A ascensão ao poder do presidente Jair Bolsonaro (PL) fez crescer o número de candidaturas de policiais civis e militares, bombeiros e membros das Forças Armadas na disputa por cargos majoritários nas eleições deste ano.
O número de membros de forças de segurança concorrendo a governador, vice e senador quadruplicou nos últimos 12 anos. Em curva ascendente, foram 10 candidaturas em 2010, 13 em 2014, 32 em 2018, chegando a 41 em 2022.
Espalhados por 15 estados e Distrito Federal, oito policiais militares, um policial, cinco membros das Forças Armadas e três bombeiros militares disputam governos estaduais em outubro.
Os nomes mais competitivos, contudo, amenizaram o discurso bolsonarista até mesmo em temas como a segurança pública e tentam conquistar os eleitores com discursos mais moderados.
Dentre eles estão dois governadores em reeleição: o policial Coronel Marcos Rocha (União Brasil), governador de Roraima, e Carlos Moisés (Republicanos), governador de Santa Catarina.
Ambos foram eleitos em 2018 de forma surpreendente pelo PSL, mesmo partido de Bolsonaro, puxados pela onda de direita que varreu o país naquelas eleições. Mas agora enfrentam um desafio complexo de concorrer em estados onde o presidente terá palanques triplos.
Assim como na eleição passada, o Coronel Marcos Rocha apostará na sua ligação com Bolsonaro para tentar um novo mandato. Nos comerciais, aparece batendo continência, lendo a Bíblia e traz em seu jingle o slogan do presidente “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”.
Mas, ao contrário de 2019, formou uma aliança ampla, modulou o discurso e agora prioriza temas como a geração de empregos e o combate às desigualdades.
Em Santa Catarina, Carlos Moisés se afastou e chegou a fazer críticas a Bolsonaro ao longo do mandato. Ficou isolado e enfrentou um processo de impeachment do qual saiu absolvido. Hoje, mantém o apoio ao presidente, mas tem feito uma campanha dissociada da imagem dele.
Ao escolher o nome de urna, deixou de lado o cargo que ocupou no Corpo de Bombeiros. Será apenas Moisés, no lugar do Comandante Moisés que adotou há quatro anos.
Na campanha, busca tratar de temas como saúde e infraestrutura, mas não deixou a segurança pública de lado. Em uma propaganda, aparece com arma em punho em um estande de tiro enquanto afirma que equipou a polícia catarinense com as mesmas armas usadas pelo FBI, polícia federal norte-americana.
A estratégia é semelhante ao do deputado federal Capitão Wagner (União Brasil), outro policial que desponta como candidato favorito em seu estado, o Ceará. Capitão da PM, ele ganhou notoriedade como líder do motim de policiais em 2012.
Assim como Carlos Moisés, ele também traz a polícia norte-americana como uma referência e promete implantar um “padrão FBI” na segurança pública do Ceará. Em uma das propagandas, traz um depoimento com dublagem em português de George Piro, que era encarregado do FBI em Miami.
A segurança está no centro da sua campanha: o Ceará enfrenta um quadro grave de disputa entre facções e é o segundo estado onde, proporcionalmente, houve mais mortes violentas em 2021, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Capitão Wagner tem o apoio de Bolsonaro, mas subiu no muro em relação à eleição presidencial para atrair um eleitorado mais amplo e busca se distanciar do bolsonarismo mais radical em seu discurso.
Em um vídeo, afirmou que o lema “bandido bom é bandido morto está ultrapassado” e que o governador deve trabalhar com inteligência para prevenir crimes.
Em Sergipe, no Rio Grande do Norte e em Goiás, três novatos que estrearam na política em 2018 em cargos legislativos tentam chegar aos governos de seus respectivos estados ancorados na figura do policial e no discurso contra a corrupção e violência.
Disputando o Governo de Sergipe, o senador Alessandro Vieira (PSDB) tem perfil conservador, mas não é próximo a Bolsonaro. Foi um crítico do presidente na CPI da Covid, quando usou da sua experiência de delegado para inquirir depoentes.
Ele é entusiasta da Lava Jato e, no Senado, defendeu a instalação de uma comissão de inquérito para investigar os tribunais superiores, a CPI Lava Toga, que não foi instalada.
Na campanha para governador de Sergipe, reforçou o lema anticorrupção e destacou seu trabalho como chefe da Polícia Civil do estado, quando esteve à frente de operações que resultaram na prisão de políticos. Adotou como slogan “chama o delegado”.
No Rio Grande do Norte, o também senador Styvenson Valentim (Podemos) decidiu enfrentar a governadora Fátima Bezerra (PT).
Mas adotou um formato de campanha pouco ortodoxo: além de não usar recursos do fundo eleitoral, também abriu mão do horário eleitoral gratuito e das inserções no rádio e na televisão. Diz que não irá imprimir santinhos e adesivos e vai concentrar sua campanha nas redes sociais.
Policial militar, Styvenson era coordenador das blitze da Lei Seca e ganhou popularidade com vídeos nas redes sociais. Foi eleito para o Senado em 2018 derrotando políticos tradicionais do estado.
Os candidatos menos competitivos seguem mais alinhados ao bolsonarismo, caso do deputado federal Major Vitor Hugo (PL), que tenta o Governo de Goiás. Isolado politicamente, não conseguiu formar uma coligação para enfrentar o governador Ronaldo Caiado (União Brasil), que concorre à reeleição.
Com trajetória no Exército, ele foi eleito deputado pela primeira vez em 2018 e chegou ao cargo de líder do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Agora, tem o apoio do presidente como principal ativo eleitoral e entrou na campanha com slogan “chama o major”.
Também há policiais concorrendo no campo da esquerda, com candidaturas pouco competitivas. Na Bahia, o policial civil Kleber Rosa (PSOL), um dos líderes do movimento de policiais antifascistas, concorre ao governo do estado com críticas à política de segurança do governo Rui Costa (PT).
“Temos a segurança pública voltada para o confronto, voltada à naturalização da morte dos corpos negros, voltada para emparedar e combater essa população”, disse o candidato em maio em sabatina da Folha e UOL.
No Espírito Santo, concorre ao governo o capitão da PM Vinícius Sousa (PSTU), também membro dos policiais antifascismo e que defende pautas como a descriminalização das drogas. Em julho, ele foi alvo de ameaças de morte na internet. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.
Fonte: FOLHAPRESS