O imbróglio político no Cruzeiro ganha contornos de definição. Após uma série de reuniões na sede administrativa do clube e muita pressão nos bastidores, nesta segunda-feira, o presidente Wagner Pires de Sá sinalizou que aceita renunciar ao cargo, mas somente se o futuro conselho gestor – que seria formado inicialmente por três empresários – documentar as pretensões e o que será feito no Cruzeiro.

A saída, como havia sido adiantada no último domingo, foi apresentada por José Dalai Rocha, presidente do Conselho Deliberativo, que também se dispôs a renunciar ao cargo. Um conselho gestor, formado por conselheiros renomados e com boa condição financeira, assumiria o clube antes da realização de novas eleições.

Como apresentou inicialmente o site SuperEsportes e confirmou o GloboEsporte.com, com pessoas ligadas à negociação, dois dos três empresários dispostos a formar o conselho gestor são: Pedro Lourenço, dono de uma rede de supermercados, e Emílio Brandi, dono de uma rede de atacadista e sobrinho do ex-presidente Felício Brandi.

No começo desta noite, após um dia inteiro de silêncio de Wagner Pires de Sá e seus vice-presidentes, quem ficou encarregado de emitir uma declaração sobre as negociações foi o diretor de comunicação, Valdir Barbosa, que apresentou as condições da renúncia.

– Ele passou o dia todo em reunião com o Conselho Gestor, o Conselho Fiscal e também com o Conselho Deliberativo, onde ele recebeu uma proposta do presidente do Conselho Deliberativo, Dalai Rocha, da possibilidade de uma renúncia, porque haveria três grandes empresários dispostos a assumir o Cruzeiro. Ele relatou que está disposto a essa renúncia, desde que esses empresários sejam apresentados a ele. E, de repente, será feito como será a entrada no Cruzeiro. Ele simplesmente não vai renunciar, caso esses empresários não venham aqui e se coloquem como gestores do clube, com tudo documentado. Não serve uma coisa de palavra. Realmente, se houver os empresários, ele aceita fazer sua renúncia, desde que todos assumam aquilo que vai ser feito a partir de agora – disse Valdir.

Sede do Cruzeiro recebeu reuniões durante todo o dia — Foto: Divulgação Cruzeiro

Sede do Cruzeiro recebeu reuniões durante todo o dia — Foto: Divulgação Cruzeiro

Os dois vices, Hermínio Lemos e Ronaldo Granata, também ficaram incomunicáveis durante o dia todo, sem atender às ligações da reportagem. Mas o pedido é que os dois também deixem o cargo para que o conselho gestor assuma. Granata, inclusive, vem atuando na Toca da Raposa I e, por ter ficado afastado durante toda a gestão, não deseja deixar o cargo junto com Wagner.

A crise

A renúncia sinalizada por Wagner acontece após várias “idas e vindas” da diretoria neste fim de ano. Primeiro, ocorreu a saída de Zezé Perrella do cargo de gestor de futebol, na última quinta-feira, após o mesmo ser garantido por Wagner Pires de Sá no cargo para a próxima temporada.

Wagner Pires chegou a admitir chance de saída em entrevista ao GloboEsporte.com, no dia 9 de dezembro, um dia depois do rebaixamento da Série B do Campeonato Brasileiro. No dia seguinte depois, voltou atrás, afirmando que queria dar a volta por cima e reerguer novamente o Cruzeiro.

A pressão aumentou, não só sobre Wagner, mas também sobre Hermínio Lemos e Ronaldo Granata. O trio foi o principal alvo de protesto realizado na última sexta-feira, em frente à sede administrativa do clube. Nas redes sociais, a campanha #SemRenunciaSemSocio também cresceu bastante na semana passada.

O mandato de Wagner Pires de Sá vem passando por uma série de denúncias desde maio deste ano, após a Polícia Civil começar a investigar a suspeita de uma série de irregularidades na direção do clube mineiro, como lavagem de dinheiro, pagamentos suspeitos e falsidade ideológica.

Em julho deste ano, a Polícia Civil implementou a primeira parte da investigação, desencadeada na Operação Primeiro Tempo, que cumpriu mandados de busca e apreensão na sede administrativa do Cruzeiro, nas Tocas da Raposa e na casa de dirigentes. (Globo Esporte)