O futebol em Belo Horizonte só vai voltar em meio à pandemia se for por ordem da Justiça. É o que garante o prefeito Alexandre Kalil. Firme e sem ponderações, ele fez duras críticas às entidades que cogitam o retorno dos jogos no país em meio à crise do novo coronavírus. A declaração dele à ESPN foi nesta quinta-feira, dia em que a Federação Mineira se reuniu com as autoridades estaduais para iniciar a criação de protocolos que permitirão a retomada das partidas no estado.
Para Alexandre Kalil, pensar em futebol, neste momento, é “coisa de débil mental” e um “descolamento da realidade”. Ao criticar a ideia de retomada do esporte, o prefeito de BH cita o caso de São Paulo, onde estão utilizando, por exemplo, contêineres frigoríficos para colocar corpos, em função do alto número de mortes.
– O futebol envolve, pelo menos, 200 pessoas num jogo. E mais 11 caras que vão se estapear lá dentro. Vão cuspir no chão, vão cuspir um na cara do outro, vão dar tapa, cotovelada, vão abraçar na hora do gol… É um descolamento total da realidade. Ninguém está sabendo o que é corpo em saco plástico. O Bruno Covas (prefeito de São Paulo) anunciou que tinha feito uma compra de não sei quantos (sacos plásticos para corpos). E ele não tem culpa. Vou falar uma coisa muito séria, e nunca apertei a mão nem do governador de São Paulo, nem falei com ele por telefone, nem o prefeito… Nunca. E sei que lá é o epicentro da pandemia. Agora, se não fosse feito o que foi feito, teria 50 vezes mais mortos do que tem hoje. Então, quer dizer, enquanto o prefeito está comprando saco plástico pra colocar corpo, encostando frigorífico do lado de hospital, (tem gente pensando em futebol).
“Esse povo é louco. Estão comprando saco plástico, estão encostando caminhão frigorífico, estão colocando caixão na rua, fazendo cova rasa, e estão pensando em futebol? Ninguém gosta de futebol mais que eu. Vocês estão achando que eu almoço no domingo com meus filhos conversando de política, de Brasília? Os meninos nem sabem o que é isso. É o papo mais chato que existe. A gente só fala de bola. Mas pensar em futebol, agora, é coisa de débil mental, vocês vão me desculpar” – Alexandre Kalil.
Alexandre Kalil, prefeito de Belo Horizonte — Foto: Rodrigo Clemente/PBH
Sobre a ideia da Federação Mineira de retomar, em breve, o andamento das competições estaduais, Kalil garantiu que, em Belo Horizonte, só haverá jogos se for por decisão judicial. O prefeito citou ainda o fechamento dos pequenos comércios da capital mineira como exemplo.
– Todo mundo sabe que não sou modesto e nem demagogo. E o cara que vende churrasquinho, que está liquidado aí na rua? E o cara que tem o barzinho dele, que vende a cerveja gelada? Quem tem muito é que está com muita pressa. É pra todo mundo. Na Bélgica, na Itália, na Holanda, eles fazem o que quiserem. Aqui na cidade, a Federação Mineira, para mexer com futebol mineiro, vai ter que conversar com o prefeito. Se eles estão achando que vão chegar lá e (decretar): “Vai abrir”, não vai abrir não.
“Quem manda na cidade de Belo Horizonte e está proibindo evento é o prefeito de Belo Horizonte. Se tá achando que vai reabrir, aqui não vai abrir. A não ser que a Justiça abra. O prefeito não vai abrir. Aqui não tem futebol” – Alexandre Kalil.
O último jogo profissional realizado em Belo Horizonte foi a vitória do Coimbra sobre o Cruzeiro, por 1 a 0, em 15 de março. Três dias depois, América-MG, Atlético-MG e Cruzeiro suspenderam todas as atividades diárias. Desde o dia 20 daquele mês, bares, shoppings centers e vários outros estabelecimentos “não essenciais” estão fechados na capital mineira. Desde o início da semana, o uso de máscaras é obrigatório para transitar nas ruas de BH.
O Módulo I do Campeonato Mineiro foi suspenso após o término da 9ª rodada da primeira fase, que depende de mais duas rodadas para ser concretizada. O regulamento inicial da competição ainda previa realização das semifinais e da final em duelos de ida e volta.
O outro torneio profissional suspenso no estado foi o Módulo II do Mineiro, paralisado na sexta rodada da fase inicial. Além das cinco rodadas restantes para o término desta etapa, a competição ainda prevê a realização de um quadrangular final, com as equipes se enfrentando em turno e returno. Sendo assim, o Módulo II dependeria de 11 datas para ser terminado como previsto inicialmente pelo regulamento. (Globo Esporte)