Ganhar o voto nas eleições e vencer são duas coisas distintas. Explico: Quem elege um candidato foi motivado por alguns interesses imediatos, seja pessoal: espaço político, cargos no mandato, ou coletivo: que a cidade seja bem representada com alguém competente e eficiente. Vencer está relacionado com essas duas variáveis e em nenhuma delas pode ser conhecidas no imediato ou por antecipação, somente o tempo irá dizer.
Essa sensação momentânea de vitória depois da apuração é compreensível e legítima, mas pode durar o tempo que as bolhas da champagne evaporam no brinde da vitória. Ainda mais nesses tempos de impaciência do eleitor em que a chamada “lua de mel” com seu candidato quase acaba dias depois da posse.
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Inexiste vitória permanente em política, pois elas sempre serão circunstanciais, relativas e instáveis, pois ganhar com uma votação da maioria, depois da posse, será sempre um verbo pronunciado no passado, os votos retratam um determinado instante ou conjuntura.
A politica é uma fábrica de ilusões e “vendeção” de sonhos, mas a realidade que vem depois da eleição (pra políticos e eleitores) nem sempre é aquela que se esperava. Sai muita gente vitoriosa magoada desses processos, porque se achou mais importante no processo do que verdadeiramente foi sob o ponto de vista do político eleito.
Imaginem o mar de compromissos, promessas – incluindo empregos e outras benesses – que são assumidos por alguns candidatos numa campanha no afã de ganhar as eleições.
A pressão dos eleitores um dia depois da posse é tão grande que nos primeiros meses alguns políticos recém eleitos até somem por um tempo dos gabinetes, por causa das demandas explosivas de atendimento ao público, currículos e petição em geral.
Em regra, para aos cabos eleitorais e eleitores em geral restará o vácuo, a aflição e na maior parte a frustração da vitória algum tempo depois. Por isso que o amor e o ódio caminham juntos na política e de mãos dadas. Isso acontece, porque as expectativas e interesses de quem elege um candidato sempre serão infinitamente maiores do que as reais possibilidades de atendê-las. As vezes o próprio político sequer sabia desses interesses.
O antídoto anti decepção é votar por convicção e coerência, colocando as expectativas de vitória bem abaixo da realidade e depois de eleito fazer o mesmo com os desejos de cargos ou de reconhecimento político. Confesso que aprendi isso com o tempo e que não é fácil. Política é bom, mas é preciso apreciar com moderação, para mais tarde não sofrer. Espere ser supreendido e não frustrado!
Quando se perde a eleição com convicção de que fez a escolha certa, a frustração é imediata, mas, depois de alguns dias “lambendo as feridas” o derrotado segue adiante á espera da próxima disputa. A grande vantagem nesse caso é que a taxa de frustração já fica debitada automaticamente no after e se encerra no dia seguinte ou dias depois.
Um dos maiores patrimônios da democracia é que vencedores e vencidos daqui a quatro anos terão um encontro cíclico marcado com quem foi eleito e a oportunidade de fazer o balanço, o encontro de contas pra saber de fato quem ganhou ou perdeu de verdade. Se fui eu ou se foi você? E isso é muito mais que a soma de um boletim eleitoral.
Feita essas considerações, dependendo com quem se ganha e de como se vence, há certas eleições que é preferível perder! Isso mesmo, perder o voto às vezes é ganhar na razão e coerência da vida. É preferível ganhar na consciência do que no voto útil e se frustrar depois. Aliás voto útil, votar em quem vai ganhar é uma forma de autosabotagem ou autoenganação.
Sendo assim, a escolha do candidato e do voto deve ter sempre um condão de julgamento tridimensional de tempo, não só do imediato presente/presente, mas do presente/passado e do presente/futuro. Ganhar e perder são palavras ambivalentes, assim como amor e ódio. “Eu vi vencedores nos olhos de muitos derrotados. Dignidade é tudo” Sérgio Vaz.
*SUELME EVANGELISTA FERNANDES é mestre em História e mestre em Antropologia; foi secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano de Cuiabá; e secretário de Estado de Agricultura Familiar de Mato Grosso. É suplente de deputado estadual em Mato Grosso.
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