Tornou-se impraticável exercitar análise econômica do Brasil e de Mato Grosso sem considerar a situação da pandemia causada pela covid-19. Completado um ano do início da crise sanitária, foram registradas relevantes mudanças nesse período, como o desenvolvimento de várias vacinas e maior conhecimento médico-científico no tratamento dos contaminados pela terrível doença. Esses avanços não alteraram a constatação de que a crise sanitária continua sendo o fator preponderante que dita o ritmo da atividade econômica, emprego e renda.
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A velocidade da vacinação tornou-se a principal variável que determinará o momento do recrudescimento da doença e a retomada da atividade econômica. Até aqui, passados os três primeiros meses do ano, a pandemia, está levando ampla vantagem.
Como resultado, devemos ter os dois primeiros trimestres praticamente perdidos, com a economia estagnada e a recuperação do crescimento reaparecendo na segunda metade do ano. A desaceleração dos dois primeirostrimestres anula os efeitos do crescimento verificado no últimosemestre do ano passado.
O aumento do número de contaminações, de mortes e ritmo lento das vacinações elevamas incertezas sobre a intensidade e extensão da nova onda. Essas incertezas, por sua vez, reduzem o compasso da reativação das atividades produtivas, especialmente em setores como serviços prestados às famílias, turismo, eventos, setor de transportes e o comércio tradicional, que necessitam de mobilidade das pessoas para o seu bom desempenho.
Esses fatores sugerem um ritmo fraco da atividade econômica até o mês de junho. Com esse cenário e as informações já disponíveis, a maioria das consultorias econômicas projeta queda de 0,5% no primeiro trimestre e 0,5% no segundo trimestre.
Para a segunda metade do ano, considerando que teremos aceleração das vacinações e reabertura gradual das atividades produtivas, a expectativa é de crescimento de 3,0% do PIB em 2021.
Esse cenário de crescimento já leva em consideração o pagamento da segunda fase do auxílio emergencial, que se iniciará em abril, em montante de R$ 44 bilhões e a antecipação do 13º salário dos aposentados e pensionistas em abril e maio, que injetará mais R$ 50 bilhões na economia, amortecendo um pouco a queda de renda das famílias fragilizadas pela pandemia.
Foi considerada, também, a retomada do crescimento das principais economias desenvolvidas, o que vai contribuir para manter em alta os preços das commodities agrícolas (açúcar, soja, milho, carnes) e metálicas ( petróleo e ferro), favorecendo as exportações brasileiras.
Os mercados apresentam comportamento instável.Os agentes econômicos olham com preocupação a demora da vacinação, pressão inflacionária, volatilidade da bolsa de valores, aumento da taxa de juros, câmbio elevado e insegurança sobre o controle fiscal.
Especialmente depois que o congresso nacional aprovou o orçamento federal que mais parece um frankestein ou um roteiro de filme de terror. E a equipe econômica não teve força ou capacidade de diálogo para evitar.
O cenário da economia global apresenta-se bastante promissor, indicando crescimento robusto pela retomada das principais economias, pelos fortes programas de estímulos fiscais da união europeia, Reino Unido e Estados Unidos e o forte crescimento da economia chinesa, mantendo elevada a demanda de commodities.
O sucesso da vacinação nos EUA e o programa de estímulos fiscais de US$ 3,9 trilhões, anunciado pelo presidente Joe Biden, que serão investidos na infraestrutura econômica do país, apoio às empresas, emprego e renda,atuarão como um motor propulsor do crescimento mundial.
A economia de Mato Grosso terá crescimento bem maior que o PIB nacional. Resultado da boa performance do setor agropecuário que colherá outra safra recorde de grãos e se beneficiará da forte demanda internacional e preços elevados, irrigando liquidez e ganhos na cadeia produtiva do setor.
Os programas de transferência de renda dos governos estadual e federal e dos investimentos em infraestrutura econômica e social que a administração estadual está implementando ajudarão a alavancar o crescimento estadual.
A ameaça à economia está na falta de sinergia administrativa entre governo estadual, parlamento estadual e administrações municipais no combate à crise de saúde.
Falha que, não sendo bem solucionada, pode atrapalhar o desempenho econômico. Deficiência que a sensatez dos bons líderes pode resolver numa produtiva e objetiva rodada de negociações.
*VIVALDO LOPES DIAS é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP
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