Para uma capital que há alguns anos se notabilizou na mídia como uma das sedes da Copa do Mundo e vem emergindo no cenário esportivo nacional, Cuiabá já merece, há tempos, ter o seu próprio autódromo.  Na terra que se intitula como capital do Agronegócio, rica e promissora como um dos celeiros deste planeta, há também uma vocação pelo automobilismo e esse fato não deve ser ignorado. É inaceitável que por razões políticas ainda não tenhamos por aqui uma pista apropriada, enquanto dezenas de talentos deixam estes rincões para se aventurarem em outras capitais.

Todos sabem que a luta por um autódromo em Mato Grosso não é de hoje. Há pelo menos 10 anos, alguns grupos de amantes deste esporte vêm tentando, sem sucesso, apoio do Governo do Estado para a instalação de um circuito por estas bandas. Também sou um admirador do automobilismo que, se tivesse influência iria entrar nessa briga.

Me inspirou a luta do apresentador de TV, Sandro Demartino que por anos tentou mobilizar a categoria para a implantação de um autódromo em Cuiabá ou Várzea Grande. Devido à falta de apoio, acabou ficando sozinho e encerrou sua empreitada reclamando da interferência de um grupo político do próprio Estado, ligado ao agronegócio que teria ‘dificultado os planos dos desportivas, empurrado por interesses próprios’.

A pedra fundamental já havia sido lançada e o embrião estava pronto com, inclusive, projeto para implantação de um circuito em Várzea Grande. Uma placa de lançamento chegou a ser confeccionada.

Projeto do autódromo não é de hoje. Por falta de apoio político, ficou no tempo

Penso que a construção de um autódromo provocaria uma revolução no esporte em Mato Grosso. Existem por aqui muitos  talentos com carros de 300 e 400 cavalos tirando racha dentro da cidade e na estrada de Chapada. E até esses pilotos mesmos entendem que não é certo. Isso é decorrente da falta de uma pista própria para mostrar o seu valor. São garotos loucos por corrida e que até queriam estar fazendo a coisa politicamente correta, no entanto, reclamam da inexistência de um lugar para andar, quando Campo Grande tem pista e muitas capitais têm.

Observe que Cuiabá se transformou em uma potência onde se vende, talvez, a maior frota de caminhões do país. E aqui não há lugar para fazer uma Fórmula Truck. Imagine quantas mil pessoas viriam para cá se tivesse aqui um evento de caminhões correndo? E quantos jovens seriam tirados das ruas?

Os esportes de velocidade, com a exceção do autocross e fórmula turismo que correm no chão batido, sofrem com a carência de um circuito para a prática desse esporte em Mato Grosso. Sim, porque há muitos pilotos do asfalto aqui. O arrancadão é uma dessas modalidades. São inúmeros pilotos que para praticar, precisam sair. Muitos estão indo para Campo Grande.

Há mais de uma década, Campo Grande conta com seu autódromo e polariza as atenções no Centro-Oeste. Pilotos de MT ainda sonham com uma pista no Estado

Outro esporte de velocidade que carece de um circuito é o motociclismo. Muitos deles pegam suas motos de 600cc, 900cc e 1.000cc e vão para os autódromos.

Hoje, quando se fala em esporte, só se pensa em futebol. Mas, não é só isso. Se houvesse um autódromo por aqui, teríamos a presença de milhares de pessoas para assistir as provas aos finais de semana. Talvez por falta de incentivo na região, o automobilismo vai continuar sendo relegado e adormecido com os inúmeros talentos que acabam sendo desperdiçados por falta de um local para praticar.

É preciso massificar a ideia de que um autódromo em Mato Grosso iria gerar negócios interessantes e traria retorno econômico para várias categorias e, o que é mais importante: promovendo a inclusão para jovens que hoje não tem uma oportunidade para mostrar seu valor e colocar Mato Grosso no mapa do automobilismo.

Se falta apoio, é necessário mobilização. Mas, se o problema é interferência, está faltando profissionalismo, coragem e união dos desportistas regionais para acabar com essa inércia. Aqui em Mato Grosso temos duas federações de automobilismo. É curioso que não haja concorrência por esse ‘filho’ e tudo parece muito quieto sob a zona de conforto daqueles que se acostumaram a ver as corridas de gaiola e parecem ter medo de colocar asfalto. Ou é isso, ou é muita servidão aos empresários que tomaram as rédeas desse esporte. Já passou da hora!

*JULIANO NARDEZ   é Empresário em Cuiabá
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