Renúncia do presidente, 99% de risco de rebaixamento, mudanças no comando… O Paraná Clube tem vivido uma turbulência dentro e fora de campo ao longo dos últimos meses. A pior crise do clube em 31 anos de história tem tudo para resultar em uma inédita queda para a Série C do Campeonato Brasileiro, competição disputada apenas uma vez: em 1990, menos de ano após a fundação, em dezembro de 1989.
A duas rodadas do fim da Série B, o Tricolor está a seis pontos da saída do Z-4. Além de vencer o Oeste e o Cruzeiro, o time paranista precisa de pelo menos duas dessas três combinações: duas derrotas do Náutico, duas derrotas do Vitória e que o Figueirense faça no máximo três pontos.
O risco de queda já é de 99%, de acordo com o matemático Tristão Garcia, do site Infobola
A situação crítica levou o então presidente Leonardo Oliveira a renunciar ao cargo após a derrota para o Cuiabá, na terça-feira, pela 36ª rodada. Centralizador e isolado, com três saídas em sua diretoria, o dirigente estava cada vez mais distante do dia a dia do clube, o que culminou na renúncia. Ele só tinha apoio da principal organizada, a Fúria Independente.
Era o segundo mandato seguido dele, que começou em 2016 e terminaria no fim de 2021. A gestão anterior, liderada por Rubens Bohlen, também pediu renúncia sob ameaças.
Seguindo o estatuto do clube, o Conselho Consultivo indicou o conselheiro vitalício Sérgio Molletta para assumir interinamente. Será aberto ainda um prazo de 60 dias para cadastro de novas chapas, e uma nova eleição será marcada. O pleito está marcado para setembro, mas a urgência fará ser antecipada.
Fora de campo, o Paraná enfrenta sérios problemas financeiros – o balanço de 2019 apontou que a dívida era de R$ 121 milhões – quando assumiu o déficit era de R$ 118 milhões e teve um pico de R$ 149 milhões em 2017. O balanço financeiro de 2020 tem de ser publicado até abril de 2021.
Desde março de 2018, o clube paranaense participa do Ato Trabalhista, intervenção judicial que destina 20% da receita para pagamento de dívidas trabalhistas. Oliveira é o administrador e já recebeu mais de R$ 700 mil. O Ato precisa ser renovado no começo deste ano.
A dívida trabalhista, de fato, diminuiu em sua gestão: de R$ 42 milhões para R$ 29 milhões. Por outro lado, novas ações continuam surgindo e vão gerar pendências futuras. O atacante Silvinho, com passagem em 2018, ganhou quase R$ 400 mil recentemente.
Assim como em toda a gestão de Oliveira, há relatos de salários atrasados: novembro e dezembro na CLT, além do 13º salário, e quatro meses de direitos de imagem (setembro, outubro, novembro e dezembro). Também há atraso no pagamento de moradia. Não há previsão de pagamento.
O eminente rebaixamento piora ainda mais a saúde financeira do clube. A Série C não disponibiliza cota, o que deixa o Paraná dependente de vendas de materiais, patrocínios e dos avanços de fases na Copa do Brasil. A pandemia do Covid-19 ainda reflete na falta de bilheteria e na redução de associados, que já era pequena.
Quatro técnicos, raras vitórias e bem perto da queda
Rogério Micale foi o substituto, mas caiu após um mês e seis jogos, com um empate e cinco derrotas. Com o Paraná já em 16º, Gilmar Dal Pozzo chegou, mas também ficou pouco tempo. Ele pediu demissão após uma vitória em seis partidas, com o time na 18ª posição. Atual treinador, Márcio Coelho assumiu o Tricolor faltando seis rodadas para o fim: três derrotas e uma vitória em quatro jogos.
Com três treinadores diferentes, o Paraná só venceu duas das 17 partidas do returno. Foram apenas oito pontos conquistados neste período.
Além das mudanças no comando, o Paraná Clube perdeu a zaga titular durante a Série B. Thales, que era vinculado ao Internacional, fechou com o Ankaraspor. Já o capitão Fabrício sofreu duas lesões e disputou apenas uma partida entre as rodadas 12 e 22.
A zaga era justamente o ponto forte do time. Além de Thales, o clube também perdeu o volante Carlos Dias, vendido ao Apoel, e o atacante Gustavo Mosquito, que retornou ao Corinthians – ambos no inícico da competição.
Do meio para frente, o Paraná era muito dependente da individualidade de Renan Bressan, de 32 anos – o camisa 10 também sofreu com a parte física e caiu de produção justamente na fase ruim do time.
Bressan, inclusive, desabafou após o último jogo, a derrota para o Cuiabá. O jogador fez cobranças ao time e praticamente jogou a toalha na luta contra o rebaixamento.
Patrimônio dilacerado
Com Leonardo Oliveira, mais dois patrimônios foram perdidos por dívidas: a sub-sede do Boqueirão (leiloada) e o CT Ninho da Gralha para um ex-mecenas – O CT, agora, é emprestado sem custos até 2024. Anteriormente, a sub-sede do Tarumã foi a leilão por R$ 30 milhões em 2013, e o antigo estádio do Britânia acabou vendido por R$ 4 milhões no final dos anos 90 para uma rede de hipermercado.
Já o estádio Durival Britto e Silva, a Vila Capanema, teve uma concessão de posse prorrogada por 30 anos – a disputa judicial com a União, proprietária do espaço, acontece há 50 anos. Vale destacar que a praça esportiva não é do clube, que vai precisar pagar um aluguel pela utilização.
De estrutura restaram a sede social da Kennedy, que não pode ser leiloada ou vendida e tem uma parte (salão de festas) arrendada, e o estádio Erton Coelho Queiroz, a Vila Olímpica, que é utilizado (e mal cuidado) para os jogos da base. Existe também um terreno em Guaratuba, no litoral paranaense, de pouco valor.
Próximos jogos do Paraná Clube:
- Oeste x Paraná – 26/01, terça, 19h15 – Arena Barueri
- Paraná x Cruzeiro – 30/01, sábado, 16h30, Vila Capanema
(Globo Esporte)