O calendário de futebol feminino está de volta no país com a retomada do Brasileiro feminino Série A1. O movimento da CBF de manter as disputas e a competitividade das competições é algo que chama a atenção de Pia Sundhage, técnica da seleção brasileira. Em entrevista ao blog Dona do Campinho, a treinador comentou que vê as tentativas da Confederação na evolução da modalidade e ressalta a importância, por sua experiência, de ter uma entidade por trás trabalhando em prol do esporte.

– O que eu vejo é que a CBF está tentando criar uma liga competitiva. E com toda a experiência que eu tenho, sei que você precisa da confederação por trás de você para começar algo em que acreditar. E leva tempo. Eu compreendo isso. Quando eu for comparar os campeonatos, Champions League, por exemplo, que eu acho que a velocidade das jogadoras é um pouco mais alta comparado com a liga sueca, temos diferentes times de diferentes culturas, mas não tão alto na Copa do Mundo. Temos diferentes degraus. A liga brasileira, eu não sei porque tenho que esperar e ver, mas o que sei é que se você criar um ambiente competitivo, as técnicas e habilidades irão evoluir e criar um ótimo futebol. Eu gosto do fato de que a CBF tenta fazer coisas para o futebol feminino. É rápido o suficiente? Bom o suficiente? Não sei. Mas eu realmente gosto do movimento da CBF tentando dar suporte e dando suporte ao futebol feminino – afirmou Pia Sundhage, que soma até o momento 11 jogos com o Brasil com seis vitórias, quatro empates e uma derrota.

Mesmo com a movimentação em relação à volta das atividades, a CBF ainda não encontrou um nome para substituir Marco Aurélio Cunha, que até o começo de junho era o diretor de seleções femininas e acabou deixando o cargo com o objetivo, na época, de concorrer à eleição presidencial do São Paulo. A treinadora mostra preocupação com o tema e comentou que necessita de “um chefe” até mesmo para cuidar da parte administrativa. Mas ressalta a confiança de que a Confederação fará o movimento correto.

– É muito importante para mim fazer meu melhor e para isso eu preciso de um chefe, por assim dizer. Eu acredito que a CBF vai fazer a coisa certa. Eu não sou uma administradora, não sei como fazer isso. Mas sei que eles me contrataram e tenho certeza absoluta que o presidente da CBF vai achar alguém que trabalhe bem com todos nós. E ao invés de somente pegar alguém é importante escolher a pessoa certa. Quando essa pessoa estiver no lugar isso fará diferença para todos nós – afirmou.

A necessidade de um comando também se faz necessário para uma programação do calendário de amistosos preparatórios já que as Olimpíadas de Tóquio ocorrerão de 23 de julho de 2021 a 8 de agosto do mesmo ano. Questionada sobre qual a ambição da seleção brasileira na disputa, ela coloca o Brasil figurando entre as quatro, cinco melhores equipes do mundo.

– Se todo mundo estiver saudável, competitivo no caminho para os Jogos Olímpicos, nós temos chance de ser um dos quatro ou cinco melhores times do mundo porque é muito disputado. Como você sabe, de oito times na Copa, sete vieram da Europa. Isso me inspira e eu tento inspirar o time. Não podemos ter sete times da Europa. Nós precisamos de um time da América do Sul. Se criarmos um time coeso temos chance, mas é uma estrada longa a percorrer.

A pós-Olimpíada também tem uma preocupação para a técnica. Buscar soluções para a possibilidade de aposentadorias de Marta, Cristiane e Formiga. Para ela, não é uma questão de achar jogadoras, mas sim formar e montar bases fortes em busca de novos nomes. Ela comenta que na Europa, os países estão tentando acabar com o “gap” existente entre a sub-20 e a passagem ao profissional.

– Acho que é a coisa mais importante para fazer. Achar a nova geração. Primeiro achar essa jogadora e depois dar suporte a essa jogadora. Temos jovens jogadoras na Europa e também jovens jogadoras brasileiras nos Estados Unidos também. Isso é uma questão de organização. Não é uma pessoa. Você precisa de organização para um sistema de observação e temos colocado isso no lugar na Europa. Nós temos um caminho para jovens jogadoras, como você educa elas até a seleção nacional. Nas sete equipes europeias classificadas às quartas na Copa do Mundo da França, o que têm em comum? Têm um caminho, sub-15, sub-17, sub-19, sub-23. E eles estão falando não em achar jogadoras, mas sim do grande gap entre o sub-20 e o time principal. Eles estão um pouco à frente em organização e com todo o amor pelo futebol neste país, isso não vem facilmente, claro, mas se começarmos a construir essa organização e observar jogadoras, dar suporte nós poderíamos ser melhores do mundo. Mas você precisa desse caminho para educar as jogadoras.

Pia Sundhage quer encontrar substitutas de Marta, Cristiane e Formiga — Foto: Raphael De Angeli

Pia Sundhage quer encontrar substitutas de Marta, Cristiane e Formiga — Foto: Raphael De Angeli

CONFIRA OUTRAS RESPOSTAS DA ENTREVISTA:

Você completou um ano no comando da seleção brasileira. O cenário do futebol feminino no Brasil a surpreendeu?

– É algo diferente do que experimentei antes. Cresci na Suécia onde organização e o primeiro jogo foi em 1973, estive nos Estados Unidos, onde eles tem tido muito sucesso. Vir para cá eu sabia que seria diferente e o futebol por ele mesmo. E é o que eu realmente gosto. Mais técnica no futebol, mas também como tudo gira em torno do futebol. Uma coisa que eu realmente não sabia e gostei é o fato de serem pessoas calorosas e que se não funcionar hoje pode funcionar amanhã. Na Suécia são tão organizados que se não funcionar hoje não irá funcionar amanhã também. E é impossível de mudar isso. O que nós fizemos até agora e eu relembro os dois jogos diante do México. Eu estava certa de que não iria funcionar, mas CBF e outras pessoas organizaram dois jogos e gostei muito. Então, não estou acostumada com isso, mas é algo que preciso me acostumar.

Acredita em prejuízo físico e técnico no Brasileiro feminino após a parada pela pandemia?

– Minha experiência da Suécia, porque lá já voltaram, elas tiveram algumas lesões no começo da temporada e elas se mantiveram em forma. Mas o futebol é dinâmica e mudança de velocidade. Eu curiosa para ver como farão no Brasil. Uma coisa que falamos para as jogadoras da seleção brasileira: “Você tem uma escolha. Manter-se preparada é sua responsabilidade”. Será muito interessante com o tour que fazemos agora com Beatriz, minha assistente técnica, assistindo aos jogos, alguns treinos e como eles tem se preparado. Isso é importante.

Você já vê sua cara no desempenho da seleção brasileira? Há muito mais a fazer?

– Penso que nós subimos alguns degraus quando falamos de defender. Há dois dias, eu assisti ao Brasil enfrentando a França na Copa do Mundo em que foi um jogo muito bom com alta intensidade na velocidade do jogo. E os 11 jogos que nós estivemos jogando resolvemos muito a questão da defesa. Mesmo assim, acho que é um longo caminho para estarmos realmente preparadas para os Jogos Olímpicos. Há questões táticas e tudo se resume em ser um time coeso. O time coeso hoje pode não ser o mesmo que iremos ao Japão. Eu realmente quero ter esse ambiente competitivo que todo mundo sinta que tem chance, que você precise competir para ter seu lugar. Fico de olho também nas jovens jogadoras. Tenho falado com Jonas (Urias), técnico da seleção feminina sub-20, para ver se podemos ter novas atletas dentro. E é uma grande competição porque nós podemos levar somente 18 jogadoras, o que torna isso realmente difícil para jovens jogadoras e entrarem no grupo, mas não é impossível.

Estamos muito distantes do que a Europa já atingiu em termos de evolução do futebol feminino?

– O que eu vejo é que a CBF está tentando criar uma liga competitiva. E com toda a experiência que eu tenho, sei que você precisa da confederação por trás de você para começar algo em que acreditar. E leva tempo. Eu compreendo isso. Quando eu for comparar os campeonatos, Champions League, por exemplo, que eu acho que a velocidade das jogadoras é um pouco mais alta comparado com a liga sueca, temos diferentes times de diferentes culturas, mas não tão alto na Copa do Mundo. Temos diferentes degraus. A liga brasileira, eu não sei porque tenho que esperar e ver, mas o que sei é que se você criar um ambiente competitivo, as técnicas e habilidades irão evluir e criar um ótimo futebol. Eu gosto do fato de que a CBF tenta fazer coisas para o futebol feminino. É rápido o suficiente? Bom o suficiente? Não sei. Mas eu realmente gosto do movimento da CBF tentando dar suporte e dando suporte ao futebol feminino.

Quais as lições que se tira ao conquistar duas medalhas de ouro olímpicas?

– Uma coisa é que você precisa trabalhar duro para alcançar isso. Não é uma pessoa. É um time por trás de um time. Você tem que continuar a acreditar no que você faz e trabalhar duro. Não fique complacente. Eu certas coisas sobre o futebol hoje, mas você precisa repensar, e ser curiosa sobre qual o próximo passo. Eu li o relatório da Fifa de 2019. O que eu quero é estar em 2023 e o Brasil pode ser parte disso. Ser curiosa é importante. Mas você precisa rir. É tão importante se divertir enquanto você vai em busca dessa medalha de ouro se não é perda de tempo. É assim que trato minha vida e minha vida no futebol. Você precisa rir de vez em quando e relaxar porque isso vai te dar energia. Depois disso, você terá chance de estar em uma final olímpica.

JOGOS DE PIA À FRENTE DA SELEÇÃO:
29/08/2019 Brasil 5 x 0 Argentina
01/09/2019 Brasil 0 (4) x (5) 0 Chile*
05/10/2019 Brasil 2 x 1 Inglaterra
08/10/2019 Brasil 3 x 1 Polônia
07/11/2019 Brasil 4 x 0 Canadá
10/11/2019 Brasil 0 (2) x (4) 0 China*
12/12/2019 Brasil 6 x 0 México
15/12/2019 Brasil 4 x 0 México
04/03/2020 Brasil 0 x 0 Holanda
07/03/2020 Brasil 0 x 1 França
10/03/2020 Brasil 2 x 2 Canadá

(Globo Esporte)