A Polícia Federal deflagrou na manhã desta sexta-feira (20) uma operação sobre esquema de venda de sentenças na Justiça em Mato Grosso.

Segundo apuração da TV Centro América, os agentes foram às ruas para cumprir mandados de busca e apreensão, incluindo em um endereço ligado à assessora do desembargador João Ferreira, investigado no caso. Embora não haja mandados contra o magistrado nesta fase da Operação Sisamnes, ele foi alvo de busca em uma etapa anterior.

Conforme as investigações, foram detectadas sucessivas operações imobiliárias suspeitas promovidas pelos investigados, com “aparente propósito de dissimular a origem ilícita do dinheiro utilizado para financiar a compra de imóveis residenciais e de veículos”.

Além dos mandados de busca e apreensão, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou o afastamento das funções públicas de servidores do Poder Judiciário, proibição de contato e saída do país, recolhimento de passaportes, além do bloqueio de R$ 1,8 milhão dos investigados e o sequestro dos imóveis adquiridos por um magistrado.

A ação foi autorizada pelo ministro Cristiano Zanin, do STF. Até a última atualização desta reportagem, a PF não havia divulgado oficialmente os nomes dos alvos.

Venda de sentenças em MT

Em agosto, os desembargadores Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho foram afastados das funções no Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso (TJMT), por suspeita de envolvimento em vendas de decisões judiciais.

Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho foram afastados — Foto: Reprodução

Desembargadores Sebastião de Moraes Filho e João Ferreira Filho foram afastados — Foto: Reprodução

Em 26 de novembro, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão nas casas dos dois desembargadores, durante a primeira fase da Operação Sisamnes, em Cuiabá. Na ação, a PF também prendeu o lobista Andreson Gonçalves, apontado como intermediário das vendas.

Segundo a polícia, a operação investiga os crimes de organização criminosa, corrupção, exploração de prestígio e vazamento de informações sigilosas.

Desde então, os dois magistrados estão sendo monitorados por tornozeleira eletrônica, informou a PF. Eles também tiveram os passaportes apreendidos, além de bloqueio de bens e valores.

Em nota, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) informou que está ciente do caso e se colocou à disposição para o fornecimento de informações necessárias ao andamento das investigações.

Investigações

As investigações começaram quando o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) descobriu que os dois desembargadores mantinham uma amizade com o advogado Roberto Zampieri, morto em dezembro do ano passado, e recebiam vantagens financeiras para julgarem recursos de acordo com os interesses do advogado.

O grupo pedia dinheiro para beneficiar partes de processos judiciais ilegalmente. Em seguida, emitia decisões favoráveis a esses “clientes”, ainda conforme investigações.

A Polícia Federal também investiga negociações ligadas ao vazamento de informações sigilosas, incluindo detalhes de operações policiais.

Caso Zampieri

 

Roberto Zampieri, de 57 anos, foi assassinado no dia 5 de dezembro de 2023, em Cuiabá — Foto: Reprodução

Advogado Roberto Zampieri, de 57 anos, foi assassinado no dia 5 de dezembro de 2023, em Cuiabá — Foto: Reprodução

O advogado Roberto Zampieri foi morto com 10 tiros dentro do próprio carro em frente ao escritório. Ele foi surpreendido por um homem de boné, que disparou pelo vidro do passageiro, e fugiu em seguida. Segundo a Polícia Militar, o advogado saía do escritório que trabalhava quando o crime aconteceu.

O delegado da Polícia Civil, Nilson Farias, disse que o atirador aguardava o advogado na frente do escritório e que a vítima tinha um veículo blindado há mais de 5 anos.

Conforme as investigações, foi verificado que existe uma demanda de duas fazendas em Paranatinga, a 411 km de Cuiabá, avaliadas em cerca de R$ 100 milhões, e que a perda dessas propriedades na Justiça teria levado Aníbal a mandar matar o advogado. Além disso, o mandante desconfiava de uma suposta aproximação de Zampieri com o desembargador do caso.