LUIZ HENRIQUE LIMA

Às vezes, uma frase ou uma cena num filme que assistimos por entretenimento pode nos inspirar reflexões valiosas. Às vezes um gesto numa competição esportiva pode revelar um belo exemplo de valores de solidariedade, empatia etc.

Aconteceu comigo lendo um romance policial. Sou grande apreciador de romances policiais. Já li desde os clássicos até pouco conhecidos autores africanos e asiáticos.

Lendo um livro de Louise Penny, autora canadense cujo estilo e personagens me encantam, deparei-me com a passagem que inspirou este artigo: quatro frases libertadoras.

Eis o contexto em que elas apareceram. É quando o Inspetor Chefe de Homicídios do Québec, Armand Gamache, entrevista uma nova recruta e lhe diz: “Há quatro frases que levam à sabedoria. Vou dizê-las apenas uma vez e você fará o que quiser com elas.”

As frases são: Eu não sei. Eu errei. Peço desculpas. Preciso de ajuda.

“Reconhecer um erro é condição para iniciar a caminhada de tentar acertar. De outro lado, não o admitir é outro erro grave, pois induz à paralisia intelectual e à repetição daquele erro muitas vezes mais , multiplicando seus malefícios”

Quantas vezes na nossa vida precisaríamos ter dito uma dessas frases e não o fizemos? Por que não o fizemos? Por orgulho? Medo? Vergonha? Quem não as pronuncia torna-se prisioneiro desses sentimentos.

Eu não sei. Quem pode afirmar que não precisa dessa frase? Há quem pensa que tudo sabe ou pretende que os outros nisso acreditem. O orgulho os impede de reconhecer o quanto ainda precisam aprender.

Eu errei. Quem nunca errou? Reconhecer um erro é condição para iniciar a caminhada de tentar acertar. De outro lado, não o admitir é outro erro grave, pois induz à paralisia intelectual e à repetição daquele erro muitas vezes mais , multiplicando seus malefícios.

Peço desculpas. Quem não deve um pedido de desculpas a alguém? Mas pedir desculpas não pode ser um gesto protocolar, seco, gelado. Pedir desculpas é tentar sinceramente de algum modo reparar ou compensar a dor ou o dano que provocamos a alguém em razão da nossa imprevidência.

Preciso de ajuda. Quem não precisa de ajuda em algum ou em vários aspectos da sua vida pessoal ou profissional? E quem não pede ajuda, dificilmente irá recebê-la, até porque nem sempre é fácil para aquele que pode ajudar adivinhar que aquela pessoa está precisando.

Quando for preciso, não hesite em dizer: Eu não sei. Eu errei. Peço desculpas. Preciso de ajuda.

Quando a pessoa consegue dizer essas frases é porque se libertou. Venceu o orgulho e conquistou humildade. Venceu o medo e adquiriu coragem. Venceu a vaidade, a vergonha e a autossuficiência e mostrou-se sincera, humana, humilde, com fragilidades e limitações que a aproximam de seus semelhantes. Somente assim é que nos abrimos para dar e receber a solidariedade, a amizade e o amor.

Somente pessoas íntegras, corajosas, humildes e altruístas têm maturidade e estofo moral para pronunciar essas quatro frases libertadoras. Se você conseguir, estará no caminho certo.

Luiz Henrique Lima é escritor e professor

(RDNews)