O Pará iniciou nesta terça-feira, dia 19, a vacinação contra a Covid-19. O estado recebeu 173.240 mil doses do imunizante – destas, 48 mil são destinadas à povos originários. Com isso, o primeiro time indígena de futebol profissional do Brasil, o Gavião Kiykatejê, teve alguns de seus jogadores e membros da comissão técnica e diretoria vacinados.

O lateral-direito Soiti foi o primeiro atleta a receber o imunizante, provavelmente o primeiro jogador de futebol do país. O goleiro Wrias, o volante Amji e os meias-atacantes Kre e Japenne também receberam a primeira dose, assim como outros integrantes do time, incluindo o técnico Zeca Gavião e o presidente Jakure, pai e filho, respectivamente.

– Esse é um momento feliz para todo o povo brasileiro. Momento de alegria, porque perdemos pessoas para essa doença e poder ver uma proteção chegando é incrível. Eu, como pessoa, espero que todos recebam essa bênção o mais rápido possível. E eu, como jogador, espero ver os estádios cheios novamente, pois a torcida também é nossa motivação – comemorou Soiti, em contato por telefone com o ge.

Eu só queria agradecer aqueles que lutaram para que esse dia fosse possível, todos os envolvidos.”
— Soiti, lateral-direito do Gavião Kiykatejê

A aldeia Kyikatejê é uma das 17 pertencentes à Terra Indígena Mãe Maria, no município de Bom Jesus do Tocantins, no sudeste do Pará. Ao todo, 23 mil indígenas serão vacinados na primeira etapa da campanha. O início da vacinação na região contou com a presença do governador Helder Barbalho.

Governado Helder Barbalho (direita) acompanhou início da vacinação na aldeia Kyikatejê — Foto: Arquivo pessoal

Governado Helder Barbalho (direita) acompanhou início da vacinação na aldeia Kyikatejê — Foto: Arquivo pessoal

Gavião retorna à elite estadual após seis anos

Outro motivo de alegria para a aldeia Kyikatejê é o retorno do time à primeira divisão do Campeonato Paraense, a qual não disputava desde 2015. O acesso veio ao eliminar o São Francisco-PA na semifinal da Segunda Divisão, em dezembro. A equipe ficou com o vice-campeonato, perdendo a decisão para a Tuna Luso por 4 a 2.

Soiti lembra que antes de começar a Segundinha do Parazão a aldeia perdeu um companheiro de equipe e de vida. Haraxare, conhecido como Matias, era irmão de Zeca Gavião, técnico e presidente do clube.

– Dias antes da segunda divisão começar perdemos um guerreiro para a Covid-19. Tentar se levantar depois de baque desse não é fácil, mas conseguimos e chegamos ao nosso objetivo – relembrou.

Lateral-direito Soiti é da aldeia Kiykatejê — Foto: Arquivo pessoal

Lateral-direito Soiti é da aldeia Kiykatejê — Foto: Arquivo pessoal

Com a vacina, Soiti se diz tranquilo em disputar o Campeonato Paraense. Ele enfatiza a diminuição dos risco em transmitir a doença para o restante do povoado na aldeia, na região sudeste do Pará.

– A vacina também nos deixa mais tranquilo, porque não corremos o risco de pegar e passar para alguém que esteja vulnerável à doença. Nós, atletas, às vezes pegamos e pouco sentimos, mas só alguns. Então, é bom poder estar protegido e agora poder proteger pessoas que amamos – reforçou Soiti.

O Gavião Kyikatejê estreia no Campeonato Paraense 2021 no dia 27 de fevereiro contra o Paysandu, no Estádio da Curuzu, em Belém. O clube tem o objetivo de ficar entre os quatro primeiros da competição para garantir vaga em competições nacionais de 2022, como Série D e Copa do Brasil.

*Sob supervisão de Pedro Cruz  (Globo Esporte)