Se você já percorreu as ruas e avenidas de Cuiabá, com certeza se deparou com nomes que fazem parte da identidade da cidade, que completa 306 anos nesta terça-feira (8). Mas quem foram essas figuras que deixaram sua marca na capital mato-grossense?

Primeira Página revela as histórias das pessoas que ajudaram a construir Cuiabá e que hoje dão nome a algumas de suas principais vias.

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Da esquerda para a direita, Fernando Corrêa da Costa; Rubens de Mendonça e Tenente Coronel Duarte
Miguel Sutil: o descobridor do ouro

A Avenida Miguel Sutil é uma das mais movimentadas da cidade. Seu nome homenageia Miguel Sutil, bandeirante nascido em Sorocaba que, em 1722, descobriu ouro num local próximo à Igreja do Rosário e São Benedito.

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Placa destaca Miguel Sutil como fundador do Arraial Bom Jesus de Cuiabá (Foto: Reprodução)

O local ficou conhecido como Minas do Sutil e, segundo o historiador e professor de Economia na UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), Fernando Tadeu de Miranda Borges, está impregnado de lendas como a da “alavanca de ouro”, que questiona os valores materiais e fascina o imaginário cuiabano.

“Ele veio inicialmente com o objetivo de aprisionar indígenas, mas com a descoberta do ouro, o foco mudou completamente para a mineração”, explica o professor.

Esse ciclo marcou profundamente a história da cidade, apesar de toda a produção de ouro ter sido enviada para fora durante o período colonial, dentro da política do “exclusivo metropolitano”.

A cidade soube se reinventar após o declínio do ciclo aurífero, ou seja do ouro, mantendo sua relevância histórica e social.

Joaquim Murtinho: o visionário da saúde e economia

Nascido em Cuiabá em 7 de dezembro de 1848, Joaquim Murtinho mudou para o Rio de Janeiro aos 13 anos, estudou e se formou em medicina. Além de médico, foi senador por Mato Grosso, ministro da Indústria, Viação e Comércio e ministro da Fazenda no governo Campos Sales.

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Médico Joaquim Murtinho foi senador e governador. (Foto: Reprodução)

Foi um dos responsáveis pelo saneamento das finanças brasileiras.

“Era muito rico foi sócio da Empresa Mate Laranjeira e dono do Banco Rio e Mato Grosso. Além disso foi um grande homeopata”, comenta o historiador.

Murtinho mudou em Santa Teresa no Rio, mas nunca deixou de manter vínculos com Cuiabá. A cidade homenageia esse ilustre com a Rua Joaquim Murtinho.

Isaac Póvoas: o defensor da educação e cultura
Isaac Póvoas foi professor, prefeito de Cuiabá no final dos anos 30, diretor da Instrução Pública (atual Secretaria de Educação), e um apaixonado por literatura.
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Avenida Isaac Póvoas é uma das principais de Cuiabá (Foto: Reprodução)

Escrevia para jornais e revistas, sempre destacando a importância da cultura cuiabana. A Avenida Isaac Póvoas (antiga Avenida do Coxim) é uma homenagem à sua contribuição intelectual.

“Foi um ilustre cuiabano e apreciava a literatura”, explica Fernando.

Fernando Corrêa da Costa: o governador da modernização

Nascido em Cuiabá, em 1903, Fernando Corrêa da Costa formou-se em medicina em 1926 e atuou como cirurgião em Campo Grande. Entrou na política pela UDN (União Democrática Nacional) e foi governador de Mato Grosso por dois mandatos (1951-1956 e 1961-1966).

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Fernando Corrêa da Costa foi governador de Mato Grosso. (Foto: Reprodução)

Durante seu governo, implantou importantes ações na área da saúde e da educação, como a criação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mato Grosso, no seu primeiro mandato em 1952 e no segundo, em 1965, o curso de Economia, que completou 60 anos em 2025.

“Fernando Corrêa da Costa foi um grande médico, um dia da semana atendia seus pacientes na Santa Casa de Misericórida de Cuiabá. É simbólico e necessário lembrar que a Universidade Federal de Mato Grosso está localizada justamente na Avenida Fernando Corrêa da Costa”, destaca Borges.

Tenente-coronel Duarte – O herói militar

José Garcia Duarte, paulista de Franca, foi herói no maior conflito da América do Sul: a Guerra do Paraguai. Sua bravura lhe rendeu o título de Barão de Franca, concedido por Dom Pedro II.

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Tenente-coronel Duarte dá nome a uma das principais vias de Cuiabá (Foto: Reprodução)

Avenida Tenente-coronel Duarte, conhecida como Prainha, eterniza o nome desse militar que participou ativamente da história nacional e regional.

Rubens de Mendonça – o guardião da história mato-grossense

Nascido em Cuiabá em 27 de junho de 1915, Rubens de Mendonça foi jornalista, escritor, historiador e filho do também historiador Estevão de Mendonça e de Etelvina Caldas de Mendonça.

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Rubens de Mendonça é considerado imortal após ocupar a cadeira de número 9 da Academia Mato-grossense de Letras (Foto: Reprodução)

Atuou em diversas funções públicas e culturais, pertenceu a Academia Mato-Grossense de Letras, no qual ocupou a cadeira 9, era secretário perpétuo e também o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso.

No ano de 1972 recebeu o título de funcionário do ano em Mato Grosso, além disso foi fundador dos jornais Pindorama e Sarã.

“Ele era um intelectual atento, defensor da cultura e da memória Mato-grossense e cuiabana. Conheci ele na juventude, no famoso ‘Portão’ da casa do Coronel Octayde Jorge da Silva, que morava de frente a casa de ‘Seo Rubens’, como nós o chamávamos”. Rubens de Mendonça com um grupo de intelectuais fundou a Sociedade de Amigos do Marechal Rondon, no qual integro com muita honra”, comenta Fernando.

Entre suas obras, destaca-se “Roteiro Histórico e Sentimental de Cuiabá“, um clássico sobre a cidade. Também escreveu artigos marcantes como os “Sermões aos Peixes” no Diário de Cuiabá.

Faleceu em 1983, mas seu legado permanece vivo.

“Sempre admirei a família Mendonça, especialmente sua esposa, dona Ivone Badre de Mendonça, e sua filha, a Dra. Adélia Badre Mendonça de Deus”, lembra Borges.

A Avenida Rubens de Mendonça, uma das principais de Cuiabá, é um tributo à sua dedicação incansável pela preservação da história mato-grossense.

Mulheres que merecem estar nas placas

O professor Fernando Borges também destaca a importância de mais nomes femininos nas vias públicas:

“Temos muitas mulheres que contribuíram imensamente para Cuiabá. A professora Edna Maria de Albuquerque Affi é um exemplo. Foi professora de Francês, diretora da Escola Técnica Federal de Mato Grosso e integrante do Conselho Estadual de Educação. Ter uma avenida com seu nome em Cuiabá engrandece a nossa antiga cidade verde”.

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Castorina Sabo Mendes (Foto: Reprodução)

Outro exemplo citado é Castorina Sabo Mendes, que dá nome à Avenida no Contorno Leste. Ela foi professora de Diamantino que alfabetizou gerações e é mãe de juristas notáveis.

Cada rua e avenida tem a sua história

Cada avenida que cruzamos diariamente em Cuiabá carrega não apenas um nome, mas um pedaço da história da cidade.

As personalidades que as batizam foram pioneiras, revolucionárias e fundamentais para o desenvolvimento do estado.

Da descoberta do ouro à modernização urbana, Miguel Sutil, Joaquim Murtinho, Isaac Póvoas, Tenente-Coronel Duarte, Fernando Corrêa da Costa, Rubens de Mendonça, Edna Maria de Albuquerque e Castorina Sabo Mendes, deixaram legados que continuam a influenciar Cuiabá até hoje.

“Abordar a história de Cuiabá e Mato Grosso me torna ainda mais feliz. Amo minha cidade e sinto prazer em conhecê-la mais por dentro”, finaliza o professor Fernando Borges.

Na próxima vez que você passar por essas avenidas, lembre-se: cada uma delas conta uma história de determinação, coragem e progresso.

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