Como a memória de Mato Grosso e do Brasil raramente destina algum espaço aos que se foram, a reportagem do Cuiabano News decidiu viajar no tempo. A tentativa é de traduzir como aconteceu a maior tragédia da história da imprensa de Mato Grosso, com a morte de seis jornalistas e um tripulante, escalados para a cobertura do “Governo Itinerante”, implantado pelo então governador Júlio Campos, por pressão da Assembleia Legislativa e dos prefeitos do Nortão.

 

Eram 6h27 do dia 24 de setembro de 1984, em Aripuanã –  1.209 quilômetros ao norte de Cuiabá. Minutos após sair do solo, o bimotor Navajo PT BKB 1969, da Mecom Táxi Aéreo, apresentando instabilidade, retornava para o Aeroporto de Aripuanã, diante de problemas detectados.

A pista era em chão batido. Mas a aeronave não chegou a atingir a pista. Uns dois quilômetros antes, o bimotor deu piruetas no ar e explodiu, na floresta amazônica.

Júlio José de Campos era governador de Mato Grosso, na época

Na tragédia, sete vidas foram ceifadas, sendo seis jornalistas: Osmar José do Carmo Cabral, Ozeno Martins, Miguel Bueno, Ademar Martinês, Antônio Nogueira e Jorge Castilho; e o piloto Walfrido Queiroz Pironi.

Numa época em que não existia sequer telefone fixo, em Aripuanã, a notícia chegou a Cuiabá via rádio amador, num comunicado da equipe da Casa Militar, responsável pela segurança institucional do governador, para o Quartel do Comando Geral da Polícia Militar de Mato Grosso.

Num primeiro momento, por causa da informação equivocada divulgada em plantão pela Rádio A Voz D’Oeste, as redações dos jornais e emissoras de Rádio e TV imaginavam que o avião destroçado carregava o governador. Somente mais tarde, a informação foi corrigida, dando conta de que era uma aeronave “da comitiva do governador”.

Por determinação da Constituição do Estado, o governador era – e ainda é – o comandante em chefe da Polícia Militar de Mato Grosso. E poucos usaram o poder com tamanha sagacidade quanto Júlio Campos.

Das perdas humanas, o nome mais conhecido em Cuiabá era o repórter fotográfico Osmar Cabral e, em menor escala, o repórter cinematográfico Ozeno Martins.

Já Miguel Bueno, Ademar Martinês, Antônio Nogueira e Jorge Castilho eram jornalistas, enviados pela TV Bandeirantes, de São Paulo.

Osmar Cabral se tornou nome de bairro, no Grande Coxipó – região Sul de Cuiabá. E isso só ocorreu por determinação da então primeira-dama Isabel Coelho Pinto de Campos, mulher de Júlio, conhecida nos bastidores políticos como “A Dama de Ferro”, numa comparação à primeira ministra Margaret Thatcher, na época considerada a mulher mais poderosa do planeta.

Por ordem de Isabel Campos, existia a promessa de que uma avenida de Cuiabá levaria o nome de Osmar Cabral. Mas, provavelmente por embates na Câmara de Cuiabá – onde o PMDB tinha maioria – isso nunca se concretizou.

O então secretário de Estado de Comunicação da época, jornalista Mauro Cide Nunes, recorda a comoção nacional e o verdadeiro “esforço de guerra” para transporte de sete corpos carbonizados “desde  os confins da terra” para Cuiabá e, depois, alguns para São Paulo e Belo Horizonte.

“Parecia um pesadelo sem fim. As famílias ligando, desesperadas, em busca de informações, inclusive parentes dos que sequer viajaram para Aripuanã. Não existia as facilidades de comunicação de hoje”, ponderou Mauro Cid.

A reportagem do portal de notícias aguardou retorno de telefonema ao ex-governador Júlio Campos, mas não obteve êxito.