Fomentar a implementação do modelo de Centro de Reintegração Social” é uma das ações que integram o Plano Plurianual (PPA) 2020-2023 do Ministério Público do Estado de Mato Grosso, o primeiro no país a incluir o método da Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac) no planejamento estratégico. A informação foi repassada pela promotora de Justiça Josane Fátima de Carvalho Guariente, que atua no Núcleo de Execução Penal de Cuiabá, durante palestra no 2º Seminário Estadual de Direitos Humanos promovido pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional de Mato Grosso (OAB-MT), na manhã desta quarta-feira (16), em Cuiabá.

A promotora de Justiça apresentou as Apacs, destacando ser uma metodologia que proporciona a reinserção social. Conforme Josane Guariente, não há estatísticas exatas sobre a população carcerária do Brasil, mas em estudos recentes do Ministério da Justiça, existem mais de 900 mil pessoas presas no país. O cenário é caótico, sem perspectivas de solução.

Segundo a promotora, diante desse cenário de unidades lotadas, com número de presos muito acima da capacidade, fica praticamente impossível cumprir com a ressocialização ou recuperação. A integrante do MPMT destacou que, embora as APACs não sejam a solução para o sistema penitenciário, surgem como uma alternativa capaz de contribuir com a efetiva reinserção social, e o aumento do número de vagas.


Narrou a promotora que o advogado Mario Ottoboni, idealizador da metodologia Apac no ano de 1972, na cidade de São José dos Campos (SP), afirmava que “ninguém é irrecuperável”. Josane Guariente explicou que a Apac é “uma entidade civil de direito privado, constituída juridicamente, considerada parceira da Execução Penal”, dedicada à recuperação e à reintegração social dos condenados a penas privativas de liberdade.

De acordo com a promotora de Justiça, o objetivo da Apac é promover a humanização das prisões, sem perder de vista a finalidade punitiva da pena, com o propósito de evitar a reincidência, proteger a sociedade, socorrer as vítimas e promover a justiça.
A filosofia do método é “matar o criminoso e salvar o homem”.

Josane Guariente abordou ainda os passos necessários para a instalação de uma Apac e os 12 elementos fundamentais considerados a “alma” do modelo.
Centro de Reintegração Social  

O CRS é a instalação física da Apac, o modelo de ambiente para cumprimento da pena, com capacidade para, no máximo, 200 reeducandos. Ele deve possuir espaços adequados às atividades diárias como estudo, trabalho e culto, além de pavilhões independentes para os diferentes regimes, marcando a progressão na execução penal. A localização próxima do núcleo afetivo (família) dos recuperandos também deve ser considerada.

A promotora de Justiça enfatizou que nenhum recuperando sai do sistema comum e ingressa em uma Apac sem autorização e expressa determinação do juiz da execução penal. “Ninguém vem do sistema comum para a Apac sem a autorização do juiz e sem o parecer prévio do Ministério Público”, disse.

Sustentação jurídica 
“Hoje em dia é muito tranquilo falar em Apac, pois o método é recomendado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Inclusive temos um guia prático para sua implantação (https://www.cnmp.mp.br/portal/publicacoes/11304-guia-mplementacao-apac), que recomenda a todos os promotores da execução penal que sejam fomentadores da referida metodologia em suas comarcas, levando-a ao conhecimento da população na tentativa de criar um CRS”, informou a palestrante.

Segundo a promotora de Justiça, a metodologia passou a ser adotada pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen) que orienta a implantação desse modelo como política pública, inclusive com auxílio financeiro do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen). “Além de todo esse apoio, vemos que a Lei de Execução Penal (LEP) é exatamente cumprida na metodologia Apac. Então nós, operadores do Direito, temos hoje todo o respaldo necessário para desenvolver esse trabalho”, salientou.

Trabalho é uma das formas eficazes de ressocialização para os reeducandos

Classificação 

A promotora expôs ainda que as Apacs estão organizadas em três grupos conforme a consolidação metodológica de cada uma e o estágio de desenvolvimento. O Grupo I é composto por 51 Apacs no Brasil, que cumprem o regime em sua integralidade e aplicam os 12 elementos fundamentais do método. Elas estão localizadas nos estados de Minas Gerais, Paraná, Maranhão, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Rondônia. O Grupo II é formando especialmente pelas Apacs localizadas fora do país, que possuem parte da metodologia aplicada. E o Grupo III é no qual se encontra Cuiabá, que ainda não administra Centros de Reintegração Social, e tampouco aplica parcialmente o método.

“Nós já estamos nos mobilizando, temos o estatuto aprovado pela Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC) – entidade que congrega todas as Apacs para que se mantenha a uniformidade – e registrado, estamos finalizando o protocolo de intenções, temos o projeto arquitetônico pronto, desenvolvido por um recuperando que é arquiteto, e inclusive o terreno doado”, contou.

Reincidência 

 A promotora Josane Fátima de Carvalho Guariente evidenciou também que o índice de reincidência no método Apac fica abaixo de 20%, enquanto no sistema prisional comum é de 80 a 85%.

Para encerrar, a palestrante apresentou um vídeo com a história de Valdeci Ferreira, diretor executivo da FBAC, e um grande entusiasta das Apacs (assista aqui – https://globoplay.globo.com/v/7554864/).