O PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil cresceu 0,9% no segundo trimestre deste ano em relação aos três meses anteriores. O dado divulgado nesta sexta-feira (1) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) surpreendeu e levou analistas a revisarem para cima as projeções para 2023.

 

Esse foi o segundo trimestre consecutivo em que a economia apresentou resultados acima do esperado, apesar de o número representar uma desaceleração em relação ao crescimento registrado nos três primeiros meses deste ano (dado revisado de 1,9% para 1,8%).

 

Em relação ao segundo trimestre de 2022, a alta foi de 3,4%. Segundo a agência Bloomberg, analistas de instituições financeiras e consultorias estimavam avanço de 0,4% na comparação com o primeiro trimestre e de 2,7% em relação ao mesmo período do ano passado.

 

A Bolsa registrou forte alta, e o dólar caiu. Além do reposicionamento das expectativas do mercado, integrantes do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comemoraram o resultado. O ministro Fernando Haddad (Fazenda), porém, se disse preocupado com o terceiro trimestre.

O resultado do primeiro semestre de 2023 já garante um crescimento de 3,1% no acumulado deste ano (o chamado “carry over” ou carregamento estatístico, que considera a hipótese de um PIB estável no segundo semestre).

 

Do ponto de vista da produção, serviços e indústria extrativa (petróleo, gás e minério de ferro) respondem pelo bom desempenho do segundo trimestre do ano —nos primeiros meses deste ano, o PIB foi puxado pelo agronegócio.

 

Segundo o IBGE, a alta é explicada pelo bom desempenho da indústria (0,9%) e dos serviços (0,6%).

 

“O que puxou esse resultado dentro do setor de serviços foram os serviços financeiros, especialmente os seguros, como os de vida, de automóveis, de patrimônio e de risco financeiro”, diz a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.

 

Pela ótica da demanda, destaca-se o consumo das famílias (0,9%), influenciado por uma melhora no mercado de trabalho, medidas do governo que elevaram a renda das famílias, desonerações, queda na inflação e crescimento do crédito, apesar dos juros altos e do endividamento dos brasileiros. O consumo do governo cresceu 0,7%.

 

“Do lado positivo, o mercado de trabalho vem melhorando constantemente, há o crescimento do crédito e várias medidas governamentais como incentivos fiscais, vide redução de preços de automóveis, e os reajustes nos programas de transferência de renda, notadamente o Bolsa Família”, diz a coordenadora do IBGE.

 

Nesse cenário, aumentaram as chances de um número maior que a expansão de 2,9% verificada em 2022, algo que não estava no radar dos economistas no começo deste ano.

 

Esse foi o oitavo resultado positivo consecutivo do indicador nessa comparação. Segundo o IBGE, a atividade econômica está 7,4% acima do patamar pré-pandemia e continua no ponto mais alto da série histórica.

 

O Bank of America revisou sua perspectiva para o PIB anual, após os dados do segundo trimestre, de 2,4% para 3,1%.

 

“A inflação mais benigna, os ajustes nos programas de distribuição de renda, a resiliência do mercado de trabalho e melhores condições no mercado de crédito levaram a uma aceleração da demanda interna”, citam analistas do banco em relatório.

 

Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter, afirma que o crescimento pode ser próximo de 2,8% neste ano. Segundo ela, parte da alta um pouco mais forte do PIB está ligada a estímulos pontuais, como o aumento de transferência de renda do governo e desonerações.

 

Como o efeito desses estímulos não deve se repetir no segundo semestre, ela espera uma desaceleração do consumo. “Temos motivos para comemorar um PIB de 3% no acumulado de 12 meses. Mas para que a gente possa sustentar essa taxa daqui para a frente, o investimento precisa voltar, e voltar de maneira mais forte. Crescimento de consumo sem investimento é ruim para o futuro”, afirma.

 

Os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo), avançaram 0,1%. A taxa de investimento foi de 17,2% do PIB, inferior à do mesmo período de 2022 (18,3%).

Nesse cenário, Natália Cotarelli, economista do Itaú BBA, também cita o investimento como um ponto de alerta.

 

“A gente teve uma surpresa positiva na maioria dos indicadores. O único destaque negativo foi o investimento, que veio um pouco abaixo do que a gente estava esperando”, afirmou.

 

Apesar desse fator, a instituição deve rever a projeção para este ano de 2,5% de crescimento para algo próximo de 2,8%.

 

No segundo semestre, a agropecuária foi o único dos três grandes setores da economia a recuar no trimestre (-0,9%). A retração vem após o avanço de 21,0% no primeiro trimestre e se deve, principalmente, à base de comparação elevada, quando houve 60% da produção da soja.

 

Em relação ao segundo trimestre do ano passado, a agropecuária avançou 17%, o melhor resultado entre os setores.

 

Essa alta é relacionada ao bom desempenho de alguns produtos como, além da soja, do milho, do algodão e do café. As estimativas da pecuária também contribuíram com o resultado, segundo o IBGE.

 

Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, ressaltou o desempenho acima das expectativas do setor. A queda na atividade já era esperada neste trimestre.

 

“Nossa surpresa do PIB ficou concentrada na ótica da oferta, principalmente na parte de agricultura. A gente esperava uma queda forte neste trimestre, de cerca de 7%. Veio uma queda muito menor, de 0,9%”, diz.

 

Damico também chama atenção para a aceleração significativa do consumo das famílias e o desempenho da indústria. A Armor revisou sua expectativa para o PIB de 2023 de 2,4% para 3,1%.

 

Especialistas também citaram o crescimento da indústria extrativa, principalmente a de óleo e gás.

 

“Vale ressaltar que o Brasil agora é um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com mais de três milhões de barris por dia, um aumento significativo em relação ao passado”, diz o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala.

 

Ele enxerga que a economia brasileira tem possibilidade de um crescimento anual acima de 3%.

 

Rodolfo Margato, economista da XP, lembra que tanto o agronegócio quanto a indústria extrativa, que têm apresentado forte desempenho, são dois setores menos sensíveis à política monetária, e que têm mostrado resultados acima do esperado.

 

De maneira geral, Margato aponta que o PIB vem mostrando um quadro de economia resiliente e de solidez. “As projeções do mercado e da XP vão caminhar para um crescimento de algo próximo a 3% em 2023.”

 

O PIB acumulado nos quatro trimestres terminados em junho de 2023 cresceu 3,2% em relação aos quatro trimestres imediatamente anteriores.

 

No primeiro semestre, apresentou crescimento de 3,7% em relação ao mesmo período de 2022. Nos dois casos, a agropecuária foi o destaque.

 

As expectativas agora são de um PIB mais fraco neste segundo semestre, em um ambiente de juros ainda elevados, apesar do corte recente da taxa básica pelo Banco Central.

 

Cálculo do PIB

Produtos, serviços, aluguéis, serviços públicos, impostos e até contrabando. Esses são alguns dos componentes do PIB, calculado pelo IBGE, de acordo com padrões internacionais. O objetivo é medir a produção de bens e serviços no país em determinado período.

 

O levantamento é apresentado pela ótica da oferta (o que é produzido) e da demanda (como esses produtos e serviços são consumidos).

 

O PIB trimestral é divulgado cerca de 60 dias após o fim do período em questão e traz um dado preliminar.

 

O número final é apresentado quase 24 mese s após o fim do ano e traz também a ótica da renda (soma das remunerações do trabalho e capital, que mostram como cada parte se apropriou da riqueza gerada).

 

Os dados definitivos de todos os trimestres de 2023, por exemplo, serão conhecidos em novembro de 2025.

Fonte: Folhapress