O problema da pandemia em Cuiabá vai muito além da letalidade do vírus. Como arquiteto e urbanista, vou falar sobre algumas medidas tomadas pelo “prefeito do paletó” que contribuíram para o aumento do Coronavírus na nossa cidade.

As primeiras ações foram publicadas a partir março, quando Cuiabá não tinha nenhum caso confirmado. Entre elas, uma em especial causa reflexo na situação atual de falta de profissionais nas UPAs e Policlínicas: recomendação para que os “cidadãos com sintomas do novo coronavírus se dirijam às Policlínicas e Unidade Básica de Saúde para a realização dos exames clínicos competentes e demais providências adequadas ao caso”.

Porém, houve muita demora para adquirir e oferecer EPI’s (equipamentos de segurança para os profissionais desta linha de frente). Quando fez, fez com produtos de baixa qualidade. Hoje, muitos médicos e enfermeiros estão adoecidos e afastados.

A medida no decreto era certa, a gestão que não acompanhou a medida para cuidar dos profissionais.

Em seguida, houve a redução para 30% na quantidade de veículos do transporte público, sendo um dos maiores erros do prefeito no enfrentamento ao Covid. Foi necessário o Ministério Público intervir para que o prefeito aumentasse para 70% e, só agora, depois de decisão judicial, que será retomada a frota por completa, os 100% à disposição dos trabalhadores dos serviços essenciais.

A matemática é muito simples. Se a ideia é evitar aglomerações, colocar menos ônibus é ir contra essa ideia.

O correto era limitar o número de pessoas nos veículos e colocar mais veículos para circular ao mesmo tempo para, também, evitar aglomerações nos pontos de ônibus. Este grave erro facilitou a transmissão do vírus.

Aí veio o Plano Estratégico de Retomada Gradativa e Segura das Atividades Econômicas no Município de Cuiabá. Essa decisão foi outro grande erro! Pois o prefeito limitou o funcionamento para cinco horas por dia, alternando o horário de algumas atividades.

Medida sem lógica científica, tomada, ao que tudo indica, pelo “achismo”. Pois, novamente, se o interesse é evitar aglomerações, não faz sentido restringir as pessoas para frequentar um local praticamente no mesmo intervalo de tempo.

O correto seria abrir de forma ampla, limitando o acesso, pois, assim, as pessoas se dividiriam o espaço em mais horários, evitando aglomerações.

Outro grave problema é a falta de transparência das informações do Covid e a não aplicação adequada dos recursos federais (Cuiabá já recebeu mais de R$ 90 milhões de reais) com contratação de drones, tv suspeita e kits Covid em sex shop.

Tudo isso fez com que os empresários perdessem a paciência com o gestor público, que não informava a verdade à população sobre como as coisas estavam fora de controle, sendo evidente que as medidas adotadas não geravam economicidade e eficiência.

Faltando leitos de UTI, faltando EPI’s, faltando profissionais da saúde e faltando testes de Covid, o prefeito mente em lives, dizendo estar “tudo sob controle”, inicia uma série de conflitos com o Governo do Estado e fazendo uso político da aplicação dos decretos, começa a liberar as atividades em bares, restaurantes, shoppings e outros.

Menos em academias e feiras que, ao olhar “sobrancelhudo” do prefeito, são os locais de grande proliferação do vírus. É muita falta de critério técnico tudo isso!

Além disso, o prefeito aplicou, politicamente, o “Toque de Recolher”, invadindo a competência de direito, prejudicando o ir e vir das pessoas. Um grande show pirotécnico para atrair a atenção da mídia, além do gasto desnecessário com combustíveis em viaturas da Semob (Secretaria de Mobilidade Urbana).

Já no dia seguinte, a rotina estava de volta nos bairros da cidade. A prefeitura não investiu, significamente, na fiscalização e nem no combate às festas clandestinas. Secretário de Ordem Pública, inclusive, deu depoimento enfatizando que a venda de bebidas alcoólicas nada influenciaria na vida noturna e diurna da cidade, ou seja, que não seria fator que contribuiria para aglomerações de pessoas.

Para não ficar apenas nas observações do que foi feito de errado, deixo aqui algumas sugestões: já no início poderia fazer um uso correto dos Agentes de Endemias e Agentes Comunitários de Saúde para orientar a população sobre as ações preventivas e cuidados a serem tomados, especialmente aqueles dos grupos de risco; ter usado o IPDU (Instituto de Planejamento e Desenvolvimento Urbano), aproveitando os cadastros de IPTU e da Secretaria de Saúde para fazer o georreferenciamento dos casos de Covid e, com isso, priorizado o isolamento e rastreamento de forma mais assertiva.

Ao liberar as atividades comerciais, poderia ter ampliado os horários, liberando as feiras com distanciamento em lugares abertos e as academias para as pessoas cuidarem da saúde. Poderia ter estendido, já de cara, a quantidade de linhas de ônibus.

Poderia ter aproveitado os meses parados para adquirir “kits” de medicamentos para tratamento precoce da doença; ter investido na compra de equipamentos, respiradores, construção de novos leitos de UTI; instalado tendas em frente às policlínicas e UPA’s, colocando os profissionais dos postos de saúde para fazer atendimento básico imediato, evitando as lotações dentro da unidade. Poderia ter feito “blitz da saúde” nas principais avenidas e nos pontos de ônibus com grande circulação de pessoas, verificando as condições de saúde delas.

Poderia ter aprendido com os estados e municípios de maior recuperação dos pacientes e ter parado de copiar o Dória e o Witzel.

Por fim, o problema de Cuiabá frente ao Covid nunca foi falta de dinheiro. A Secretaria de Saúde tem o orçamento anual de R$ 1 bilhão de reais, fora o que já recebeu do Governo Federal para combater a pandemia.

O Coronavírus é um problema sério e mata! Mas a corrupção, aliada à má gestão e má fé é um problema muito maior e, que somadas ao Covid, mata muito mais.

*ABÍLIO BRUNINI JÚNIOR   é arquiteto urbanista e vereador por Cuiabá pelo Podemos. 

CONTATO:           www.facebook.com/abiliojrvereador/