Patrícia Rehder Galvão, apesar de ser chamada na infância de Zazá, recebeu o apelido carinhoso ‘Pagu’ do poeta Raul Bopp. Foi homenageada por Rita Lee e Zélia Duncan na música que leva como nome o seu apelido: “Mexo, remexo na inquisição/ Só quem já morreu na fogueira/ Sabe o que é ser carvão”.
Nascida em 09 de julho de 1910, em São Paulo, e tendo falecido em 12 de dezembro de 1962, foi escritora, poeta, tradutora, diretora de cinema, desenhista, cartunista, jornalista e militante política. Aos 12 anos, mesmo não participando da Semana da Arte Moderna como artista, esteve no evento. Poucos anos mais tarde, ficou conhecida como representante importante do movimento modernista brasileiro. Aos 18 anos já integrava o movimento antropofágico, constante em uma das vertentes do modernismo. É dela: “Sou a única atriz. É difícil para uma mulher interpretar uma peça toda. A peça é a minha vida, meu ato solo.”
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Sem ‘obedecer’ a regras postas e impostas às mulheres, principalmente da época, Pagu foi considerada extravagante ao defender a pauta feminista. Suas roupas, sua forma de agir, em nada condiziam com os padrões mundanos ‘esperados’ pelo ‘ser mulher’. Cabelos curtos e uso de palavrões eram comuns por ela. Se sentia ser humano, como todo e qualquer, independente do gênero. Viveu a vida intensamente, se destoando da família tradicional e abastada a que pertencia. Aos 15 anos já estava empregada em um jornal como redatora, onde foi protagonista de críticas contumazes ao governo, por conta da injustiça social que vislumbrava. Usou alguns pseudônimos, o que era comum para escritores e escritoras, como Patsy e Mara Lobo. Verbalizou: “É uma necessidade conversar com os poetas. E se os poetas morrerem, provocarei os mortos, as flores do mal que estão na minha estante.”
Ativista política, ingressou no PCB, tendo sido presa política em 1931, conhecendo a tortura da ditadura. Mesmo sendo privilegiada pela sua condição financeira, não deixou de lutar pelos direitos das pessoas menos favorecidas. A sua primeira participação em um protesto foi no comandado pelos estivadores de Santos, contra o governo provisório de Getúlio Vargas. Disse: “Esse crime, o crime sagrado de ser divergente, nós o cometeremos sempre.”
Durante os cinco anos de prisão, a sua força em escrever e se dedicar às artes aumentou, ganhando criatividade e maior capacidade artística. Mais tarde, após ter deixado a prisão, passou a se dedicar ao socialismo trotskista, fazendo parte da redação do jornal ‘Vanguarda Socialista’. E foi nesta época que manifestou a sua maior vontade em enxergar a liberdade: “Tenho várias cicatrizes, mas estou viva/ Abram a janela/ Desabotoem minha blusa/ Eu quero respirar”.
Voltando à musicalidade em sua homenagem, apenas quem se mexeu, sabe o que é virar pó, carvão. As muitas dores físicas e da alma acompanharam a trajetória da escritora. Como hedonista em essência, buscava ilusões em seus sonhos. No século XXI, as mulheres tem sido movidas por muitas aspirações em busca de razões para se chegar à concretude em dias melhores. Mesmo a sua passagem tendo acontecido na década de 60, ainda hoje ela tem muito a dizer. “O escritor da aventura não teme a aprovação ou reprovação dos leitores. É-lhe indiferente que haja ou não da parte dos críticos, uma compreensão suficiente. O que lhe importa é abrir novos caminhos à arte, é enriquecer a literatura com germens que venham a fecundar a literatura dos próximos cem anos.”
Rita Lee e Zélia Duncan sobre ela: “Sou rainha do meu tanque/ Sou Pagu indignada no palanque.”
*ROSANA LEITE ANTUNES DE BARROS é defensora pública do Estado de Mato Grosso.
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