A descoberta de que algumas espécies de verme têm a habilidade de ingerir plástico parece muito promissora. Afinal, se humanos mantêm um apetite insaciável por produzir esse tipo de lixo nocivo ao ambiente, nada melhor do que contar com uma solução natural para se livrar dos detritos. Mas o quão viável é a ideia de colocar insetos para consumir plástico?

Pesquisadores da Universidade de British Columbia, no Canadá, resolveram colocar essa ideia em prática usando um experimento simples.

Primeiro, eles confinaram 100 larvas-da-farinha (Tenebrio molitor), também conhecidas como tenébrios, que são famosas comedoras de plástico. Depois, fizeram os insetos ingerir uma máscara descartável (dessas que ganharam popularidade na pandemia). Então, cronometraram o tempo até que todo o material fosse degradado. O resultado? 138 dias, ou 4 meses e meio.

De início, os cientistas testaram as habilidades das larvas com diferentes tipos de plástico. Os primeiros testes envolveram plástico moído ou um tijolo feito desse material.

Mas a escolha das máscaras se mostrou um caminho mais viável: afinal, além de serem feitas de polipropileno, elas passam por processos industriais – assim como embalagens e outros tipos de lixos plásticos produzidos por humanos. Para facilitar o processo, a equipe de pesquisadores derreteu a máscara de plástico e misturou com farelo de trigo.

Vermes que comeram plástico não viveram menos tempo do que aqueles que mantiveram uma dieta convencional. Isso é uma boa notícia para a ideia, claro. Só que existem alguns pontos negativos: se tentarmos criar fazendas de insetos que comem plástico, o que faremos com esses bichos depois que eles servirem ao seu propósito inicial?

Questionada pela Science News sobre se as larvas-da-farinha que tiveram uma dieta plástica poderiam, por exemplo, servir como alimento a galinhas, Michelle Tseng, pesquisadora que liderou o estudo, respondeu com “provavelmente não”.

O outro ponto que inviabiliza o uso dos insetos comedores de plástico em larga escala, como você pode imaginar, é o tempo. Se 100 insetos levam mais de quatro meses para consumir uma única máscara, quantos seriam necessários para degradar as centenas de milhões de máscaras usadas durante a pandemia de Covid-19? E as ilhas de lixo plástico que se formam no Pacífico?

O resumo da ópera é que a pegada plástica dos humanos é grande. E, para diminuí-la, precisaremos de soluções que, além de muito criativas, também consigam ser aplicadas em escala global.

O estudo foi publicado na revista científica Biology Letters.

(Por Redação Galileu)