Nem sempre é fácil identificar aracnídeos, mas a posição de defesa dessa espécie facilita a descoberta: apoiada sobre as patas traseiras, levanta as patas da frente para expor as presas enquanto está em frente à ameaça. Esse é um comportamento característico das armadeiras, nome popular dado a oito aranhas do gênero Phoneutria, todas encontradas no sul da América Central e na América do Sul, principalmente no Pantanal de Mato Grosso.
De acordo com o biólogo Willianilson Pessoa, a espécie do vídeo é uma Phoneutria nigriventer, que ocorre no centro-oeste, sudeste e sul do Brasil. “Ela é a espécie mais importante do gênero pela distribuição geográfica, uma vez que pode ser encontrada em grandes áreas urbanas, e pelo significado clínico”, comenta o especialista, que destaca os problemas causados pelos acidentes com a espécie.
As armadeiras esperam anoitecer para caçar invertebrados — Foto: Willianilson Pessoa/Arquivo Pessoal
“O veneno é bem nocivo, e dependendo da demora para o tratamento pode ser fatal. Pessoas com problemas de saúde podem ser mais vulneráveis em casos de acidente, mas é importante ressaltar que qualquer um que tenha se acidentado com qualquer animal peçonhento recorra imediatamente a atendimento médico”, diz.
“O fato de viver em locais escuros, inclusive no interior das casas, dentro de sapatos, baús e escondidas nos móveis pode ajudar a explicar o grande número de picadas em seres humanos, tanto em ambientes rurais quanto urbanos”, completa Willianilson.
Ao se levantar, armadeira mostra os ferrões para afastar a ameaça — Foto: Marlon Oliveira/VC
O biólogo explica que o comportamento é a única maneira de se defender das ameaças, uma vez que fica vulnerável quando está na posição de repouso. “Ao se erguer ela mostra os ferrões, conhecidos como quelíceras. Eles são curvados, como anzóis, e móveis, como os dentes das serpentes. Em posição normal ficam vulneráveis, com os ferrões escondidos”, detalha.
Noturnas, vivem escondidas em buracos e folhas, onde se camuflam muito bem — Foto: Willianilson Pessoa/Arquivo Pessoal
Conheça as armadeiras
Noturnas e muito ágeis, as armadeiras são ótimas caçadoras. “Como a maioria das aranhas, se alimentam de presas vivas, geralmente de pequenos vertebrados, como gafanhotos, baratas e grilos”, conta o biólogo, que explica os detalhes da predação.
“Existem dois tipos de predadores: os ativos, que saem para caçar, e os predadores conhecidos como ‘senta espera’, que ficam parados e esperam a presa passar por perto para capturá-la. Esses predadores gastam menos energia, não se expõem tanto, mas também comem menos. É o caso das armadeiras”, diz.
O veneno da aranha-armadeira costuma agir mais rápido que o da maioria das serpentes —
Para que a estratégia funcione, as aranhas tecem a teia no chão, não só para revestir a toca, mas também para detectar possíveis presas e ameaças. “A teia é resistente e super sensível. Ao passar por ela, as armadeiras detectam o invertebrado e atacam”.
Diferente do comportamento de defesa, na hora da predação as armadeiras não se erguem. “Elas andam na direção da presa e erguem as pernas da frente só para expor o ferrão. Em seguida injetam o veneno, que é composto por enzimas que dissolvem o alimento, ou seja, elas sugam somente o líquido”, completa.
Ancylometes sp. é frequentemente confundida com as armadeiras — Foto: Willianilson Pessoa/Arquivo Pessoal
Será que é?
Quando questionado sobre a identificação das armadeiras, Pessoa alerta sobre as semelhanças das espécies com outros aracnídeos. “Várias espécies de outros gêneros são muito parecidas, como as Ancylometes e as Trechonas. Nós, biólogos, identificamos através de pesquisas e análises das estruturas morfológicas, mas a olho nu é muito difícil. As cores e os tamanhos variam de acordo com a espécie, não há um padrão”, diz.
Além das características físicas que confundem, outras espécies também fazem teias no chão para revestir a toca e se erguem quando estão ameaçadas, como por exemplo as caranguejeiras.
As aranhas Phoneutria são caçadoras noturnas muito ágeis, de porte médio e grande — Foto: Arte/TG