A situação do Rio Grande do Sul, afetado pelas enchentes, resultou no adiamento de jogos dos times gaúchos por 20 dias. A medida tomada pela CBF foi considerada emergencial pelo presidente do Inter, Alessandro Barcellos. O dirigente disse ser tempo insuficiente para voltar a pensar em futebol e afirmou que o clube não vai deixar o estado para treinar e jogar em outro lugar.

Em entrevista ao programa Seleção sportv nesta quarta-feira, Barcellos ressaltou a prioridade do Inter e demais times em ajudar a população gaúcha que tem sofrido as consequências dos temporais da última semana. O dirigente agradeceu a oferta de outros clubes como Athletico, Palmeiras, Flamengo e São Paulo, que ofereceram suas estruturas para treinos e jogos dos times gaúchos. Mas ressaltou que o Inter não vai “abandonar” o povo gaúcho.

– Queria deixar uma mensagem muito importante. Em torno dessa informação, de que os clubes estão dispondo as suas estruturas, a gente agradece. Mas a gente quer deixar muito claro isso. Nós não vamos abandonar o nosso povo nesse momento. Nós não vamos sair do Rio Grande do Sul e deixar as pessoas aqui sofrendo. Isso é fundamental nesse momento. Fica essa mensagem de agradecimento a todos, mas um pedido de compreensão para que a gente possa achar uma solução que pense nas milhões de pessoas que foram atingidas por essa tragédia – declarou.
“Nós não vamos abandonar o nosso povo nesse momento. Nós não vamos sair do Rio Grande do Sul e deixar as pessoas aqui sofrendo” — Alessandro Barcellos, presidente do Inter

O dirigente ressaltou que tem conversado principalmente com os presidentes de Juventude e Grêmio e que os três clubes representam um estado importante do país. Por isso, a questão deve ser vista como “unitária”, nas palavras de Barcellos. Ele também agradeceu as manifestações e solidariedade do futebol com o Rio Grande do Sul, mas reiterou que o futebol, nesse momento, está em segundo plano.

– Supondo que fôssemos totalmente insensíveis à situação e preocupados com o negócio futebol. Seria possível vir jogar em algum campo que temos aqui? Viajar até Florianópolis e 13 horas de ônibus, porque as entradas da cidade não existem, depois tomarem a água que os outros não têm para tomar? Não tomarem banho, voltarem de ônibus e mais um avião. Todos iriam concordar? Dariam W.O. para essas partidas? Essa é a pergunta que tem que se fazer quando começa a se falar em jogar e treinar aqui e ali. Esse é o exercício mínimo de empatia que esperamos que seja feito – disparou Barcellos.

– Desculpa a veemência, mas um pouco do sentimento de quem está dentro da água ajudando as pessoas, não falo de mim, mas da população que trabalha 24 horas de forma solidária, de quem trabalha no futebol, dos mais humildes até o mais alto, que também foi acometido desta tragédia. Estamos bastante abalados e não vamos, de maneira nenhuma, colocar o futebol na frente da vida – acrescentou o dirigente.

O Inter tinha jogo marcado para a próxima sexta-feira, contra o Juventude, pela Copa do Brasil. A CBF, oficialmente, só adiou a partida no Beira-Rio na terça-feira, o que também gerou críticas de Alessandro Barcellos. Para ele, inclusive, os 20 dias de adiamento não são o bastante.

– Foi uma medida emergencial e que eu vejo insuficiente para o tamanho da tragédia que estamos vivendo. Sei que é difícil para quem não está aqui ter essa dimensão. Às vezes, as pessoas podem pensar que foi uma região específica da cidade. Não. Foi o estado inteiro, cidades devastadas, Porto Alegre numa situação em que quase nenhum bairro não foi afetado, 85% da cidade sem água. Insuficiente esse tempo para pensar em futebol, inclusive. Uma medida inicial que tira parte do problema urgente, mas não resolve – afirmou Barcellos.

O elenco do Inter não treina desde o fim de semana. Com o CT Parque Gigante e o Beira-Rio alagados, o clube chegou a considerar o CT da base, na cidade de Alvorada, como uma possibilidade. Neste momento, porém, as atividades estão suspensas até a próxima segunda-feira. (GE)