Pela primeira vez na história, cientistas fotografaram um peixe celacanto-indonésio (Latimeria menadoensis) na natureza. O registro raro ocorreu em outubro do ano passado, por meio de um mergulho realizado na costa da Indonésia, nas Ilhas Molucas. Detalhes sobre o avistamento foram publicados em abril na revista científica Scientific Reports.

O peixe pode ser considerado um “fóssil vivo”, ou seja, pertence a uma espécie que permaneceu milhões de anos sem sofrer grandes mutações, assemelhando-se aos seus primeiros registros na história.

“Os celacantos são indiscutivelmente um dos vertebrados marinhos mais emblemáticos e importantes, evolutivamente falando”, consideram os autores do estudo, liderado por Alexis Chappuis, especialista do Centro de Pesquisa Colaborativa em Ecossistemas Aquáticos no Leste da Indonésia.

fóssil vivo” recém-fotografado é encontrado ao largo de Sulawesi e da Nova Guiné Ocidental, na Indonésia. Além dele, apenas outra espécie de celacanto é conhecida no mundo: o celacanto do Oceano Índico Ocidental (Latimeria chalumnae) encontrado no Canal de Moçambique, da África Austral às Ilhas Comores. Para proteger essa criatura rara de turistas, os pesquisadores optaram por não divulgar o local exato do avistamento, como destacou o site IFLScience.

A espécie indonésia tem sido muito menos documentada do que a africana devido à dificuldade de alcançar os habitats de recifes profundos em que vive. Acreditava-se que o celacanto tivesse sido extinto já na época em que os dinossauros morreram, há cerca de 65 milhões de anos. Porém, para a surpresa da comunidade científica, o Latimeria chalumnae foi capturado em 1938 por pescadores na costa da África do Sul.

Por sua vez, o Latimeria menadoensis permaneceu desconhecido até que cientistas o encontraram um em um mercado de peixes em 1997. Até então, seus únicos avistamentos relatados vieram de submarinos pilotados remotamente.

Primeiro registro fotográfico

Finalmente, em 2024, os autores do novo estudo encontraram um exemplar do peixe indonésio com 1,1 metro de comprimento a uma profundidade de cerca de 144 metros. “Curiosamente, ele estava a céu aberto, não dentro de uma caverna ou sob uma saliência, que há muito tempo são considerados os esconderijos diurnos dos celacantos”, escrevem os pesquisadores no estudo.

Perfil esquerdo do celacanto, com seu padrão único de pontos brancos — Foto: © Alexis Chappuis
Perfil esquerdo do celacanto, com seu padrão único de pontos brancos — Foto: © Alexis Chappuis

De acordo com os especialistas, o animal estava com a nadadeira dorsal completamente ereta e a manteve assim o tempo todo, o que pode estar associado a um estado ativo ou potencialmente a um comportamento defensivo natural.

Um dia depois, o mesmo celacanto foi avistado no mesmo local, de novo, com a nadadeira ereta. “De fato, graças às fotos e ao padrão de cores único de cada celacanto, foi possível confirmar que se tratava do mesmo indivíduo”, explicam os autores.

Fotografias in situ do celacanto encontrado em dois dias consecutivos em Molucas do Norte, Indonésia. A primeira foto (à esquerda) foi tirada a 144 m, no dia 1, e a segunda foto (à direita) a 134 m, no dia 2. O padrão de cores idêntico de pontos brancos lateralmente no peixe em ambas as imagens confirma que se trata do mesmo indivíduo — Foto: © Alexis Chappuis
Fotografias in situ do celacanto encontrado em dois dias consecutivos em Molucas do Norte, Indonésia. A primeira foto (à esquerda) foi tirada a 144 m, no dia 1, e a segunda foto (à direita) a 134 m, no dia 2. O padrão de cores idêntico de pontos brancos lateralmente no peixe em ambas as imagens confirma que se trata do mesmo indivíduo — Foto: © Alexis Chappuis

Os pesquisadores consideram que ainda é cedo para definir se uma nova população de celacantos-indonésios está vivendo na área. Porém, como o arquipélago das Molucas está localizado entre Sulawesi e a Nova Guiné Ocidental, eles acreditam ser improvável que apenas um indivíduo viva nessa região tão ampla.

“Esta é uma boa notícia para a conservação deste vertebrado altamente vulnerável e apoia a hipótese de que os celacantos indonésios podem apresentar uma distribuição mais extensa do que se pensava inicialmente”, conclui a equipe.

Os especialistas esperam que a descoberta incentive as autoridades locais e nacionais a aumentar os esforços de conservação nas Ilhas Molucas. “Hoje, todas as populações conhecidas de celacantos estão sob pressão antropogênica globalmente, e novas ameaças podem surgir em um futuro próximo com o desenvolvimento de atividades turísticas de celacantos potencialmente lucrativas e não regulamentadas”, consideram os autores.

(Por Redação Galileu)