Pedras de uma praia na região oeste da Islândia revelaram vestígios surpreendentes de uma possível “pequena era do gelo” no continente europeu por volta do ano 540 d.C. Esse fenômeno climático pode ter desempenhado um papel importante na queda do Império Romano em 476 d.C., além de influenciar outros acontecimentos marcantes ao redor do planeta. As conclusões foram divulgadas nesta terça-feira (8) em um artigo publicado na revista científica Geology.
Como destaca a revista New Scientist, os indícios foram encontrados durante uma expedição científica à praia de Breiðavík. O local chamou a atenção após imagens de satélite revelarem sedimentos mais claros do que os comuns na região, geralmente escurecidos por depósitos basálticos. Ao investigarem o terreno, os cientistas descobriram uma grande quantidade de conchas e blocos de granito de tamanho relativamente grande — um tipo de rocha incomum na Islândia.
Desconfiando de sua origem externa, a equipe realizou análises laboratoriais que confirmaram a hipótese: as rochas haviam vindo da Groenlândia, localizada a cerca de 300 quilômetros dali. Acredita-se que elas foram transportadas por icebergs desprendidos de geleiras da região, que cruzaram o oceano até serem depositados na praia pela ação das correntes marítimas.
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As análises também indicaram que a camada de sedimentos onde esses fragmentos estão concentrados data de um período entre 500 d.C. e 700 d.C., sugerindo que os materiais chegaram à costa islandesa nesse intervalo. A grande quantidade dessas pedras na praia sugere houve um grande fluxo de icebergs durante o período, sustentando a ideia de que sua formação foi facilitada por um clima mais frio.
Era do gelo tardia?
Quando se fala em eras glaciais — períodos nos quais grandes porções da superfície terrestre ficam cobertas por gelo — é comum que as pessoas pensem nos eventos ocorridos há milhões de anos. No entanto, há evidências de que a Terra também enfrentou uma fase de resfriamento menos intensa e rápida, conhecida como Pequena Era do Gelo Antiga Tardia, em que as temperaturas caíram significativamente sem, no entanto, provocar um congelamento completo do planeta.
As informações sobre esse possível evento quase glacial ainda são limitadas. Alguns cientistas acreditam que ele foi provocado por uma sequência de três grandes erupções vulcânicas, cujas nuvens de cinzas teriam bloqueado a luz solar e reduzido significativamente as temperaturas globais. Já outras hipóteses apontam para alterações na órbita terrestre, que influenciariam a quantidade de radiação solar recebida pelo planeta, contribuindo para o resfriamento.
A gota d’água
As novas evidências reforçam a teoria de que esse episódio de resfriamento climático pode ter desempenhado um papel importante em uma série de eventos históricos, incluindo o colapso do Império Romano.
“Os historiadores há muito debatem o papel do resfriamento climático na queda do Império Romano.” disse uma porta-voz da Universidade de Southampton, em entrevista ao jornal The Independent. “Esta nova pesquisa reforça o caso de que um breve, mas intenso período de resfriamento pode ter impulsionado um império já em declínio e desempenhado um papel fundamental na incitação das migrações em massa que remodelaram a Europa neste período.”
Segundo os pesquisadores, o período de frio intenso pode ter sido “a gota d’água” para uma sociedade já enfraquecida. A queda do Império Romano foi resultado de uma combinação de fatores — como guerras constantes, má governança, invasões sucessivas, êxodo rural e uma crise econômica profunda — que acabaram tornando o sistema insustentável. Dividido em Império Romano do Ocidente e do Oriente, apenas este último sobreviveu, dando origem ao Império Bizantino.
Ainda não é possível afirmar com certeza que o clima teve um papel direto nesse processo, mas há indícios cada vez mais fortes de que mudanças climáticas influenciaram o rumo de diversas civilizações. Um exemplo disso é o colapso da dinastia Wei do Norte, na China, que também ocorreu aproximadamente no mesmo período.
(Por Redação Galileu)