Os que me lêem devem se lembrar da fase dos quatro anos de idade, dos seus ou de seus filhos. É a fase dos porquês: chove, por quê? Por que existe a noite? Venta, por quê? Por que a gente dorme? São milhares e milhares de perguntas que, às vezes, nos deixam embasbacados.

Há na criança uma salutar inquietação. Quando a nossa resposta não é satisfatória, a pergunta persiste. O grande problema da sociedade, não só de ontem, atual é que a maioria de nós cresce e pára de perguntar. Esse ato é extremamente nefasto para a construção da cidadania.

Leia Também:

-Nem cloroquina nem tubaína

-Antanho…

-“A peste”

-“Ela deu o rádio”

-Nossos demônios…

-Mocondo, infelizmente…

-O nono pecado capital

-Aprendimentos…!

-Reflexões Sobre o Amor

-“Democratização do acesso ao cinema no Brasil”

-“Ao meu amigo Edgar”

-O Enem bate à porta

-Gerânios, Divino…

-O Leviatã tupiniquim

-“UMNHÝ TÓNE”

-O Beijo no Asfalto e a pós-verdade

-A parábola da ilha desconhecida
Uma vela para Willian
-Os sinais
-A greve mais justa da história

Quando passamos a não questionar a realidade e a nós mesmos, deixamos que as coisas aconteçam por interesses escusos aos nossos. Deixamos de refletir e, portanto, de filosofar. E assim as coisas acontecem sem o nosso interesse ou participação efetiva.

Por que a deputada federal do PT dançou? Dançou para manifestar a alegria pela não cassação do seu colega de partido. Há nisso algum crime? Não, mas soou mal à minoria que questiona.

Ganhou a mídia e, por conseqüência, força. Chego a dizer que a deputada petista pode começar a procurar algo diferente para fazer a partir de 2007: ela não será reeleita.

De nada adiantará seus reiterados pedidos de perdão e como, ainda que tardiamente, ela percebeu a inutilidade do pedido; resolveu adotar outra tática e dizer que houve preconceito nosso e da imprensa ao seu gesto “ingênuo” e “espontâneo“.

A classe política brasileira, na sua maioria, acredita que o brasileiro não possui memória. Todavia, óbvio que possui. Apenas tem usado pouco sua capacidade de refletir sobre a ação dos seus representantes. Parece que deixou a função de exercer juízo de valor para a televisão.

O que é dito na telinha é repetido por milhões como se fosse a maior de todas as verdades. Somente uma pequena parcela da população desenvolveu a capacidade de filtrar e, principalmente, refletir sobre o que é, literalmente, “pregado” pela televisão. Não quero defender a dança da petista, aliás, como dança mal.

Além disso, outros que não foram cassados e até alguns réus confessos, comemoram com mais euforia, sem dança é verdade; porém só faltou ela. Penso que acontecem coisas muito piores ao povo e ao país e não nos indignamos tanto e nem a mídia dá tanta cobertura: o não cumprimento de promessas eleitorais, por exemplo. Será que somos todos idiotas?

O candidato vem promete que vai defender aos nossos interesses, pede o nosso voto e, depois de eleito, lá está ele, lépido e faceiro, votando contra os interesses da maioria da população.

Uns prometem redução da carga tributária; outros, que vão priorizar o capital nacional e os direitos trabalhistas ou que o Brasil terá uma posição soberana em relação à divida externa. Só mesmo cantando, “mentira, foi tudo mentira, você não me amou…”

Penso ser necessário, já que não nos lembramos mais, de prestarmos mais atenção às crianças, às suas perguntas e aprendermos com elas. É necessário que fiquemos mais insatisfeitos, mais inconformados, mais indignados para que possamos voltar a ser cidadãos na acepção do termo. Por quantas gerações mais teremos que presenciar, talvez envergonhados, séculos de atraso, corrupção e desmandos?

Será que nunca mais poderemos dançar ao som e letra de “Viração”? Ah, você esqueceu? Então, rememoremos: “Mas o que eles não sabem / não sabem ainda não / é que na minha terra / um palmo acima do chão / sopra uma brisa ligeira / que vai virar viração”.

*SÉRGIO CINTRA é professor de Linguagens e de Redação em Cuiabá. Diretor Executivo da Funec. 

CONTATO:       sergiocintraprof@gmail.com

FACEBOOK:    www.facebook.com/sergio.cintra.77