Cobras são bichos bem curiosos, desde suas bocas que se deslocam para engolir presas grandes até a capacidade de terem “nascimentos virgens”. Mas a esquisitice não para por aí: o jeito como essas criaturas digerem e fazem cocô é um dos mais únicos do reino animal. Embora existam cerca de 2.400 espécies de cobras, cada uma com sua própria fisiologia e hábitos alimentares, uma coisa é certa — o cocô delas é um fenômeno bizarro.
O que muita gente não sabe é que a forma como uma cobra caça e o tipo de presa que ela prefere influenciam diretamente a frequência com que ela faz suas necessidades. Entre as mais variadas espécies, os hábitos de caça e dieta determinam quem precisa “se aliviar” com mais frequência e quem pode passar meses sem essa preocupação.
Os hábitos de caça das cobras
Podemos dividir esses animais em dois grupos quando falamos sobre hábitos de caça: as caçadoras ativas e as de emboscada. As caçadoras ativas, como a cobra-rato, são mais ágeis e passam boa parte do tempo procurando suas presas. Elas costumam se alimentar de pequenos roedores, peixes e até grandes insetos, com refeições frequentes e rápidas. Por isso, também fazem cocô com mais regularidade, geralmente de 2 a 7 dias após a refeição.
Como essas cobras estão sempre em movimento, elas não podem carregar peso extra por muito tempo. O gasto energético delas é alto, então seu metabolismo também é mais rápido, o que as faz eliminar o que não precisam com mais frequência. Em resumo, elas precisam estar sempre leves para seguir na caça, e isso inclui dar aquela passadinha no “banheiro” de tempos em tempos.
Agora, do outro lado temos as caçadoras de emboscada, como a píton de sangue, que preferem ficar à espreita, quietinhas no chão, esperando que a comida venha até elas. Essas cobras gastam muito menos energia, o que faz com que não precisem comer tão frequentemente. Elas podem passar semanas — ou até meses — sem se alimentar, e, consequentemente, também seguram o cocô por longos períodos.
A anatomia das cobras
Além dos hábitos de caça, a anatomia das cobras também explica por que seus cocôs são tão peculiares. Sem um corpo bem definido, fica difícil até saber onde termina o pescoço e começa a cauda. Por dentro, a coisa é ainda mais interessante: as cobras têm um pulmão direito que ocupa quase metade do corpo, enquanto o pulmão esquerdo é minúsculo ou até ausente.
O sistema digestivo delas também é único. O esôfago longo permite que elas engulam presas inteiras, e o estômago em forma de J faz a digestão em etapas. Isso pode levar de 24 horas a uma semana, dependendo do tamanho da presa. Depois de digerir, o alimento passa para o intestino, onde os nutrientes são absorvidos.
O final do processo acontece na cloaca, um “superórgão” multifuncional por onde saem as fezes, a urina e onde também ocorre a reprodução. O curioso é que, como muitas cobras retiram grande parte da água de suas presas, o cocô delas é mais seco e compacto, quase sem água residual, acompanhado por um tipo de “urina sólida” chamada urato. E, por mais estranho que isso pareça, esse método é incrivelmente eficiente para sobreviver em ambientes áridos. Assim, por mais excêntrico que o cocô das cobras possa parecer, ele é, na verdade, o resultado de uma evolução complexa que garante que essas criaturas dominem seus habitats com eficiência.
(Publicado originalmente pelo MegaCurioso)