Os primeiros gatos domésticos conhecidos no que hoje são os Estados Unidos morreram há 466 anos em um naufrágio na costa da Flórida, sugere um novo estudo. O navio onde seus restos foram identificados fazia parte de uma expedição de colonização espanhola liderada pelo explorador Tristán de Luna y Arellano.

A história dos pets foi contada de forma inédita em um artigo publicado na revista American Antiquity no dia 14 de abril. Segundo os registros históricos consultados, a embarcação com os felinos afundou em setembro de 1559, em razão de um furacão na Baía de Pensacola, que destruiu pelo menos 11 navios.

Nomeado como Emanuel Point II, o naufrágio foi localizado originalmente em 2006. Desde então, ele tem sido palco de diversas visitas técnicas por historiadores e arqueólogos interessados em desvendar seus mistérios.

Chegada dos gatos na América

“Nosso entendimento atual é que todos os gatos domésticos vêm de ancestrais no Oriente Médio, portanto, tiveram que ser introduzidos na América pelas pessoas”, explica Martin Welker, coautor do estudo, ao site Live Science. Os espanhóis parecem ter desempenhado um papel importante nesse processo.

Pesquisador C. Fletcher durante a expedição ao navio Emanuel Point II — Foto: University of West Florida
Pesquisador C. Fletcher durante a expedição ao navio Emanuel Point II — Foto: University of West Florida

Arqueólogos já haviam encontrado restos de gatos em outros assentamentos de colonizadores da Espanha. Isso, inclusive, na cidade indígena En Bas Saline, no atual Haiti, onde Cristóvão Colombo desembarcou em 1492.

Mas Colombo nunca chegou à América do Norte continental. Em vez disso, as expedições espanholas na Flórida foram realmente as primeiras oportunidades para os gatos domésticos chegarem ao que hoje são os Estados Unidos.

Investigação dos restos dos felinos

Para examinar os gatos identificados nos destroços de Emanuel Point II, a equipe estudou o DNA antigo e suas assinaturas químicas e empregou técnicas de análise zooarqueológica, comparando os ossos do naufrágio àqueles de gatos modernos. Os resultados confirmaram que os materiais pertenciam a dois gatos domésticos: um adulto e outro mais filhote.

Alguns dos restos mortais de felinos do naufrágio Emanuel Point II, na costa da Flórida — Foto: John Bratten
Alguns dos restos mortais de felinos do naufrágio Emanuel Point II, na costa da Flórida — Foto: John Bratten

Ao que tudo indica, os tripulantes cuidavam dos animais, provavelmente, por afeição. “Descobrimos que os nossos gatos não estavam comendo só ratos a bordo do navio, mas tinham uma dieta mais alinhada com o que esperaríamos para os marinheiros”, explica John Bratten, antropólogo colaborador da pesquisa.

As análises sugerem ainda uma descendência com parentes felinos europeus. Embora seja impossível determinar como os gatos chegaram ao navio, uma ideia é que eles tenham entrado sorrateiramente na estrutura enquanto ela estava ancorada ou atracada.

Outra hipótese aponta para a possibilidade dos felinos terem sido trazidos a bordo intencionalmente, já que poderiam ajudar a controlar as populações de ratos e camundongos. Os roedores atacavam comumente os suprimentos de comida, aumentando as chances de transmissão de doenças.

Não seria surpreendente se os gatos fossem caçadores de ratos, porque desde a sua domesticação até a sua chegada ao Novo Mundo, o papel principal dos felinos em muitas comunidades era o controle de pragas — algo para o qual eles estavam bem adaptados. Os antigos romanos, inclusive, introduziram os gatos na Europa por esse motivo.

(Por Arthur Almeida)