Os policiais militares Roberto Dutra de Lima e Fábio Júnior dos Santos, envolvidos no assassinato do jovem Diego Kaliniski, 26, durante uma abordagem policial, em Vera, estão de volta em patrulha nas ruas pouco mais de 60 dias após o homicidio do rapaz – ocorrido em 5 de fevereiro. A dupla, no momento, atua em Sinop, cidade para a qual foram transferidos.
À época, um dias após o crime, o comando da Polícia Militar de Mato Grosso determinou o afastamento dos dois agentes das ruas. A Polícia Civil, por sua vez, abriu um inquérito na delegacia de Vera para apurar o caso.
Em nota, a Polícia Civil afirmou que as investigações seguem em andamento na unidade. Disse ainda que o delegado responsável pelas investigações, Victor Hugo Caetano de Freitas, aguarda apenas a disponibilização de alguns laudos periciais para conclusão dos trabalhos, devendo o inquérito policial ser relatado até o final deste mês.
Um dos agentes – Roberto – chegou a postar uma foto estilo selfie em uma rede social. Ele aparece de farda, com um rádio acoplado ao uniforme e ao lado de algumas viaturas.
A reportagem entrou em contato com a corregedoria da Polícia Militar e questionou o órgão o porquê dos policiais terem voltado às ruas antes mesmo da conclusão do inquérito, mas não obtivemos respostas até essa publicação.
Diego Kaliniski foi executado com três tiros à queima após resistir a uma abordagem dos PMs Roberto e Fábio. Na mesma ocorrência, o irmão dele, Dhione Kaliniski, foi atingido com um tiro na mão e golpes de cassetete da cassetete.
À reportagem, o rapaz contou que ele e seu irmão estavam sentados próximo a praça da cidade quando uma viatura da PM chegou, se aproximou do carro de Diego e um agente começou a tirar fotos do veículo, mesmo tendo outros carros no local.
Segundo Dhione, naquele dia os dois policiais estavam indo atender uma ocorrência de um acidente de trânsito, mas resolveram parar na praça e abordar Diego e averiguar o carro dele. “Sem motivo”, disse Dhione.
“Era um piá trabalhador, gostava de ligar o som do carro dele e tomar a cerveja dele”. “Todo mundo conhecia ele aqui na cidade, era um rapaz querido. Eu acho que aquele policial tinha alguma coisa contra o meu irmão”, contou.
O rapaz afirma também que os agentes mentiram ao dizer que foram atender a um chamado de perturbação de sossego alheio. Essa suposta ocorrência, segundo Dhione, havia sido relatada por volta de 21h, mas não de madrugada – hora do assassinato de Diego.
“Tinha um monte de carro com o som ligado, com todo mundo sentado, tomando sua cerveja e tal. Nada demais. Eles [policiais] pararam a viatura e foram lá [em direção ao carro de Diego]. Meu irmão foi lá perguntar porque estavam tirando foto do carro dele. Um já apontou a arma pra ele e eu saí desesperado para saber o que estava acontecendo”, acrescenta.
Nesse momento, Dhione disse que interveio a fim de interromper as agressões contra seu irmão e, por esse motivo, levou um tiro na mão e golpes de cassetete na cabeça. Atualmente, ele usa dois pinos nesta mesma mão e corre risco de perder o movimento de um dos dedos. Relata também que está impedido de voltar às atividades de caminheiro, que era seu trabalho regular.
Segundo relato de Dhione, seus pais também foram atingidos com tiros disparados pelos mesmos PMs. Eles chegaram até ao local após ele tê-los avisado, por telefone, que Diego havia sido ferido por disparos de arma de fogo. No local, os dois já encontraram o jovem caído no chão.
“Chegaram [na rua] e foram para perto do corpo do meu irmão e falaram para os policiais do motivo deles terem feito aquilo”. “Um [policial] disparou contra o pai e outro contra a mãe. O da mãe pegou de raspão no braço e o do pai foi em direção ao pé. O pai estava segurando a mão dela e puxou ela, se não [o tiro] ia pegar no peito dela”.
Em sua fala, Dhione disse que seu pai, que também é caminhoneiro, está traumatizado com o ocorrido e ainda não conseguiu voltar ao trabalho. “É arriscado pegar um caminhão e sair por aí dirigindo nessas condições. Ainda tá todo mundo em choque”.