A Polícia Civil de Mato Grosso abriu nesta sexta-feira (21) uma investigação para apurar se o padre Ramiro José Perotto, de Carlinda, a 774 km de Cuiabá, cometeu apologia ao crime de estupro ao fazer comentários em uma rede social.
O religioso comentou que a menina capixaba de 10 anos que ficou grávida após ter sido estuprada pelo tio teria “compactuado com o estupro”. Ela teve a gravidez interrompida nesta segunda-feira (17), em Pernambuco, após autorização judicial. O post do religioso foi publicado no dia seguinte.
Na abertura do Termo Circunstanciado de Ocorrência (TC0), o delegado responsável pelo caso, Pablo Bonifácio Carneiro, pediu cópias de uma entrevista que o padre concedeu à uma televisão, além da ficha de antecedentes criminais e possíveis boletins de ocorrência contra ele.
O padre também será intimado a prestar esclarecimentos à Polícia Civil sobre as mensagens.
Além da Polícia Civil, foi aberto outro procedimento de investigação no Ministério Público de Mato Grosso.
Um ofício foi encaminhado à igreja para que informe as providências administrativas de apuração da conduta do pároco.
O MP também pediu instauração de procedimento investigativo criminal, para averiguar possível cometimento de crime de apologia ao estupro, na modalidade de incentivo.
Repercussão
Depois da repercussão do comentário, o padre divulgou na quinta-feira (20) em seu perfil no Facebook uma nota na qual escreveu: “Àqueles que se sentiram ofendidos, só resta meu pedido de perdão” (leia mais abaixo). Ele também excluiu a conta na rede social.
O padre havia compartilhado uma mensagem do presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Walmor Oliveira de Azevedo, lamentou a interrupção da gravidez da menina.
Diversas pessoas comentaram o post de Perotto, algumas criticando. Uma delas disse que “obrigar uma criança vítima de estupro a seguir com a gravidez era repugnante” e falou em hipocrisia.
Em resposta ao comentário, o padre disse que duvidava que uma criança abusada por vários anos deixaria de comentar o caso. “Aposto, minha cara. Ela compactuou com tudo e agora é menina inocente. Gosta de dar então assuma as consequências”, escreveu.
Mais tarde, ele postou uma mensagem dizendo que iria sair do Facebook. “Você acredita que a menina é inocente? Acredita em Papai Noel também. Seis anos, por quatro anos, e não disse nada. Claro que estava gostando”, afirmou no post antes de excluir a conta da rede social.
Na nota divulgada nesta quinta, o padre disse que assume a responsabilidade pelas postagens e que não quer condenar e nem julgar ninguém.
“Assumo a responsabilidade de ter proferido palavras desagradáveis, e justifico que compartilho da defesa da vida, nunca condenar e tirar julgamentos. Não foi minha intenção proferir palavras de baixo calão, as quais não comungam com minha fé e minha crença na pessoa humana. Àqueles que se sentiram ofendidos, só resta meu pedido de perdão”, escreveu no comunicado.
No trecho seguinte, ele justificou a exclusão da conta na rede social: “Excluí meu Facebook por não querer mais ofender e ser ofendido. Precisamos ser fraterno. Sempre preguei isso. As vezes que não fui, que Deus me perdoe. Lutemos pela vida, ela é dom de Deus”.