Como indica seu nome, o pássaro martim-pescador de Guam (Todiramphus cinnamominu) é natural de Guam, uma ilha no Oceano Pacífico. Só que, devido à introdução de uma espécie invasora no local, a ave foi considerada extinta no fim da década de 1980. A boa notícia é que a espécie conseguiu se restabelecer em Atol de Palmyra, arquipélago do Pacífico que pertence aos Estados Unidos.
Existiam grandes populações desses pássaros em Guam, território insular dos Estados Unidos. Porém, a espécie foi aniquilada com a introdução da cobra-marrom-arborícola (Boiga irregularis) no local. Em 1988, a ave martim-pescador foi declarada extinta.
Antes de sumirem completamente da natureza, especialista conseguiram capturar 28 aves e as mantiveram em cativeiro. Em setembro de 2024, nove espécies foram soltas na natureza, sendo elas, cinco machos e quatro fêmeas, em Atol de Palmyra — que fica a 5.800 km de distância de Guam.
O Atol de Palmyra foi escolhido pelos biólogos por consideraram o local seguro e protegido. O conjunto de ilhas está nos limites do Refúgio Nacional de Vida Selvagem do Atol de Palmyra, a área foi criada para proteger habitats e ecossistemas marinhos ameaçados — incluindo a remoção de espécies invasoras.
“Essas aves foram criadas em cativeiro até o ano passado”, disse Martin Kastner, biólogo da Nature Conservancy e a Sociedade Zoológica de Londres envolvido no projeto de reintrodução do martim-pescador de Guam, em entrevista à Rádio Pública de Guam. “Agora, elas estão até botando ovos por conta própria. É um avanço incrível.”
A reintrodução dos pássaros na natureza foi bem sucedida, pois eles começaram a se reproduzir. No dia 31 de março, Kastner e sua equipe encontraram um ninho a 3,6 metros do chão, contendo um ovo do casal de pássaros chamados Tutuhan e Hinanao. Após 37 anos, esse seria o primeiro ovo selvagem da espécie.
A equipe utilizou uma câmera endoscópica para observar o ninho e Kastner descreveu o achado como “o formato perfeito de um ovo branco logo abaixo da borda do orifício de entrada”, em seu Instagram. Em uma das fotos publicadas, aparecem os ovos da espécie. Veja a publicação:
“É difícil descrever a sensação naquele momento, quando décadas de expectativa e esforço de tratadores, biólogos, administradores e, principalmente, do povo de Guam, se fundem em um instante de alegria e esperança”, revelou Kastner, em entrevista à Rádio Pública de Guam. “Já vi algumas coisas especiais na minha vida, mas esta pode ficar para sempre no topo da lista.”
A equipe quer continuar observando a quantidade de ovos que vão surgir e como eles vão evoluir. No entanto, as aves soltas na natureza possuem apenas 9 meses de idade e em cativeiro, elas só conseguiram colocar ovos férteis quando tinham 11 meses.
Os biólogos têm o objetivo de aumentar o número de casais reprodutores. Os planos envolvem soltar mais nove exemplares de martim-pescador nas Ilhas Menores, em outono.
Posteriormente, a equipe quer reintroduzir a espécie em Guam — onde a espécie é nativa. No entanto, primeiro seria necessário diminuir a população das cobras responsáveis pela extinção das aves. “A missão número um precisa ser: vamos trazê-los de volta para Guam. Não há outro objetivo final além desse nesse projeto”, explica Kastner.
A ave martim-pescador de Guam
No corpo do macho, as penas possuem um tom de marrom e nas fêmeas, as penas no peito são brancas, mas em ambos os gêneros, as caudas são azuis. Os indígenas Chamorro chamavam esse pássaro de sihek – daí o nome do projeto, “Sihek Recovery Project”.
As aves se alimentam de lagartos, lagartixas, aranhas, besouros e caranguejos. Para caçar esses bichos, o martim-pescador espera pacientemente no galho até predar suas presas no momento certo com os seus longos e grossos bicos. Apesar da sua aparência inofensiva, esses pássaros são agressivos ao defender o habitat em que vivem.
(Por Tainá Rodrigues)