Os policiais federais encontraram R$ 13,6 mil em espécie na caminhonete de luxo supostamente do cacique Damião Paridzané, líder dos Marãiwatsédé durante deflagração da operação Res Capta, nesta manhã de quinta-feira, 17 de março. O indígena é um dos alvos da polícia, que apura um esquema de arrendamento ilegal da Terra Indígena. As investigações apontam que o cacique recebia propina de R$ 900 mil mensais no esquema.
Segundo o delegado Mário Sérgio Ribeiro de Oliveira, o dinheiro encontrado na caminhonete faz parte desse pagamento mensal de propina. Além de receber em espécie, o indígena também receberia depósitos em contas pertencentes a ele e a terceiros.
Segundo as investigações, o indígena contava com a ajuda do coordenador regional de Ribeirão Cascalheira da Fundação Nacional do Índio (Funai), Jussielson Gonçalves Silva, que recebia em torno de 10% por cada medição realizada. Ele foi preso preventivamente e afastado do cargo até que as investigações sejam concluídas.
Informações da decisão judicial, que teve o sigilo quebrado na manhã desta quinta-feira (17), apontam que o coordenador regional e o cacique estavam com expectativas de aumentar a receita até o ano que vem para R$ 1,5 milhão mensais.
Em uma conversa interceptada entre eles pela PF, Damião disse estar preocupado com as reuniões feitas pelo servidor com os fazendeiros da região interessados no arrendamento de terra. O coordenador então disse que ele não precisaria se preocupar, pois recebia os pecuaristas separadamente e iria fazer as mediações do pasto, pois havia locatários com grandes áreas e pagando pouco.
“É como falei pro senhor: Até ano que vem o senhor tem que tá ganhando um milhão e meio. Até ano que vem (…)”, diz um trecho da conversa.
Segundo o delegado Mario, a exploração nas terras indígenas ocorre desde ano de 2017. Porém, se intensificou quando Jussielson assumiu a coordenação regional. Quando ele assumiu o volume de locatários caiu de 35 para 15. A queda se deu pelo reajuste do preço da locação de R$ 30 para R$ 60 mensais por cabeça de gado.
“Considerados o tamanho do pasto e a quantidade de gado, a atividade de arrendamento de pasto, passou a lucrar R$ 899.000,00 por mês”, disse ele ao cacique.
Havia grupo no whatsapp entre os fazendeiros e servidores da Funai para encaminhamento dos comprovantes de pagamento do uso da área.
Operação Res Capta
A operação investiga crimes de constituição de milícia privada, corrupção ativa e passiva, porte ilegal de arma de fogo, abuso de autoridade e crimes ambientais diversos cometidos, em tese, por grupo formado por três indivíduos, um servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai), um militar da ativa da PM e um ex-policial militar, ambos do Amazonas.