Muito se fala que o cérebro humano é a grande característica responsável por nos diferenciar dos outros animais. É graças às ligações neurais dentro deste órgão que somos capazes de realizar nossas atividades rotineiras, resolver problemas e refletir sobre o mundo. Mas, afinal, quão rápidos são os nossos pensamentos?

Para responder essa pergunta, uma dupla de pesquisadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia, nos Estados Unidos, tentou estimar, em uma taxa de bits por segundo (bps), a velocidade do fluxo de informações em nossos cérebros. Sua ideia era entender a rapidez com que as pessoas realizam certas tarefas, como redigir um texto no computador, por exemplo.

Um estudo anterior havia, inclusive, utilizado este exemplo para delimitar que as pessoas digitavam, em média, 51 palavras por minuto; com uma pequena fração de indivíduos chegando à marca de 120 palavras por minuto. A pesquisa foi conduzida em 2018 na Finlândia, e analisou 136 milhões de toques feitos por 168 mil voluntários.

A partir desses dados, Jieyu Zheng e Markus Meister utilizaram um ramo da matemática conhecido como “teoria da informação” para estimar o fluxo de informações necessário para digitar, nesta produção mais recente. Assim, considerando a taxa mais elevada de 120 palavras por minuto, a equipe concluiu que o fluxo neural seria de aproximadamente 10 bps.

“Somos incrivelmente lentos”

Na comparação à velocidade da internet atingida em aparelhos tecnológicos modernos, 10 bps é muito baixo. Para transmitir um vídeo de alta definição, são exigidos cerca de 25 milhões de bps, enquanto a taxa de download média em um dispositivo móvel, no Brasil, era de aproximadamente 52,26 milhões de bps (52 Mbps) em 2023.

“Se você realmente colocar números nisso, somos incrivelmente lentos”, afirma Meister, ao jornal The New York Times.

Intrigada se os resultados seriam diferentes na execução de outras atividades, a dupla fez novos cálculos, desta vez considerando jogadores de videogame profissionais. Contudo, percebeu-se que, mesmo que eles movam os dedos mais rapidamente do que redatores, eles também têm menos teclas para escolher. Assim, na prática, a sua taxa de informação continua a ser de 10 bts.

Para confirmar se tal resultado seria fruto de alguma limitação física dos nossos corpos, os pesquisadores repetiram os experimentos agora com base em exercícios mentais que não dependem de músculos rápidos. Para tanto, eles usaram o desafio “blind speedcubing”, no qual a pessoa deve bater os olhos em um cubo mágico bagunçado e, em seguida, ser rapidamente vendada para resolver o jogo.

Em uma competição de 2023, o montador de cubo mágico profissional Tommy Cherry precisou de apenas 5,5 segundos para inspecionar seu cubo, que ele resolveu em 7,5 segundos. Com esses números em mente, eles calcularam que a taxa de informação neural de Cherry naquele episódio foi de 11,8 bps – um valor mais elevado do que a média em outras atividades, mas ainda bem abaixo das máquinas.

Por que tão lentos?

Apesar de p estudo não chegar à uma conclusão definitiva sobre por que apresentamos uma velocidade de pensamento tão lenta, Meister e Zheng sugerem que a mente pode ser ofuscada pela enxurrada de informações que assalta nossos sentidos. Eles estimaram que as milhões de células fotorreceptoras de um único olho podem transmitir cerca de 1,6 bilhão de bps. Em outras palavras, a dupla acredita que não absorvemos todas as informações que coletamos. Pelo contrário, reteríamos apenas um bit de cada 100 milhões que recebemos.

(Por Arthur Almeida)