Uma equipe internacional de cientistas enterrou 19 mil saquinhos de chá verde e de chá de rooibos (muito comum em países como Portugal e África do Sul) em 180 áreas úmidas de 28 países. O objetivo? Medir a capacidade dessas áreas de reter o carbono no solo, processo conhecido como sequestro de carbono.
A pesquisa contou com a participação de cientistas brasileiros. Participaram pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e Universidade Federal do Mato Grosso do Sul. Um artigo que detalha o estudo foi publicado na revista Environmental Science and Technology.
O uso de saquinhos de chá como método para medir a liberação de carbono do solo para a atmosfera já foi comprovado por pesquisas anteriores. Mas esta é a primeira vez que eles são usados em um estudo a longo prazo e em larga escala.
Em cada local, os pesquisadores enterraram entre 40 e 80 saquinhos, a 15 centímetros de profundidade no solo. Depois, os coletaram em diferentes intervalos de tempo ao longo de três anos e, então, analisaram a massa orgânica restante para avaliar a quantidade de carbono preservada. Para isso, o efeito das temperaturas foi um critério de observação.
A temperatura foi analisada com base em dados de estações meteorológicas locais e comparando as diferenças nas regiões climáticas.
Estudo enterrou saquinhos de chá por 28 países
O que o estudo descobriu
Os cientistas concluíram que, de modo geral, temperaturas mais altas levaram ao aumento de decomposição de matéria orgânica, o que significa menor preservação de carbono no solo. Isso porque a atividade metabólica de organismos como bactérias e fungos é acelerada no calor, o que faz os micróbios decomporem a matéria orgânica do solo e liberarem o carbono contido nela em forma de CO2.
Os saquinhos de chá sofreram uma decomposição em taxas diferentes conforme o tipo de zona úmida. Naquelas de água doce, a decomposição foi mais rápida do que em zonas de mangue e ervas marinhas, e, junto aos pântanos de maré, elas apresentaram maior massa de chá restante – o que indica um potencial maior de armazenar carbono.
Enquanto o chá verde é feito de matéria orgânica que se decompõe facilmente, o chá de rooibos tem uma decomposição mais lenta.
“Para o chá rooibos, que é mais difícil de degradar, não importava onde ele estava – a temperatura mais alta sempre levava a mais decomposição, o que indica que os tipos de carbono que normalmente esperamos que durem mais no solo eram vulneráveis a temperaturas mais altas”, disse Stacey Trevathan-Tackett, da Escola de Ciências do Instituto Real de Tecnologia de Melbourne (RMIT), na Austrália, que liderou o estudo, em comunicado.
Ao entender quais ambientes armazenam mais carbono, pesquisadores podem usar as informações obtidas para garantir proteção dessas áreas contra mudanças ambientais e uso de terra.
“As alterações nos sumidouros de carbono podem influenciar significativamente o aquecimento global – quanto menos carbono for decomposto, mais carbono será armazenado e menos carbono será lançado na atmosfera”, afirmou Trevathan-Tackett.
(Por Redação Galileu)