A discussão em torno da ocupação de espaços representativos por mulheres é obsoleta, embora ainda pareça que estamos em 1932 quando conquistamos o direito ao voto. Tanto assim que quando uma mulher se posiciona e busca ocupa-los, participando ativamente da vida democrática, como no caso de concorrer à liderança da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT), ela ainda é subjugada, sendo ELA colocada em um cenário real e lamentável, apontada como um fantoche.
Gisela Cardoso, foi convidada e aclamada para ser a futura candidata às eleições da OAB-MT, que ocorrem em novembro deste ano. Desde que seu nome foi lançado e a hashtag #AgoraéEla viralizou na Advocacia, um grupo de opositores começou a atacá-la incessantemente. Criando fatos inverídicos, criando situações de vitimização e fazendo ataque apócrifo ao #AgoraéEla.
Sabemos que quando uma mulher tenta alçar voos mais altos, ELA precisa se esforçar ainda mais para provar que é competente, que está em locais de destaque por méritos intelectivos, que não é, tampouco será, a extensão ou a face de uma liderança masculina.
GisELA tem sua liderança e alcança resultados positivos. Daí porque boa parte da Advocacia mato-grossense já a aclamou por ser competente, conhecer todos os trâmites da Ordem, ser técnica, comprometida, séria e trabalhadora.
Contudo, o #AgoraÉEla incomoda muito, e de um jeito que certamente não aconteceria, assim como não aconteceu, em outros momentos da OAB, quando tínhamos um “#AgoraéLeo” na disputa pela presidência da Seccional.
Em claro discurso sexista e incoerente, o #agoraéELA é colocado numa posição de imposição, criando uma rivalidade que não existe. Infelizmente, a Advocacia não está livre deste pensamento. O que é mais preocupante é quando mulheres são usadas para protagonizar esse tipo de narrativa, invalidando o protagonismo de outras mulheres, acabando por contradizer sua própria existência.
No contexto legítimo, onde se almeja uma construção coletiva, subvertem a #agoraéELA olvidando que a população brasileira é composta por 52% de mulheres, quase metade das casas brasileiras são chefiadas por mulheres , sem contar com as famílias anaparentais, unitárias, homossexuais, reconstruídas, e mais outras dezenas de diferentes de perfis familiares.
Por que isso acontece? Seria as consequências profundas do machismo estrutural?
Outros dados demonstram essa realidade em diversas áreas, econômica, política ou administrativa e até no contexto pessoal. Um fato emblemático na política, foi que somente em 2015 o plenário do Senado teve um banheiro feminino. Outros fatos podem ser citados, como a baixa representatividade das mulheres que não chega a 15%, ou, ainda, porque somente em 2019 ocorreu o fato de uma mulher presidir a Comissão de Constituição e Justiça .
Quando olhamos para o mercado de negócios, por exemplo, nos deparamos com uma minoritária participação das mulheres nos cargos de liderança. Pesquisa da BR Rating, divulgada em julho de 2021 e realizada com 486 empresas, aponta que apenas 3,5% dessas companhias têm mulheres em cargos de CEOs e 16% em cargo de diretoria.
As mulheres continuam ocupando menos espaços de liderança, mesmo estatisticamente sendo mais preparadas e qualificadas para isso. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 23,5% das mulheres com mais de 25 anos têm graduação, enquanto que entre os homens, apenas 20,7% já concluíram o ensino superior.
O movimento de apoio ao #AgoraÉEla visa reduzir os danos que essas desigualdades refletem na Advocacia mato-grossense, que tem 10.620 mil mulheres, sendo a maioria em um universo de 21 mil inscritos na OAB-MT.
A advogada GisELA Cardoso já vem nesta luta por uma Ordem INCLUSIVA enquanto vice-presidente da seccional neste triênio (2019-2021), fomentando inúmeros projetos que foram realizados para valorizar a mulher advogada, ocupando um papel de destaque junto ao Conselho Federal da OAB, durante a discussão de paridade de gênero dentro da instituição, um avanço importantíssimo para garantir que nós mulheres participássemos diretamente das decisões que conduzem a advocacia, sem contar os inúmeros eventos realizados para aprimorar a qualificação das advogadas.
O #AgoraÉEla é resultado de um processo de mudança de paradigma, que já tem demonstrado ser possível.
Eu apoio GisELA Cardoso porque ELA me representa quanto profissional, e a Advocacia mato-grossense merece uma liderança sinônimo de competência, de comprometimento, de dedicação, de atenção a cada inscrito da OAB-MT.
Se o incômodo que tudo isso provoca representa que estamos quebrando barreiras, extirpando estigmas, continuaremos neste caminho, pois estamos convencidos que é o melhor para nós, advogadas e advogados, e para aqueles a quem defendemos, orientamos e ajudamos com o nosso trabalho!
*ARIADNE SELLA SIMÕES é advogada especialista em Direito Civil e Processo Civil, atuante nas áreas de energia, mineração e empresarial/compliance.
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