Acelino Popó Freitas se notabilizou pela potência de seus jabs e diretos e pelos títulos mundiais que conquistou em seus quase 20 anos de carreira profissional. Mas, em meio à pandemia do novo coronavírus, o baiano de 44 anos decidiu golpear outro adversário: a fome.

Popó lançou na semana passada um leilão na internet no qual pôs à venda um de seus cinturões, o de campeão mundial dos super-penas pela Organização Mundial de Boxe, conquistado com uma vitória sobre o cubano Joel Casamayor em janeiro de 2002. O valor, que será todo revertido em cestas básicas para comunidades carentes em Salvador, terra natal do ex-pugilista, chegou a R$ 90 mil – o leilão foi encerrado neste domingo.

– Eu sei que tem muita gente aí fora, em casa, que possivelmente faz o trabalho informal, que está passando fome, que está na luta, que está ali derramando seu sangue para tentar conseguir alguma coisa para sustentar a família. Aí veio a ideia de fazer um leilão do cinturão – disse Popó, em entrevista ao GloboEsporte.com.

Popó começou com um lance inicial de R$ 20 mil no último sábado (4), e na terça-feira já tinha ofertas acima de R$ 40 mil. Muito do desejo de ajudar os mais pobres veio de sua própria história, amplamente divulgada em seus anos como ídolo do esporte brasileiro. O baiano passou fome na infância e chegou, por vezes, ainda amador, a subir ao ringue sem se alimentar adequadamente.

– Muitas das vezes não teve alimento na minha casa. Não teve comida na minha casa, então eu sei bem o que é isso – comentou.

Antes da ideia de leiloar o histórico cinturão, Popó já vinha contribuindo do próprio bolso para distribuir álcool em gel e cestas básicas. Pelos seus cálculos, conseguiu ajudar 300 famílias em Salvador. Na terça-feira, ele fez uma das entregas.

– Eu sei que tem algumas casas [no bairro] onde fui nascido e criado, que é muito carente. Eu bato na porta, pergunto, ofereço, e não estou mandando ninguém levar, eu mesmo estou indo. Muita gente tem perguntado para mim “como faço para ajudar?”. Eu falo que não, que as pessoas podem me ajudar de uma forma: ficando em casa. Essa é a melhor forma de me ajudar. Fica em casa – pediu.

Durante a quarentena, Popó tem feito lives com outros boxeadores e personalidades no Instagram, feito treinos com a mulher, os quais compartilha na internet, e ajudado nas tarefas de casa. O campeão lava, varre, cozinha e faz o que pode para ocupar o tempo.

Popó relembra dificuldades do início da carreira 20 anos após o primeiro título mundial

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Apesar de não estar acostumado, ele julga pouco diante do que passou para vencer Casamayor naquele janeiro de 2002. Para obter a vitória na decisão dos juízes após 12 rounds, o brasileiro sofreu e depois da luta precisou levar 45 pontos – 38 abaixo do olho direito e sete abaixo do esquerdo. Até por isso, seria de se esperar que ele tivesse maior apego pelo artefato. Que nada.

– Só para vocês terem uma ideia, a minha bolsa [na luta] foi de US$ 500 mil na época. Foi o que levei para ganhar esse cinturão. Mas isso não importa, e sim o valor de estar matando a fome de muita gente. Esse é o valor real – afirmou. (Globo Esporte)