneso.
(Por Júlia Sardinha)18



